A Polícia Nacional deteve esta manhã perto de
20 manifestantes.
Por volta das 9:10 da manhã, agentes
policiais conduziram coercivamente o rapper Luaty Beirão e Adolfo Campos, uma
das principais figuras do Movimento Revolucionário (MR), para a 12ª Esquadra,
no município do Cazenga, em Luanda. Os jovens encontravam-se junto do Cemitério
da Sant´Ana, ponto de concentração para a manifestação contra a repressão
governamental, convocada pelo MR para hoje, Sábado, 30 de Março.
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O protesto visava também pressionar o regime
do Presidente José Eduardo dos Santos a prestar esclarecimentos públicos sobre
o desaparecimento de dois activistas, Alves Kamulingue e Isaías Cassule, há
quase um ano.
Após o registo de identificação dos
suspeitos, a Polícia Nacional transferiu-os para o seu posto do Golf, “onde nos
encontramos de momento”, disse Adolfo Campos ao Maka Angola.
Outro activista, Mauro Smith, também se encontra no posto policial do Golf.
Por sua vez, Luaty Beirão disse ao Maka
Angola que “os agentes policiais nos disseram que não estamos detidos,
por isso não nos tiraram os telefones. Também não nos disseram porquê estamos
aqui retidos”.
Ambos os detidos confirmaram o espancamento à
bastonada, por agentes da Polícia Nacional, de alguns jovens que teimavam em
permanecer no local de concentração. Os activistas revelaram também a detenção
de Nito Alves e mais dois jovens, cujos nomes desconhecem, e que foram
supostamente transportados para Viana.
“No acto de detenção do Nito Alves, um dos
oficiais da Polícia disse ‘este gajo tem de ser levado para o armazém’”,
explicou ao Maka Angola Américo Vaz, outro membro do MR.
António Manuel Capitão “Pimpão”, um
manifestante que passou despercebido da Polícia e não foi detido, contabilizou,
no local, a detenção de um total de 14 indivíduos. “Alguns jovens detidos estão
a ser guardados na obra da Somague, aqui junto ao cemitério”, disse.
Mbanza Hamza, um veterano das manifestações e
vítima da violência policial, explicou como foi esbofeteado por oficiais da
Polícia Nacional, no local, e o encaminharam para uma viatura para ser detido e
transportado a uma unidade policial. “Mostrei cópia do documento que enviámos,
há um mês, ao Governo Provincial de Luanda, a informar a nossa intenção de
realizar a manifestação. Provei que a nossa acção era legal”, disse. Em
reacção, o chefe de missão decidiu deixar o activista no local, em liberdade.
Na viatura da Direcção Provincial de
Investigação Criminal (DPIC) encontravam-se já, sob custódia, Gaspar Luamba,
outro veterano das manifestações, e mais seis outros jovens.
No entanto, a uns minutos de distância, Mbanza
Hamza e mais companheiros seus tentaram defender uma vendedeira que estava a
ser espoliada dos seus bens por agentes à paisana. Estes, segundo o seu
depoimento, chamaram efectivos da Polícia Nacional. “Os agentes
esbofetearam-nos e detiveram o Pedro Teka, que também vinha da manifestação, e
foi levado para a 6ª Esquadra, onde se encontra detido”.
Na 6ª Esquadra, Pedro Teka encontrou mais um
manifestante, Pedro Sebastião, detido no ponto de concentração.
As primeiras detenções, num total de seis,
ocorreram no município de Viana, às 7:00 da manhã, no ponto de encontro dos
manifestantes, que deveriam depois ter rumado à cidade, para se juntarem aos
outros membros do MR.
Perto de 50 manifestantes tentaram
concentrar-se no Cemitério da Sant’Ana. Um número superior de agentes da
Polícia Nacional, apoiados por um helicóptero, polícia montada, com 10 cavalos,
polícia motorizada e a brigada canina impediu os manifestantes de procederem
com a marcha.
A manifestação convocada para hoje, sob o
tema “Direito à Vida e Liberdade para Quem Pensa Diferente”, apelava ao
protesto pelo desaparecimento de dois activistas, que se supõe terão sido
executados. Alves Kamulingue foi raptado em plena baixa de Luanda, a 27 de Maio
de 2012, quando seguia para o ponto de concentração de uma manifestação que
deveria juntar ex-efectivos da Unidade de Guarda Presidencial (UGP). Passados
dois dias, a 29 de Maio, um dos organizadores do referido protesto, Isaías
Cassule, teve o mesmo destino. Desapareceu quando encetava contatos, no município
do Cazenga, para saber do paradeiro do seu amigo.