Os cidadãos angolanos a viver em Portugal estão a regressar cada vez mais ao país de origem, onde enfrentam, porém, dificuldades de alojamento e disparidades salariais, explicaram fontes ligadas à comunidade.
Fabiana Gomes ainda está em Lisboa, mas só pelo tempo de terminar o mestrado em Psicologia. «O momento actual» – de tempestade em Portugal e bonança em Angola – balizou uma data para o seu regresso a Luanda: Janeiro de 2013.
«Os angolanos estão a regressar em força», garante Elisa Vaz, da direcção da Associação de Coordenação e Integração de Imigrantes Angolanos, que atende pessoas com vontade de regressar a Angola «todas as semanas».
O número de angolanos que regressam ao país «tem aumentado», corrobora Susete Antão, presidente da Casa de Angola. «Há uma série de associados cujas cartas vieram para trás porque já não estão a viver em Portugal. Muitos mesmo, aí uns 30 por cento de associados regressaram ao país», concretiza, acrescentando que «muitos são trabalhadores da construção civil», mas também há os que estiveram a estudar em Portugal e «os quadros, da banca, das empresas de comunicações».
Mário Pinto de Andrade, reitor da Universidade Lusíada de Angola, confirma que estão a regressar «muitos quadros».
«Deve-se ao bom momento que Angola está a atravessar, tem a ver com a paz (…) e, por outro lado, com a estratégia de crescimento económico», explica. «Se não há emprego para os europeus, muito menos haverá para os angolanos», realça.
Susete Antão diz que os angolanos regressam «não só por ausência de oportunidades em Portugal, mas porque vêem que começa a haver boas condições de vida em Angola».
Admitindo que «a crise em Portugal» contribui para um aumento do retorno, Fabiana Gomes realça que os angolanos estão a regressar, sobretudo «porque o país está em desenvolvimento e precisa do contributo de todos».
Por seu lado, a psiquiatra Eduarda Ferronha, que presta apoio a imigrantes, realça que muitos angolanos estão a ver-se «forçados a regressar» e que recebe «queixas permanentes sobre as condições de vida e emprego» em Portugal. «As obras estão paradas» e «até as limpezas estão a falhar. Muitos até estão a perder as casas que entretanto tinham adquirido», relata.
A «falta de oportunidades para os jovens em Portugal» tem levado muitos colegas da faculdade a pedirem a Fabiana Gomes a opinião sobre Angola.«Tem aparecido muita gente a fazer perguntas. Muitos jovens têm tentado ir, estão a ir constantemente», refere.
Susete Antão tem a percepção de que os angolanos regressam sobretudo com o apoio do consulado, não dispondo, porém, de dados concretos. Mas, sublinha, o retorno não é todo facilidades. E deixa dois reparos ao governo angolano. «O estrangeiro tem melhores condições do que o próprio angolano e isso o Estado tem de fiscalizar. O estrangeiro ganha sempre mais. Não tem sentido um angolano ganhar dois mil dólares e um estrangeiro ganhar quinze ou dez mil, com carro e casa», critica. Outro problema é o aluguer de casa, que «é muito caro».
Alguns angolanos têm recorrido ao Programa de Retorno Voluntário (PRV), através do qual o Estado português, ao abrigo de um protocolo celebrado com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), apoia financeiramente o regresso de cidadãos estrangeiros.
A OIM recebeu, no ano passado, 2114 pedidos de imigrantes em Portugal para regressarem aos seus países de origem, dos quais 594 embarcaram efectivamente.
Segundo os dados globais fornecidos à Lusa pelo escritório da OIM em Portugal, os angolanos representam 4,2 por cento do total de cidadãos retornados em 2011, a segunda posição de uma lista liderada pelos brasileiros (84,2 por cento).
Para voltar a Angola, Fabiana Gomes diz que não precisa de ter nada certo, basta-lhe a confiança no futuro. «Quando estiver no terreno, algo hei de arranjar».
Diário Digital / Lusa
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