Dezenas de adidos e conselheiros de imprensa de
todas as missões diplomáticas de Angola estão em Luanda, há sensivelmente um
mês, para reforçarem as redacções dos órgãos de comunicação social públicos
durante o período eleitoral.
Esta é a segunda vez que o governo usa os
jornalistas colocados nas embaixadas para o reforço da cobertura eleitoral. O
então ministro da comunicação social, Manuel Rabelais, introduziu a prática
durante a campanha eleitoral de 2008 e tomou a mesma iniciativa para as
eleições de 31 de Agosto deste ano. Actualmente, Manuel Rabelais exerce o cargo
de director do Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação
Institucional e Marketing de Administração (GRECIMA), uma estrutura afecta à
Presidência da República, que usurpou grande parte das competências do
Ministério da Comunicação Social. Através do GRECIMA, Manuel Rabelais
efectivamente dirige a Rádio Nacional de Angola (RNA) e a Televisão Pública de
Angola (TPA), os principais órgãos de comunicação de Estado e veículos
essenciais de propaganda do regime.
Seguindo o mesmo esquema da eleição anterior, os
diplomatas-jornalistas foram distribuídos pelos seus órgãos de origem,
nomeadamente a Angop, Jornal de Angola, TPA e RNA.
Regra geral, os jornalistas enviados para as
missões diplomáticas são preparados pelos Serviços de Inteligência Externa (SIE),
para o qual reportam em primeira instância. Devido a essa relação e aos
benefícios materiais derivados da sua estadia no exterior, os
jornalistas-diplomatas são requisitados por terem maiores razões de lealdade
para com o regime e experiência internacional na sua defesa. Estes também têm o
papel de exercer maior fiscalização política sobre os seus colegas locais.
Os jornalistas residentes, ao serviço dos órgãos de
comunicação social do Estado, têm manifestado, em surdina, o seu
descontentamento pela falta de condições de trabalho, salários condignos,
corrupção e má-gestão por parte das suas direcções, e a falta de liberdade para
realizarem o seu trabalho. A situação atingiu o ponto crítico com a anunciada
greve na RNA, para 24 de Agosto. Esta situação tem sido avaliada como sendo
susceptível de prejudicar a imagem do MPLA e do seu presidente, José Eduardo
dos Santos, por via da fraca cooperação dos jornalistas na manipulação de
informação a favor do regime.
As despesas de deslocação, instalação e alimentação
dos adidos e conselheiros de imprensa não estão cabimentadas em nenhum
orçamento oficial. Essa constatação resulta da apreciação de documentos
oficiais relevantes sobre dotação orçamental e recolha de depoimentos junto de
alguns intervenientes.
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