quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Porquê Guebuza odeia Facebook?



“O Facebook e o Twitter têm o potencial de se transformar em espaços geradores de representações, fábricas de sonhos inalcançáveis e de infinitas miragens e expectativas que podem levar à secundarização da cultura de trabalho, promovendo o espírito de mão estendida”, Armando Guebuza, Presidente da República, Chefe do Governo de Moçambique e presidente do Partido Frelimo

Maputo (Canalmoz) - O chefe de Estado moçambicano, Armando Emílio Guebuza, tem uma aversão assumida às redes sociais, nomeadamente o Facebook, que é a maior rede social usada em Moçambique.
Há poucos meses, Guebuza discursando na sessão do Comité Central da OJM, lançou fortes ataques contra os utilizadores da rede social Facebook, apesar dele também possuir uma página naquela rede que em todo o mundo se estima que tem mais de 800 milhões de utilizadores.
“O Facebook e o Twitter têm o potencial de se transformar em espaços geradores de representações, fábricas de sonhos inalcançáveis e de infinitas miragens e expectativas que podem levar à secundarização da cultura de trabalho, promovendo o espírito de mão estendida”, disse na ocasião o chefe de Estado moçambicano que é simultaneamente chefe do Governo e presidente do partido Frelimo.
O chefe de Estado tem motivos de sobra para ter aversão por esta rede social, porque efectivamente são jovens os seus principais utilizadores, que por sinal são adversos a seguir políticas impostas à força.

Quem usa Facebook em Moçambique

O Facebook é usado em Moçambique um pouco por todas as pessoas. Mas os utilizadores mais activos são jovens de classe média e com visão intelectual. São pessoas com formação superior, na sua maioria, que discutem de uma forma profunda assuntos relevantes do país, desde económicos, sociais e políticos.
No Facebook fazem-se revelações de factos históricos comprovados por documentos.
No Facebook, jovens moçambicanos encontram-se com jovens de diferentes países onde discutem ideias sem censura, sem restrições, sem custos elevados.
No Facebook, moçambicanos com experiência e conhecimento comprovado, vivendo no exterior por diversas razões, discutem ideias de forma aberta com os moçambicanos que estão no país.
Alguns documentos e imagens que mostramos neste artigo foram extraídos do Facebook e o seu conteúdo e valor são de preocupar qualquer líder de um regime que adoptou a mentira e falsidade como modelo para manter o povo a que pertence, desinformado.
Aliás, a lição já foi aprendida a partir da chamada Primavera Árabe, onde o Facebook foi um dos principais motores usado pelos jovens para se rebelar contra os regimes ditatoriais. Foi assim na Tunísia, Egipto, Líbia… Em todos eles, os regimes colapsaram.
Importa referir que o próprio cidadão Armando Guebuza é utilizador do Facebook, como o são muitos estadistas um pouco por todo o mundo. Apesar de não gostar desta rede social, Guebuza possui uma conta no Facebook, com 5.073 seguidores até o dia 21 Agosto de 2012. A página do estadista moçambicano geralmente anda desactualizada. Só escreve assuntos previamente apresentados à sociedade seja em discursos ou em despachos presidenciais. Por exemplo, até à terça-feira desta semana, a página do chefe de Estado não tinha nenhuma actualização por ele escrita, nos seis meses deste ano. Só estavam lá mensagens de cidadãos diversos que escreveram para o chefe de Estado apresentando diversas questões, mas sem resposta.

  Desmontada mais uma grande mentira da Frelimo  
Declaração da fundação da Frelimo em Acra publicada no Facebook

