António Capalandanda
Efectivos da Polícia Nacional (PN), à
paisana, detiveram ontem, 16 de Agosto, no município do Cubal, província de
Benguela, um destacado militante da UNITA, António Hekele, de 46 anos, mais
conhecido por Tchipossa.
Ao amanhecer, dez agentes policiais,
comandados pelo chefe da direcção municipal de investigação criminal do Cubal,
Vitó, participaram da operação.
“Espancaram-me na minha residência, com uma
bengala. Não foi porrada de brincadeira, foi mesmo porrada a sério. Primeiro
atingiram-me os braços, para eu não ter força e tentar defender-me”, contou o
cidadão, após a sua soltura.
Tchipossa explicou como os agentes
“algemaram-me, meteram as armas entre os bancos do carro, deitaram-me por cima
das armas e puseram as botas deles por cima de mim, a pisarem-me. Viajámos
assim os 240 kilómetros do Cubal a Benguela”.
Ao tentar reclamar sobre o tratamento a que
foi submetido, antes do início da viagem, o militante da UNITA disse ter
piorado a sua situação. “Um agente enfiou-me a minha camisa na boca para eu não
falar mais. Nem a um animal devemos tratar assim”, disse.
Vicente Nogueira, do gabinete de
Documentação, Análise e Informação da PN, disse ao Maka Angola que
o Ministério Público acusou Tchipossa de crimes de ofensas corporais contra
agentes policiais, durante uma luta campal entre militantes do MPLA e da UNITA,
a 12 de Julho passado, na comuna da Capupa, município do Cubal.
Segundo várias testemunhas, os confrontos
tiveram início quando militantes do MPLA tentaram impedir a realização de um
comício da UNITA. O governador provincial de Benguela, general Armando da Cruz
Neto, teve de intervir pessoalmente para resolver o conflito. Entre as medidas
tomadas, o governo provincial fez deslocar efectivos da Polícia de Intervenção
Rápida (PIR) à Capupa para assegurar a realização do evento, a 14 de Julho, e
manter a ordem pública.
Vicente Nogueira disse que durante os
confrontos, os militantes da UNITA espancaram o secretário de um soba e fizeram
reféns dois agentes da PN. A acção foi atribuída a Tchipossa.
Em Benguela, o detido permaneceu apenas dez
minutos na cela. “Eu expliquei que quem defendeu os tais agentes fui eu. Eles
infiltraram-se no grupo de militantes do MPLA que nos veio atacar. Foram
capturados e fui eu quem os protegi para não serem agredidos pelos nossos
militantes até que os entregámos ao comandante da polícia”, afirmou Tchipossa.O
militante da UNITA desafiou os agentes em causa a refutar as suas afirmações na
sua presença, mas não obteve resposta. Após a intervenção da direcção do seu
partido foi mandado em liberdade.
A secretária municipal da UNITA no Cubal,
Luciana Rafael, condenou a prisão do Tchipossa, alegando que os militantes do
seu partido agiram em legítima defesa. Luciana Rafael aproveitou a ocasião para
denunciar, a seu ver, “a crescente onda de intolêrancia política no Cubal,
durante a fase de campanha eleitoral”.
Segundo a dirigente da UNITA, a 15 de Agosto,
sete membros do MPLA, queimaram a motorizada de um membro da juventude da UNITA
(JURA), Mecias, enquanto este se fazia presente numa reunião entre o secretário
municipal da Jura, Mário César Katimba, e o administrador comunal de Yambala,
João Ngumbe.
“Os nossos membros foram comunicar ao
administrador que a UNITA iniciaria a sua campanha de porta-a-porta naquela
localidade”, sublinhou Luciana Rafael.
“Enquanto conversavam, de forma amena, na
administração municipal, o grupo do MPLA foi à administração e incendiou a
primeira motorizada, sob o olhar de cerca de seis agentes da polícia. O
administrador Ngumbe, que viu o acto, teve de intervir para impedir a queima da
segunda motorizada”, contou a dirigente da UNITA.
Luciana Rafael recebeu garantias do
administrador, no sentido da autoridade local adquirir uma nova motorizada para
indemnizar o lesado. Uma fonte da administração local, que preferiu o
anonimato, exprimiu o descontentamento do administrador sobre o acto de
vandalismo dos militantes do seu partido, “pois o acto o comprometia porque os
militantes do MPLA queimaram a motorizada na sua presença”.
Entre os atacantes foram identificados também
o 2º secretário comunal do MPLA na Yambala, conhecido apenas por Graciano, e o
soba Adelino Muange, entre outros membros do comité local.
O Caso Tchipossa
O ex-militar da UNITA, que ingressou na
guerrilha com a tenra idade de 13 anos, tem antecedentes no seu relacionamento
com as autoridades.
Na manhã de 20 de Oututubro de 2011, oito
agentes policiais e quatro soldados acompanharam o investigador Osvaldo à sua
casa para o prender. Tchipossa resistiu ao acto de detenção, empunhando uma
catana, segundo relato seu e de testemunhas locais, e foi alvo de quatro
disparos que não o atingiram. “Durante toda a minha vida na guerra, nunca fui
atigindo por uma bala e não é em tempo de paz que serei morto por uma bala”,
disse o militante da UNITA. “Eles fizeram quatro disparos, dois para o peito e
dois para as pernas, mas, felizmente, não me atingiram”, disse Tchipossa.
Nessa altura, conforme seu depoimento, pendia
sobre si uma queixa dos sobas afectos ao MPLA que o acusavam de ser uma ameaça
devido ao seu passado de comando “anti-bala”. Ao longo das guerras em Angola,
criaram-se mitos sobre um suposto poder mágico que blindava soldados,
tornando-os a prova de balas.
“Os sobas foram queixar ao administrador
municipal do Cubal, e exigiram a minha prisão durante a campanha eleitoral,
para eles estarem à vontade, ou abandonavam a área”, enfatizou Tchipossa.
“Sou acusado de dar força às pessoas para se
manterem firmes na UNITA. É um problema político ou é algo maior que o próprio
MPLA não consegue explicar”, adiantou ainda.
O ex-comando afirmou ter apresentado queixa à
Procuradoria Provincial de Benguela, a 25 de Outubro de 2011, contra o que
considerou ser uma tentativa de rapto. Contou ter recebido garantias, do
Procurador Provincial, de que nada lhe aconteceria. Ao sair da Procuradoria foi
imobilizado por um forte dispositivo policial que o transportou para uma
unidade prisional. Após cerca de meia hora de cárcere foi libertado, por
intervenção do secretariado provincial da UNITA.
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