Por Edú Wañgo:
A província do Bié tem registado um crescendo de
violência durante a campanha eleitoral.
O soba Arão Massanga Simão sofreu, a 21 de Agosto,
um golpe de catana na cabeça e agressões corporais por ter permitido o hastear
da bandeira da UNITA, na aldeia de Muyumba, sob sua jurisdição.
Situada na comuna de Sachenomuna, município do
Cuemba, a aldeia tem mais de 6,000 habitantes, metade dos quais são eleitores
registados.
“Por volta das 14h00, quatro agentes da Polícia
Nacional, armados com PKMs, foram à minha casa buscar-me. Eu não reagi. Um
deles atingiu-me com uma coronhada na cabeça”, disse o soba.
Durante o trajecto da sua residência para o jango
da polícia, numa caminhada de um quarto de hora, o soba contou ter sido
repetidamente espancado com porretes pelos agentes policiais, e de ter sido
atacado com um golpe de catana, na cabeça.
“Todo o povo foi chamado a assistir à minha tortura
no jango da polícia. O administrador da comuna e secretário do MPLA, Rafael
Boano, o seu adjunto e o comandante Adelino, da polícia, estiveram presentes”,
informou a autoridade tradicional.
O soba Muyomba revelou ter recebido, do
administrador comunal e secretário do MPLA e do regedor Pedro Sehulo, “a
promessa de 10,000 kwanzas (US $100) para não dizer nada sobre a tortura”.
Passados dois dias, a 23 de Agosto, o dispositivo policial
da comuna de Sachenomuna foi reforçado com a chegada de um camião de marca
Kamaz, com efectivos militares e mais agentes da polícia.
No mesmo dia, “os militantes do MPLA, transportados
em duas carrinhas, vieram retirar todas as nossas bandeiras, escoltados pela
polícia”, denunciou o secretário da UNITA para a mobilização, Lucas Muxito (na
foto).
O acto foi seguido de confrontos entre militantes
do MPLA e da UNITA, com catanas e pedras, tendo sido registados 10 feridos do
lado da oposição, três dos quais tiveram de ser hospitalizados com ferimentos
graves na cabeça.
Por outro lado, um dos responsáveis da UNITA,
Felipe Nelson Muhongo, referiu que agentes da Polícia Nacional cercaram a sua
residência e um deles o atingiu com uma catana no lado direito da cabeça. Teve
de ser evacuado para a cidade do Kuito, a capital da província do Bié.
“A polícia intimidou o povo com armas. Os agentes
diziam que aqueles que votarem na UNITA serão mortos. O povo entrou em pânico”,
denunciou Felipe Muhongo.
O secretário para a mobilização da UNITA em
Sachinemuno, Lucas Muxito, também foi atingido por um golpe de catana na
cabeça. No hospital, foi suturado com dez pontos. O político referiu ter sido
alvo de espancamento por ter encabeçado o núcleo da UNITA que içou as
bandeiras nas aldeias de Muyomba e Samuhongo.
Durante os incidentes, agentes da Polícia Nacional
efectuaram vários disparos para dispersar os populares.
A administradora municipal do Cuemba e primeira
secretária do MPLA, Laurinda Kapokolola, escusou-se a entrar em detalhes sobre
os incidentes. Afirmou apenas tratar-se de “uma dinâmica natural do processo de
campanha” e aventou a possibilidade de fazer em breve um pronunciamento
público.
Por seu turno, o porta-voz do comando provincial da
Polícia Nacional, superintendente-chefe António Hossi, reiteirou que a
intervenção dos agentes policiais foi apenas no sentido “de repor a ordem,
quando militantes de ambos partidos estavam em contendas”.
No entanto, o secretário provincial da UNITA no
Bié, Eliote Ekolelo, afirmou que o seu partido vai apresentar, à Procuradoria
Provincial, uma queixa-crime contra as autoridades administrativas nas zonas
onde têm ocorrido casos de intolerância política.
Queima de Casas
O município de Camacupa também foi afectado pela
violência causada pela campanha eleitoral. Nos dias 19 e 20 de Agosto,
militantes do MPLA incendiaram, no período nocturno, um total de oito
residências pertencentes a destacados militantes da UNITA, identificados como
os mais activos durante os confrontos entre os referidos adversários.
Na comuna do Mumbuê, município do Chitembo, a
colocação de bandeiras da UNITA e a mobilização de eleitorado por este partido,
causou confrontos com militantes do MPLA, a 17 de Agosto. Ambos os lados
muniram-se de catanas, pedras e outros objectos contundentes. Na mesma noite,
sete residências de destacados militantes da UNITA, na comuna, foram
incendiadas por militantes do MPLA.
Sem comentários:
Enviar um comentário