O acto de massas do presidente do MPLA, José
Eduardo dos Santos, realizado hoje, 24 de Agosto, na cidade do Lubango, capital
da província da Huíla, foi marcado pela duas falhas de energia eléctrica que
duraram mais de cinco minutos.
A necessidade de adiantar os trabalhos de
restauração e modernização da barragem da Matala que abastece energia eléctrica
às províncias do Namibe e Huíla se fez sentir nos dois cortes de
energia durante o discurso de José Eduardo dos Santos,
ilustrando a realidade das restrições que alguns bairros vivem.
“Nós no bairro da Lalula estamos há quatro dias sem energia da rede pública”,
disse Sebastião da Silva.
Enquanto o mestre da cerimónia não se cansava
de bater palmas mesmo depois de anunciar o discurso do presidente, muitos
militantes se abrigavam nas suas viaturas e barracas, enquanto outros se
retiravam do recinto.
A maioria dos militantes que acorreram ao
comício vieram do interior da província, em camiões e autocarros destacados
para o transporte dos populares ao comício.
Todas as instituições locais foram
encerradas. Um dos directores do governo local adiantou que “fomos avisados a
passar a mensagem a todos os funcionários que se fizessem presentes neste acto,
sobre pena de nós, os responsáveis, sermos sancionados”.
Para facilitar o transporte dos militantes
das várias zonas do Lubango, foram alugadas mais de duzentas viaturas de marca
Hiace que habitualmente funcionam na cidade como táxis. O valor do aluguer de
cada viatura, 40.000 kwanzas, será pago na Segunda-feira, 27 de Agosto, segundo
afirmou o motorista Jaime Antonio.
José Eduardo dos Santos falou sobre o combate
à fome e à pobreza, problemas bem conhecidos da população da Huíla. Muitos
populares da zona da Taka, município dos Gambos, por falta de alimentos, estão
a procurar zonas onde possam encontrar alimentação. Para tal percorrem mais de
70 quilómetros a pé até a sede municipal de Chiange. Outros populares,
sobretudo mulheres, muitas delas em estado de gestação, e crianças,
vendem sacos de areia para a construção, a 100 kwanzas cada um,
para poderem comprar um quilo de fuba que custa 75 kwanzas.
O forte aparato de militares destacados pela
Unidade de Guarda Presidencial (UGP) nas principais artérias da cidade do
Lubango lembrou a algumas pessoas o tempo de guerra. É o caso de Marisa
Lourenço Martins natural do Município de Caconda. “Isto dá medo, meu Deus, tipo
nos tempos de guerra em Caconda”, disse. José Francisco Maurício, antigo
militar das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), antigo
braço armado do MPLA, exclamou estupefacto: “Em tempo de paz isto não
deveria acontecer mais porque as pessoas ficam aterrorizadas!”
Outro facto que não passou despercebido foi o
discurso incendiário do primeiro secretário provincial da JMPLA na Huíla,
Manuel Bartolomeu Kativa. “Não toleraremos os que nada fizeram e os
que destruíram o país que se dirijam ao MPLA e ao seu presidente como que
nada tenham feito para o desenvolvimento do país.”
As autoridades tradicionais, sobas, símbolo
do poder local em África, viram mais uma vez a sua presença ignorada pelos
líderes do MPLA.
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