Mais de 900 alunos da 1ª a 5ª classe da
Escola Primária 19 de Outubro, arredores da cidade de Nampula, Norte de
Moçambique, estão privados de ter uma educação condigna porque as missionárias
do Mosteiro Mater Dei, proprietárias do espaço onde seriam construídas cinco
salas de aulas convencionais para aqueles petizes, decidiram, sem dó, paralisar
as obras.
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Quando o empreiteiro já estava a erguer as
paredes das cinco salas de aulas e um bloco administrativo onde deveria
funcionar a direcção da escola, as irmãs do Mosteiro Mater Dei mobilizaram um
contingente de guardas da sua residência munidos de catanas, machados,
azagaias, dentre outros instrumentos, para amedrontar e obrigar os pedreiros a
abandonar as obras alegando que o espaço lhes pertence e a infra-estrutura
estava a ser erguida sem o seu consentimento.
Perante a situação, o governo local retirou o
material de construção que disponibilizou para a concretização de um sonho das
crianças de estudar numa sala de aula melhorada. Tudo foi aplicado nas obras da
Escola Secundária 22 de Agosto localizada no bairro de Muahivire, arredores de
Nampula.
Doze milhões de meticais que haviam sido
desembolsados para suportar as obras foram para os cofres da Direcção
Provincial da Educação e Cultura de Nampula.
Deste modo, a comunidade na qual as referidas
salas de aulas seriam construídas continua a alimentar o sonho de um dia ver os
seus filhos a estudarem numa infra-estrutura adequada. Enquanto isso, no tempo
chuvoso, os professores e os alunos são obrigados a interromper as lições para
se refugiarem nas casas vizinhas da escola.
A construção de salas de aulas foi
oficializada em 2011, e as autoridades comunitárias e político-administrativas
da Unidade Comunal Samora Machel fizeram todas as diligências junto à Direcção
de Educação da Cidade de Nampula para a materialização do projecto ora
inviabilizado pelas missionárias.
A própria direcção da Escola Primária 19 de
Outubro funciona num apartamento de reduzida dimensão. As paredes e o tecto
foram construídos com base em material precário. Esta situação está a
contribuir, em grande medida, para o fraco aproveitamento pedagógico das
crianças.
Informações em nosso poder indicam que no ano
lectivo de 2012 estavam matriculados 865 alunos. Deste número, 760 assistiram
às aulas ao fim do ano e 590 transitaram de classe.
O assunto foi, várias vezes, discutido entre
as autoridades comunitárias locais, as missionárias e o governo provincial.
Porém, ainda não foram reveladas as conclusões das negociações, sabendo-se
apenas que as irmãs se recusam a ceder o espaço para a instalação da desejada
escola.
Relativamente à inviabilização da construção
de salas de aulas, o secretário da Unidade Comunal Samora Machel, Graciano
Soares, explicou ao @Verdade que o bairro está a registar progressos, por isso
há necessidade de ter mais infra-estruturas sociais para acompanhar o ritmo de
crescimento da zona.
Os pais e encarregados de educação estão
indignados por causa da atitude das missionárias. “Não entendemos porque é que
as irmãs estão a proibir a construção das salas de aulas se no seu convento
existem crianças que percorrem longas distâncias para estudar e que deveriam
beneficiar dessas instalações”, comentou António João, presidente do Conselho
de Escola 19 de Outubro na Unidade Comunal Samora Machel. Entretanto, o terreno
das irmãs do Mosteiro Mater Dei, de cerca de 50 hectares, é uma mata
considerada esconderijo dos malfeitores, o que concorre para a insegurança no
bairro.
Há relatos de que as autoridades comunitárias
registaram mais de 20 casos de agressões físicas durante o ano passado. Das
vítimas fazem parte quatro pessoas encontradas sem vida e os exames realizados
pela medicina legal concluíram que houve violência.
As mulheres que se dirigem àquele local com o
objectivo de recolher lenha são frequentemente perseguidas pelos supostos
guardas das irmãs com o intuito de proibir a extracção de qualquer recurso.
Missionárias reagem
A responsável do Mosteiro Mater Dei, Maria de
Cármen, negou todas as acusações que pesam sobre a sua instituição. Porém,
confirmou que proibiu a construção de salas de aulas porque as autoridades
locais invadiram o referido espaço sem aviso prévio. O terreno foi-lhes
atribuído há cerca de 28 anos.
“Esta invasão faz parte das acções levadas a
cabo pelo secretário do bairro para nos retirar o espaço”, acusou a
missionária, tendo acrescentado que há cinco anos que Graciano Soares tenta
usurpar aquele terreno. Em 2010, Graciano Soares invadiu uma parte da área em
causa e transformou- -a num campo de futebol.
Maria de Cármen disse à nossa Reportagem que
caso a construção de salas de aulas ocorra no terreno da instituição que
representa, a sua gestão estará sob responsabilidade das missionárias porque
nesse mesmo espaço há diversos projectos em vista, dentre eles a edificação de
uma escola secundária para beneficiar as crianças carenciadas residentes nas
comunidades circunvizinhas, um centro de formação e residências para as pessoas
idosas.
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