Na sequência dos espancamentos, Mário Marione desmaiou e foi levado ao hospital, onde viria recuperar
Maputo (Canalmoz) - O procurador-chefe do distrito de Govuro, província de Inhambane, Mário Marione, foi espancado até perder os sentidos, por um grupo de populares de Nova-Mambone, em pleno 3 de Fevereiro, dia dos Heróis Moçambicanos.
O procurador teria sido supostamente esbofeteado por um grupo de mulheres que se dirigia a Praça dos Heróis Moçambicanos local e fazia transportar na viatura do administrador distrital.
Na ocasião, o procurador vinha de um sítio onde se tinham abatido uma cabeça de gado de que ele “queria ter uma parte da carne”.
Na sequência da agressão contra o procurador-chefe de Govuro, Mário Marione teria desmaiado e perdido os sentidos, tendo sido levado imediatamente ao hospital local, onde foi assistido.
De acordo com fontes residentes em Nova-Mambone e que solicitaram o anonimato por temerem represálias, a ocorrência deu-se por volta das 8 horas, exactamente na região de Guenga-Djani, momentos depois do procurador ter-se envolvido num acidente de viação do tipo choque entre viaturas, que resultou no ferimento de algumas pessoas que se faziam transportar numa das viaturas sinistradas.
Consta que o procurador Mário Marione vinha a conduzir, sem carta de condução, uma viatura de marca Toyota Chelsea, que se diz ser um carro roubado apreendido pela Polícia no rio Save.
Ainda segundo as fontes a que o Canalmoz teve acesso, o procurador estava a alta velocidade, tendo embatido na parte de trás de uma viatura protocolar de marca Ford Ranger, da administração do Govuro, afecta ao administrador Azarias Xavier.
Na altura do acidente, a viatura protocolar do administrador de Govuro vinha a ser conduzido pelo motorista de Azarias Xavier. A viatura Ford Ranger transportava alguns cidadãos que iriam participar nas cerimónias de 3 de Fevereiro. Contraíram ferimentos em resultado do embate e, na sequência do sucedido, agrediram o procurador por alegadamente ter sido culpado pelo acidente.
Crispação entre o administrador e o procurador-chefe
O procurador-chefe de Govuro foi nomeado há pouco mais de um ano. Algumas fontes disseram que a agressão contra o procurador teria sido o ponto mais alto das discussões pouco amenas existentes entre o representante do Ministério Público, Mário Marione, e o administrador distrital, Azarias Xavier.
Informações em nosso poder indicam que o procurador anda em contencioso com o administrador desde o ano passado, na sequência de um processo-crime instaurado contra um suposto sobrinho do próprio administrador (filho do concunhado), depois do mesmo ter-se envolvido também num acidente e agredido pessoas.
De acordo com os nossos informadores, o referido processo que o procurador estava a pressionar para que seja esclarecido, teria alegadamente sumido do Comando Distrital da Polícia da República de Moçambique (PRM). Há suspeita de que o administrador Azarias Xavier teria interferido para que o processo desaparecesse.
As fontes acrescentam que com a demora da PRM em entregar o referido processo à Procuradoria, o procurador-chefe Mário Marione teria notificado o administrador e o comandante distrital da PRM “para lhes advertir que queria, o mais urgente possível, o processo”. Isso não terá agradado aqueles dois responsáveis que forçaram o procurador a abandonar a sua pressão sobre eles.
Procurador confirma incidente e diz que “os políticos é que mandam”
Num contacto telefónico com a Reportagem do Canalmoz, o procurador-chefe distrital de Govuro confirmou o incidente, afirmando que “realmente fui agredido por um homem e não por mulheres”.
“É assim: eu vinha de boleia com o intuito de chegar a casa. Vinha de um sítio onde tinham abatido uma cabeça de gado e eu queria aproveitar uma parte da carne”, começou por esclarecer o procurador. Ele acrescentou que depois de obter a carne começou a ver o tempo a passar, dado que “tinha que estar presente na Praça dos Heróis, na deposição de flores”.
“Como tal, achei que devia pedir uma boleia a um carro que estava a passar para chegar rapidamente a casa. Entrei nesse carro e à frente ia o carro do administrador. O carro em que eu me fazia transportar embateu na viatura do administrador, mas num simples choque”, disse Mário Marione.
O procurador disse que depois do choque desceu do carro, com o intuito de querer falar com o motorista do carro do administrador. Prosseguiu dizendo que no meio da conversa: “fui espancado com uma bofetada, caí e perdi os sentidos”.
“Quando caí, levaram-me ao hospital e depois daí fui apanhar chapa e voltei para casa”, disse-nos o procurador.
Sobre a sua relação com o administrador que se deteriorou na sequência de um processo-crime que envolve o sobrinho do representante do Governo em Govuro, o procurador-chefe distrital disse “ser perigoso falar sobre essas coisas, porque realmente há coisas que não podemos falar, dado que como deve saber os políticos mandam”.
A Reportagem do Canalmoz tentou várias vezes um contacto telefónico com o administrador do distrito de Govuro, Azarias Xavier, mas, sem sucesso, pois os seus dois números encontravam-se temporariamente fora de serviço. Continuamos interessados em reportar a sua versão. (Bernardo Álvaro)
Imagem: Jorge Khalau, Comandante Geral da Polícia da República de Moçambique
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