O documento revela o verdadeiro local, a verdadeira data e os verdadeiros fundadores da FRELIMO e está devidamente assinado
Um jovem moçambicano a viver nos Estados Unidos, de nome Miller Matine, publicou há semanas no Facebook, um documento autêntico que se não deita abaixo toda a versão do regime sobre a fundação da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), pelo menos cimenta as dúvidas que existem sobre a história oficial desta organização que está no poder desde a Independência Nacional.
O documento é a declaração da fundação da FRELIMO em Acra, capital de Ghana, no dia 02 de Fevereiro de 1962. De três parágrafos, o documento é assinado pelos representantes da MANU e UDENAMO, nomeadamente: Mateus Michangi Mole (presidente da MANU); Lourenço Milinga (secretário Administrativo da MANU); Hlomulo Chitofo Guambe (Presidente da UDENAMO) e; Calvino Zaqueu Maxayeye (Secretário Nacional da UDENAMO).
Nos três parágrafos deste documento escrito lê-se o seguinte:
“No final da conferência dos combatentes pela libertação em Acra, os delegados das organizações nacionais de libertação moçambicana, nomeadamente União Nacional Democrática de Moçambique UDENAMO, União Nacional Africana de Moçambique, (MANU), encontraram-se para discutir o objectivo da união das duas organizações políticas, numa frente comum com o objectivo de combater o colonialismo português e o imperialismo em Moçambique.
A 02 de Fevereiro de 1962, o povo moçambicano, o povo africano e o mundo testemunharam o desejo do povo moçambicano de formar uma frente unida conhecida como Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Os membros da UDENAMO e MANU presentes são automaticamente membros da Frelimo. Em adição a estes, Frelimo aceitaria indivíduos, grupos, associações, sociedades de cariz político e não político organizadas por moçambicanos a serem membros, contanto que tais indivíduos e organizações aceitassem o objectivo da Frelimo que era a libertação total de Moçambique via luta armada”
Este documento gerou debates acérrimos sobre a veracidade da história de Moçambique. São debates participados por gente séria e formada, participado de forma alargada que nenhum meio de comunicação social moçambicano, seja rádio, jornal ou televisão, seria capaz de organizar. Surgiram centenas de comentários a criticar a mentira da história de Moçambique e claro, houve alguns que tentavam justificar porquê os moçambicanos foram ensinados desde sempre que a FRELIMO fora fundada a 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salam, na Tanzania, por Eduardo Mondlane.
Jovens com formação superior admiravam-se do conteúdo daquele documento. Em todos os anos de formação nunca tinham ouvido falar dele. Pessoas como o vice-ministro das Pescas, Gabriel Muthisse, e o historiador moçambicano, Egídio Vaz, participam nesses debates, conferindo seriedade do assunto.

Samora Machel foi membro n.º 66.186 da FRELIMO
Igualmente no Facebook foi publicado o cartão de membro da FRELIMO, de Samora Machel. Como pode ser visto aqui, leva o número 66186, emitido em Dar-Es-Salam, a 22 de Fevereiro de 1965. Foi assinado por Silvério Nungo, então Secretário Administrativo da FRELIMO.
O cartão publicado na rede social gerou longo debate com centenas de comentários. Muitos jovens questionaram como Samora se tornaria no Presidente do Movimento e primeiro Presidente de Moçambique, se afinal se tornara membro efectivo da FRELIMO em 1965. Muitas hipóteses foram levantadas. Entre elas houve quem disse que Samora teria promovido matança dos seus superiores hierárquicos para chegar ao cargo. Um dos nomes citados como tendo sido vítima dele foi Filipe Samuel Magaia, natural de Mocuba, que então era Chefe da Defesa, cargo que Samora viria a ocupar após a morte de Samuel Magaia, acumulando também com o de Segurança. Assim passou a ser chefe de Defesa e Segurança.

Carta de Uria Simango sobre a situação sombria da Frelimo
Ainda no Facebook foi publicado um documento escrito pelo Reverendo Uria Simango, descrevendo a situação sombria em que a Frelimo vivia no momento, em 1969, após o assassinato de Eduardo Mondlane. Eis um extracto documento:

“A morte de Silvério Nungu”

