Mais um ataque a residências de párocos. Padre
católico morto por assaltantes em Maputo
“Queremos chamar a atenção do poder público, que
tem o dever constitucional de promover a segurança do seu povo” (…) “e isso
requer um maior comprometimento das autoridades para minimizar a situação
beligerante que a sociedade civil está vivendo” – Conferência dos Institutos Religiosos de Moçambique, Conferência das
Religiosas de Moçambique (Cirm-Conferemo)
Maputo (Canalmoz) – Está a acontecer uma onda de
assaltos às casas de religiosas católicas em Maputo, e um padre foi morto na
última quinta-feira, dia 03 de Maio, quando a residência dos padres da
Consolata, na missão na Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, em
Liqueleva, Matola, foi invadida por assaltantes.
“Os assaltantes agrediram violentamente o Padre
Valentim Camal, que teve traumatismo craniano e veio a falecer a caminho do
hospital por parada cardíaca. O funeral será realizado na sua terra natal, na
província de Cabo Delgado entre terça ou quarta-feira, data a confirmar”, lê-se
num comunicado da Conferência dos institutos religiosos de Moçambique,
conferência das religiosas de Moçambique, enviado à nossa redacção.
O mesmo comunicado recorda que “nos últimos tempos,
várias casas religiosas em todo o país tem sido vitimadas pela acção dos
assaltantes. Na maioria das vezes, usam de violência para alcançarem seus
objectivos, e o pior exemplo disso aconteceu na quinta-feira passada. Na busca
de auxílio das forças públicas de segurança, a maioria das vítimas se deparam
com problemas constrangedores”, lê-se no documento que condena estes assaltos
bárbaros e responsabiliza o Governo pela violência no País.
Confira o resto do comunicado aqui:
“Nós, religiosos e religiosas, trabalhamos sem fins
lucrativos, dedicando a nossa vida e serviço para o bem do povo moçambicano,
tanto em nível material como espiritual; dando atenção especial aos mais
desprotegidos da sociedade.
Nesta situação, levantamos a nossa voz junto com a
maioria do povo moçambicano, que busca o seu sustento honestamente, dia a dia,
sol a sol; e que sofre nas ruas e nas suas casas desse mesmo problema da
insegurança. Levantamos a nossa voz para dizer basta! Tornamos pública aqui a nossa
indignação e o nosso protesto quanto a violência que assola o país de diversas
formas, vitimando pessoas inocentes e ceifando vidas. O tráfico de órgãos e de
pessoas, a violência sexual, os recentes casos de sequestros, os homicídios, os
latrocínios, enfim, são distintas as faces da violência em nosso país que torna
o cidadão de bem em refém na sua terra, na sua própria casa.
Não podemos imaginar o desenvolvimento de um país
sem levar em conta os elementos fundamentais para o desenvolvimento do ser humano;
que não é descartável, pelo contrário: a vida humana é muito mais valiosa do
que qualquer megaprojecto ou investimento financeiro.
E entre os vários elementos que devem colocar a
dignidade da pessoa humana em primeiro lugar – e não o lucro –, a segurança
pública é um deles. Queremos chamar a atenção do poder público, que tem o dever
constitucional de promover a segurança do seu povo, e não apenas de forma
paliativa depois dos fatos terem ocorrido, mas sim preventiva e investigativa.
E isso requer um maior comprometimento das autoridades para minimizar essa
situação beligerante que a sociedade civil está vivendo. Uma melhor
qualificação dos agentes de segurança; uma remuneração mais justa, pois também
são chefes de família; equipamentos actualizados e adequados; maior contingente
de pessoal e brigadas colocadas estrategicamente nos bairros; enfim, são muitos
os elementos que devem ser levados em conta para melhorar o serviço dos agentes
de segurança em prol da população. Mas nada disso será suficiente se não
tivermos um sistema prisional e judiciário mais eficiente e realmente justo,
incluindo aí o ministério público.
Também queremos chamar a atenção de toda a
sociedade civil, para que tomem atitudes pró-activas no que se refere a sua
segurança pessoal e dos seus familiares, e no rompimento do ciclo da violência.
Isso quer dizer que a omissão, a conivência e a justiça pelas próprias mãos só
pioram a situação e devem ser evitadas. Devemos sim, como cidadãos, cobrar do
poder público o cumprimento do seu dever constitucional, tendo em mente que o
Estado deve estar a serviço da população, e não o contrário.
Queremos apelar aos diversos sectores da sociedade
civil, instituições, organizações não governamentais, aos meios de comunicação
e a todas as pessoas de bem, para somarmos forças na reflexão e no debate
quanto as causas da violência, na fiscalização da acção do Estado, e na criação
de mecanismos e estratégias que visem a consciencialização da sociedade quanto
ao seu papel na defesa da dignidade da pessoa humana em Moçambique.
Que a morte do PadreValentim e de tantas outras
pessoas, pais e mães de família, jovens e crianças vitimadas pela violência em
nosso país, possam nos motivar na busca de soluções novas a velhos problemas,
para construirmos um país mais justo e melhor, onde reine a fraternidade e a
verdadeira paz”.
O documento é assinado pelos padres Paulo Nadolny,
Presidente da Cirm-Conferemo Nacional e Ederaldo Macedo de Oliveira,
Secretário-Geral da Cirm-Conferemo Nacional. (Redacção)
Imagem: Igreja
da Polana Maputo
macua.blogs.com
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