sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Polícia Reprime Manifestação no Lubango


Um forte dispositivo combinado da Polícia de Intervenção Rápida (PIR), agentes da ordem pública e dos Serviços de Inteligência e Segurança de Estado (SINSE), dispersaram esta manhã, de forma violenta, uma concentração de veteranos de guerra que se preparava para realizar uma manifestação na cidade do Lubango, província da Huíla.
No acto, as forças policiais detiveram 14 manifestantes e um jornalista que cobria a tentativa pacífica de protesto que, entretanto, foram libertados depois de cerca de 10 horas, no Comando Municipal do Lubango.
As forças policiais e de segurança, avaliadas em mais de 150 elementos, desbodraram-se no local de concentração da manifestação por volta  das 5h00 e, inicialmente, avisavam os veteranos, que começaram a convergir no local por volta das 6h00, a retiraram-se voluntariamente do local.
Perto das 8h00, veteranos destemidos formaram um grupo de mais de 250 elementos, munidos apenas de cartazes e animados por cânticos, os agentes da PIR receberam ordens para agredi-los à bastonada.
O coordenador fiscal do Fórum Independente dos Desmobilizados de Guerra de Angola (FIDEGA), Armando Segunda, que procurava organizar os seus companheiros, foi um dos principais visados dos cassetetes da polícia.
“Eu sou deficiente, perdi a perna esquerda na guerra. Três agentes da PIR agarraram-me como se eu fosse um porco e espancaram-me por todo o corpo, com porretes. Tenho o corpo inflamado”, disse ao Maka Angola o capitão na reserva, Armando Segunda. Este oficial serviu como comandante da 1ª Companhia, do 1º Batalhão da 35ª Brigada, estacionada no município da Jamba, Huíla, onde foi ferido por uma mina anti-pessoal em 1989.
Por sua vez, o correspondente da Rádio Despertar e do jornal Angolense, Sebastião Silva, disse a este portal que foi detido por elementos à paisana que, de imediato, confiscaram o seu telemóvel e torceram-lhe o braço. “Já na viatura da polícia, os agentes ameaçaram-nos. Disseram-nos ‘quem abrir a boca será fuzilado”, referiu o jornalista.
Domingos Manuel Mendes, de 45 anos, um outro veterano de guerra, corroborou das declarações do jornalista e adiantou mais: “fomos chamados de cães e bandidos pelos emergentes [nome coloquial atribuído aos agentes da PIR]. Também disseram-nos que nos podiam fuzilar e atirar na Fenda da Tundavala”. O antigo soldado, desmobilizado em 1992, serviu como operador-chefe de rádio-localização P-18, da brigada anti-aérea “Quadrante”, então estacionada no município da Cahama, na província do Cunene. Há 20 anos que reclama pela sua pensão, nunca paga.
A 9 de Julho passado, o FIDEGA formalmente comunicou o governo provincial e entidades policiais e militares sobre a sua decisão em realizar uma manifestação a 3 de Agosto. Segundo o presidente do FIDEGA, Nunes Manuel, os seus filiados protestariam devido ao “incumprimento por parte do Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), que prometeu o envio de uma comissão, no mês de Julho, para avaliar a situação dos 16,000 desmobilizados que continuam por receber os seus subsídios desde 1992, há 20 anos”.
O tenente-coronel Nunes Manuel (na reserva) lamentou, ao Maka Angola, o facto das autoridades locais nunca terem respondido à sua correspondência sobre a manifestação.
“Apenas na quarta-feira (1 de Agosto), o delegado provincial do SINSE veio ter connosco para se informar da manifestação”, disse o oficial na reserva.
O presidente do FIDEGA informou també que “ontem, Quinta-feira, falámos com o general Apolo Yakuvela, comandante da região militar Sul, durante quase uma hora. O general deu-nos a conhecer do contacto que teve com o chefe do Estado-Maior General [das Forças Armadas Angolanas] sobre o assunto. Disse que o caso estava a ser resolvido e pediu-nos para cancelar a manifestação”.
No decurso da movimentação das autoridades no mesmo dia, Quinta-feira, o comandante provincial da Polícia Nacional na Huíla telefonou ao tenente-coronel Nunes Manuel. “O comandante disse-me que, nesta altura complicada de eleições, a realização da manifestação ‘era inconveniente’ e também me pediu para cancelar o acto”, explicou o líder dos desmobilizados.
O presidente do FIDEGA informou os seus interlocutores sobre a sua decisão em não cancelar a manifestação “sob o risco de criar ira junto dos meus homens, porque as autoridades nunca cumprem com as suas promessas”.
No entanto, o porta-voz provincial da Polícia Nacional, Paiva Tomás, escusou-se a prestar declarações sobre a acção policial e os veteranos de guerra detidos.
Entre os detidos, no comando municipal da Polícia Nacional, encontravam-se os veteranos de guerra Adriano Pedro, Agostinho Pedro, Daniel Faria, Daniel Sabambi, Domingos Manuel, Domingos Vitorino, Inácio Caule, João António, João Figueiredo, José António Cuia, Lote Correia, Luís Guerra e Rafael Capingala.
Após a dispersão da manifestação, agentes policiais e de segurança encetaram buscas de veteranos de guerra nos arredores e em várias zonas residenciais.
As ameaças de fuzilamento a que os detidos foram sujeitos lembram o desaparecimento, há dois meses, em Luanda, de Alves Kamulingue e Isaías Cassule, então envolvidos na organização de uma manifestação de ex-guardas presidenciais, prevista para 27 de Maio passado.  Adensam-se as suspeitas sobre o que lhes terá acontecido depois de terem sido raptados na cidade. Por outro lado, a Fenda da Tundavala, apesar de ser um local turístico, guarda nas suas entranhas esqueletos de várias purgas políticas.

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