“De que eram frequentes mortes a sangue frio e deliberados assassinatos no nosso exército, era assunto de aquecidas discussões dentro e fora da FRELIMO. Os desertores sempre disseram que isto estava sendo feito e os chairmen de Cabo Delgado levantaram o assunto como a maior razão da sua exigência de secessão. Os nossos oficiais militares sempre recusaram as alegações e isto criou duas linhas diferentes de opiniões. Toda a gente procurou pelas evidências. A morte do camarada Nungu deu uma luz para toda a questão, e ficou provado que todas as alegações eram verdadeiras.
Ninguém é contra a aplicação da pena capital para aqueles que o merecem, aqueles que colaboram ou são nossos inimigos. Mesmo assim, cada caso deve ser examinado cuidadosamente e ver-se se a necessidade de dar tamanha punição é justa ou não, pois doutra forma torna-se vandalismo. Em relação aos assassinos dos camaradas Filipe Magaia, Mateus Muthemba, Paulo Samuel Kamkhomba e Silvério Rafael Nungo, os seus assassinos deviam ser punidos de modo devido, nenhuma piedade deve ser mostrada aos envolvidos, por serem realmente inimigos da revolução e do povo moçambicano.
Em fins de Fevereiro e começos de Março deste ano, depois da morte do Dr. Mondlane, anterior presidente da FRELIMO, algumas pessoas oriundos do sul do país, entre os quais Samora Moisés Machel, Joaquim Chissano, Marcelino dos Santos, Armando Guebuza, Aurélio Manave, Josina Abiatar Muthemba, Eugénio Mondlane e Francisco Sumbane, tiveram várias encontros em casa de Janet Rae Mondlane, na Baía das Ostras. Esta última também tomou parte nas reuniões. Estudaram as circunstâncias que envolveram a morte do Dr. Mondlane como membro da sua tribo, e a questão de quem o teria morto. Janet informou os presentes que Filipe Magaia, Sansão Muthemba e o Dr. Mondlane tinham sido mortos por gente do norte (da Beira ao rio Rovuma) porque estavam contra nós, os do Sul. Corrigiram-na, sendo-lhe dito que a morte de Magaia tinha sido perpetrada por uma pessoa do Sul e não do norte. Discutiram também a forma de defenderem e salvaguardarem os interesses da gente do sul.
Ficou assente nas reuniões que Uria Simango, Silveiro Nungu, Mariano Matsinhe e Samuel Dhlakama eram seus inimigos e deviam, portanto, ser eliminados. Esta decisão foi criticada por dois homens idosos, Francisco Sumbane e Eugénio Mondlane, primo do falecido presidente. Insistiram que todos deviam cooperar e trabalhar com Simango e que o contrário era tribalismo. O seu conselho não foi seguido. Foi decidido que durante a reunião seguinte do Comité Central, devia-se tomar algumas acções. Se for impossível persuadir Simango e Nungu a deslocarem-se ao interior, devia-se usar a força (rapto). Marcelino alertou os presentes de que matar Simango neste momento, poderia produzir maus efeitos porque ele era conhecido internacionalmente, contudo, concordou em matar Nungu, e eliminar politicamente Simango no campo internacional, numa primeira fase
Depois de em Julho receberem a informação da morte de Nungu, discutiram como proceder para a liquidação dos restantes, sendo a vítima seguinte Simango. Foi decidido que os membros do Concelho Presidencial deviam ir ao interior do país separadamente para inspeccionarem o trabalho em três províncias onde estamos empreendendo a luta armada, Cabo Delgado, Niassa e Tete. -”Se Simango for não voltará, será o seu fim” -declararam Samora e Marcelino dos Santos”.
Esta é apenas uma parte do documento de 18 páginas escrito por Uria Simango e publicado no Facebook. Depois seguiu-se um longo e continuo debate sem restrições, onde as pessoas dizem o que lhes vai na alma.
Muitos dos utilizadores do Facebook fazem-no via telemóveis com acesso à Internet, o que permite estender a rede dos utilizadores a milhares de jovens que não tendo computador com acesso à Internet, têm um celular com pelo menos 10 meticais de crédito para entrar na Internet.

Artigos de jornais replicados no Facebook

Textos publicados em jornais independentes com pouca tiragem são replicados no Facebook através de scanners e debatidos por milhares de pessoas. Moçambicanos no exterior sem acesso aos tais artigos que são publicados em jornais impressos, pessoas que vivem em zonas onde os jornais não chegam, pessoas sem posse para comprar jornais, passam a ter acesso aos artigos via Facebook.
Por exemplo, a recente entrevista concedida pelo Professor António Francisco ao Semanário Canal de Moçambique foi replicada em diversas páginas de Facebook e comentada por milhares de pessoas.
Assim, o Facebook se torna num espaço de debate de assuntos relevantes, que moldam jovens através de revelações que seriam quase impossíveis em jornais ou outros meios de comunicação social.
O Facebook não tem limite de tiragem nem tempo limitado de noticiário. Não é censurável. A pessoa basta entrar, lê tudo o que quiser e expõe as suas ideias livremente. Assim se explica como um líder com tendências ditatoriais tem aversão a esta rede social. (Borges Nhamirre in Canal de Moçambique)

Sem comentários: