segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

No último sábado em Maputo. Dois indivíduos tentaram “raptar” proprietário da Auto-Hilux


Quando viram a sua tentativa frustrada, por acção de uma força policial, numa esquadra viriam a identificar-se como agentes da Polícia de Investigação Criminal (PIC). Não eram portadores de mandato de captura e não existia processo. A PGR da Cidade de Maputo impediu que a vítima fosse presa.

Maputo (Canalmoz) – Numa altura em que o pânico entre a classe empresarial da capital do país atingiu já níveis muito graves e perturbadores do normal funcionamento das empresas, devido ao crescente número de raptos em troca de volumosos resgates, dois indivíduos usando a mesma artimanha que vem sendo usada pelos alegados raptores, tentaram sem sucesso, no último sábado, levar à força para destino desconhecido, o empresário moçambicano Rijvan Aly Mamad, proprietário da Auto-Hilux, situado na avenida Karl Marx, na cidade de Maputo.O incidente ocorreu no interior do referido estabelecimento comercial no centro da cidade de Maputo, nas proximidades do cemitério Francisco Xavier.

Os dois indivíduos que de acordo com vários testemunhos pretendiam sequestrar o proprietário daquele estabelecimento em troca de dinheiro, viriam depois da acção falhada, a se identificarem como agentes da Polícia de Investigação Criminal (PIC). A sua verdadeira função só viria a ser conhecida depois da intervenção de agentes da Polícia da 6ª Esquadra da Policia da República de Moçambique (PRM) que foram destacados para a socorrer a situação após notificação feita por um dos trabalhadores da Auto-Hilux.Fontes familiares da vítima, referem mesmo que a acção contra aquele empresário visava raptá-lo para posteriormente os autores pedirem dinheiro de resgate. Falam objectivamente de tentativa falhada de rapto.Rijvan Mamad, é um cidadão muçulmano de origem asiática, natural do distrito de Muecate, província nortenha de Nampula, e é dono da Auto-Hilux, um estabelecimento comercial que se dedica a venda de acessórios e peças de viaturas.

Ocorrência

Ibraimo Amad, trabalhador da Auto-Hilux que testemunhou a ocorrência, disse à Reportagem do Canalmoz, que os dois indivíduos chegaram à loja de Rijvan Mamad, quando eram 9 horas e 45 minutos de sábado, 11 de Fevereiro, e “disseram que vinham a mando de um tal Ibraimo desconhecido pelos patrões” e que “queriam falar com o senhor Riduan”.Na ocasião segundo a mesma fonte, os dois homens teriam sido informados de que naquela empresa não havia nenhuma pessoa com o nome de Riduan, mas sim Rijvan, ao que eles prontamente disseram “parece ser esse mesmo que precisamos”.De acordo com a mesma fonte que estamos a citar, o próprio teria informado o filho do proprietário da Auto-Hilux e este por sua vez teria ido chamar o pai nos escritórios do estabelecimento onde se encontrava na ocasião, comunicando-lhe da presença dos dois indivíduos.Ibraimo Amad acrescenta que “o patrão pensando que fossem pessoas que vinham a mando de alguém das suas relações comerciais, tratou de os atender”.Conta o mesmo interlocutor do Canalmoz, que quando Rijvan Aly Mamad se encontrava junto com o filho no balcão, os dois homens que mais tarde se apurou serem da PIC, puseram-se a falar em surdina com o dono da Auto-Hilux.
Tentativas de levar o homem a força

“Primeiramente não se ouvia o que eles diziam ao patrão. De repente começámos a ver empurrões e a conversa foi-se desenvolvendo até que os dois indivíduos pegaram no senhor Mamad pela camisa e a tentarem forçá-lo a sair do balcão para ir com eles” narra a nossa fonte da Auto-Hilux, Ibraimo Amad. Acrescenta que “eles diziam: vamos embora, e o patrão resistia ir com eles, perguntando: ir para aonde”. “Foi quando nós trabalhadores começamos a intervir”.
Sem nenhum mandato

