Tal como o exercício do comércio informal,
aparentemente liberalizado a todos os interessados, com fogareiros para assar
milho e bómbó ao virar de cada esquina da cidade, também o licenciamento de
igrejas e seitas religiosas aparentemente obedece ao mesmo critério de
anarquia.
Assim se entende a explosão de denominações
religiosas que se multiplicam mais do que cogumelos. Aparentemente, de tão
produtiva a safra de proliferação de seitas religiosas em Angola, esgotaram-se
os nomes para as novas denominações. Muitas delas vêem-se na contingência de
adoptar designações risíveis quando não assustadoras. A Igreja Universo do Fogo
de Deus é, aparentemente, a criação de alguém que se quer vingar da Igreja Universal
do Reino de Deus, ou imitar o sucesso desta multinacional de exploração
comercial da fé.
A escassos metros da Igreja do Fogo, à rua do
Câmara, no Golfe, nasceu outra aberração, a Igreja da Invasão Cristã.
Mas todas essas aberrações não são nada
quando comparadas com a incógnita que é a mais nova coqueluche do regime, uma
nova seita cuja designação ainda não é conhecida. O que se sabe apenas é que o
seu traço distintivo são as cores vermelha e amarela. Os pastores ou apóstolos
da nova seita partidária não fazem cerimónia nenhuma em exibir cachecóis e
outros materiais de propaganda do MPLA e aceitam, sem o mínimo constrangimento,
fazer campanha eleitoral a favor do partido do poder.
A relação promíscua entre o MPLA e as seitas
religiosas ganhou um cunho mais público com a ascensão de Bento Bento, há
alguns anos, ao cargo de primeiro secretário do partido em Luanda, função que
acumula com a de governador. Com a sua chegada ao governo provincial da
capital, o populista Bento Bento cuidou de arregimentar igrejas e seitas de uma
forma ostensiva e de transformá-los em segmentos políticos e eleitorais
do MPLA. Em muitas ocasiões, Bento Bento usou até da palavra em púlpitos para
pregar a vontade do seu partido, com direito a cobertura noticiosa, de destaque,
na Televisão Pública de Angola (TPA).
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