Contam-nos, entretanto, que “no meio dessa discussão os dois indivíduos que tentavam levar a força” a sua vítima, “rasgaram a camisa de Rijvan Mamad”, uma situação que forçou um dos trabalhadores a correr a fechar a porta do estabelecimento e a comunicar o caso à Polícia da 6ª esquadra da PRM.“Já que nos últimos dias se fala mais de sequestros, pensamos que se tratasse de uma acção de rapto contra o nosso patrão. Foi por isso que corremos a chamar a polícia da 6ª esquadra, que prontamente mandou dois agentes para o local, onde encontrou os indivíduos trancados dentro connosco os trabalhadores e os patrões, incluindo a vítima que estava para ser levado à força” explicou Ibraimo Amad ao Canalmoz.De acordo com a mesma fonte, quando os dois polícias da sexta esquadra chegaram, levaram os dois indivíduos juntamente com Rijvan Mamad, para a 6ª esquadra, onde os dois indivíduos suspeitos de tentativa de sequestro, acabaram por se identificarem como agentes da PIC.“A verdade, quando os homens chegaram a Auto-Hilux, não se identificaram como sendo agentes da PIC, muito menos traziam nenhum mandato de busca nem de captura contra Rijvan Aly Mamad”.Mesmo na 6ª esquadra, os dois indivíduos tentaram levar sozinhos Rijvan Mamad, alegadamente para a PIC, o que não foi aceite pelo comandante daquela unidade policial. Por fim Rijvan Aly Mamad acabaria por ser mesmo levado algemado para a PIC da cidade de Maputo, onde permaneceu das 11 horas até as 20 horas de sábado.Não foram revelados os nomes dos agentes implicados nesta ocorrência.Rijvan Aly Mamad, proprietário da Auto Hilux, viria a ser solto no mesmo sábado por volta das 20 horas segundo o advogado e fontes familiares.Por seu turno, Momad Rijvan, familiar do dono da Auto-Hilux, contou à nossa Reportagem que “os dois homens tentaram à força levar o meu familiar para fora do estabelecimento, acto que foi impedido pelo filho”.Segundo a mesma fonte, os dois alegados agentes não avançaram nenhuma acusação contra Rijvan Aly Mamad e a PIC impediu este de ter contacto com os seus familiares e até com o advogado, entretanto solicitado.A libertação de Rijvan Aly Mamad, segundo o seu advogado Abdul Magid, foi conseguida depois da intervenção da Procuradoria da Cidade de Maputo.“O que está a acontecer, infelizmente é que eles (a polícia), prenderam a ele sem nenhum mandato de busca nem captura e sem nenhuma acusação” disse o causídico ao Canalmoz adiantando que até agora “não foi adiantado o crime que ele cometeu”.O advogado Abdul Magid disse-nos ainda que “a Polícia alega que vai apresentar os motivos oportunamente, apesar de ter detido o homem sem nenhuma acusação nem processo”.“Prenderam a pessoa de uma forma totalmente ilegal e fizeram-lhe exaustivamente, todo o dia de sábado, as mesmas perguntas, como forma de o cansar” denunciou o advogado. O causídico denunciou que não o deixaram contactar o seu constituinte. “Não me deixaram ter contacto com ele”.“À priori ele sofreu uma tortura psicológica, porque a polícia estava a lhe obrigar a confessar algo que ele não sabia. Cada vez que ele passasse por mim escoltado com a polícia que dizia: vamos embora à casa de banho, ele informava-me que o estavam a obrigar a confessar e assinar uma declaração de algo que dizia desconhecer”, declarou Abdul Magid ao Canalmoz. “Eu apenas lhe pude dizer: não responda nem assine nada sem o meu conhecimento”.Segundo o advogado, foi preciso ele movimentar a linha verde da legalidade para a procuradoria ir à PIC verificar a legalidade do que estava a acontecer.“A procuradoria quando verificou, ordenou que o meu cliente fosse solto, mesmo que fosse em forma de liberdade provisória. Por isso tivemos que deixar lá toda a sua identificação, o bilhete de identidade, passaporte e documentos da empresa, como forma de garantir que ele não vai fugir” disse Abdul Magid.Informações fornecidas pela PGR, segundo o advogado, indicam que Rijvan Aly Mamad não estava preso, isso apesar de ter permanecido das 10 horas às 20 horas na Piquete da PIC, e apesar do mandato de prisão que tinha sido passado pela polícia no sentido de levar o homem à 8ª esquadra da PRM, caso a procuradoria não interviesse.De recordar que a esquadra da zona da Aito-Hilux é a sexta esquadra mas a PIC queria encarcerar a sua presa na oitava esquadra.Neste momento, segundo o seu advogado, Rijvan Mamad tem que se apresentar diariamente à Polícia como forma de confirmar que não fugiu.“Na segunda-feira ele vai ser ouvido em processo. Ou seja eles na segunda-feira vão ter que formalmente notificar o meu cliente para o ouvir num processo. Penso que eles vão inventar um processo e um número, até lá” refere Abdul Magid.
PRM não comenta

Contactada pela nossa reportagem, a PIC e o Comando da PRM, ambos da cidade de Maputo, não se dignaram a explicar o incidente.“Estou num convívio familiar meu caro. Estou disponível amanha” respondeu o porta-voz da PRM cidade de Maputo, Arnaldo Chefo, quando contactado telefonicamente na tarde de ontem pelo Canalmoz. (Bernardo Álvaro)
Imagem: Os raptos em Maputo acontecem desde finais de 2011.
dw.de

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