Maputo
(Canalmoz) – Quando andamos a exigir a democratização das academias públicas,
não o fazemos por ter a exigência como chibantismo. É que, tal como dizia um
Professor que cito de memória, a escola é o lugar mais sério de um País. E eu
acrescento: Um país que não valoriza suas escolas é um País condenado às mais
desvairadas situações de empobrecimento! Da material…até mental.
E
valorizar as escolas não é ter imponentes edifícios que com a exemplar ajuda
dos nossos “irmãos” chineses as podemos erguer num piscar de olhos. Falo de uma
cadeia de condições para funcionamento das academias que passa pela mais séria
das premissas: ter gente responsável e profissional a dirigir essas escolas. E
é aqui onde nos perdemos! Porque, se os critérios de selecção destas pessoas
passasse pela meritocracia, não andaríamos aqui neste debate.
Os
estudantes finalistas do curso de Medicina ou simplesmente médicos estagiários
andam por estes dias aflitos e a equacionar marchas por terem tido a má-sorte
de estudarem num País governado pela estirpe mais refinada de irresponsáveis,
arruaceiros e delinquentes.
Tal
como é público, a direcção da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo
Mondlane (UEM) atribuiu “chumbo colectivo” a todos os médicos estagiários, pelo
descabido facto destes terem se solidarizado com os médicos que desencadearam a
greve de Janeiro exigindo ao Governo melhores condições de trabalho que,
basicamente, se circunscrevia no aumento salarial.
Quando
os médicos anunciaram a greve, a ala mais refinada que cultua a
irresponsabilidade no Governo propôs que o Governo não aumentasse salários e
que se os médicos fossem à greve seriam expulsos. Para tal decisão, contaram
com os lastimosos préstimos de um jurista que pelos vistos nunca pisou a uma
faculdade de Direito. E se pisou, deve ter sido por uma grave falha! O jurista
do Governo, portador de conhecimentos jurídicos para lá do miserável,
aconselhou ao Governo que na Função Pública não há direito à greve. Se esqueceu
o jurista que a greve é constitucional e a falta da sua regulamentação não é
problema dos médicos, mas do próprio Governo e da Assembleia da República. A
coisa enche-se de piadas porque quando olhamos ao Governo e para o partido que
forma o Governo há lá muita gente que põe fatos e reivindica o título de
Licenciado, Mestre, Doutor e Professores em matéria de Direito. Se olharmos ao
comunicado “jurídico” emitido pelo Governo a “ilegalizar” a greve, chegamos à
conclusão rápida: juristas de qualidade (muito) duvidosa.
Ao
anunciar aquele comunicado governamental de má qualidade jurídica, o Governo
tinha em mente um plano que passava pela ridicularização dos médicos para
depois usar os médicos estagiários para colmatar o défice criado pelos médicos
grevistas. Só que os estagiários entenderam que seriam instrumentos políticos
ao serviço do regime e decidiram solidarizar-se com os seus futuros colegas,
para o desespero do Governo.
Em
jeito de retaliação, o Governo, mesmo após ter assinado um memorando de
entendimento em que se comprometeu a não retaliar quer contra os médicos assim
como contra os médicos estagiários, decidiu de forma irresponsável chumbar
todos os médicos estagiários. Num País onde, segundo dados oficiais, um médico está
para 20 mil cidadãos, é de descomunal irresponsabilidade, primeiro brincar de
greve com os médicos, depois chumbar finalistas do curso de medicina por meras
infantilidades típicas de quem se está nas tintas para este País e para com o
seu povo. Há pessoas que morrem nas filas dos hospitais por falta de
atendimento médico e preferimos brincar às irresponsabilidades.
O
director da Faculdade de Medicina e seus pares devem ser estrangeiros. Não
sabem que precisamos de médicos com a mais urgência possível. Não sabem que há
pessoas a morrer por falta de médicos. Não sabem que há pessoas que caminham
mais de 20 quilómetros atrás de um médico. Que tipo de irresponsabilidade é
esta, afinal? Em que País pensam que vivem?
Por
estes dias os estudantes finalistas do curso de Medicina andam a fazer contas à
vida, prejudicados por um grupo de indisciplinados, armados em directores, sem
o mínimo de responsabilidade. Quanto à mim, não são os estagiários que deviam
andar preocupados, é o Governo que vive adiando este País à custa de interesses
infantis que a mais irresponsável mente pode confeccionar.
Não
se cansam de prejudicar este País e ao seu povo? Se uns preferem roubar madeira
e vender aos seus irmãos chineses, outro grupo de marginais prefere deixar
pessoas a morrerem por falta de médicos, só porque preferem brincar de
arrogância. Que intelectualidade é essa vossa? Aliás, de intelectualidade nada
têm, se não mesmo banditismo académico. Quanta irresponsabilidade!
O
Governo vai dias após dias dando o exemplo da mais refinada arte da hipocrisia
política e irresponsabilidade. E Ministério da Educação finge que nada está a
acontecer. É execução de um pacto de irresponsabilidade. Para quem tinha
dúvidas que estes senhores nunca estiveram interessados com o povo moçambicano,
aí está mais um dado esclarecedor. Na verdade, a mensagem é: que morram! Até
porque eles nunca precisaram do sistema nacional de saúde para nada. É por isso
que não querem democratizar as instituições públicas de ensino para continuar a
nomear lacaios como directores. Marginais como directores de curso.
Delinquentes para os Conselhos Científicos. Quando isso acontece a academia
torna-se não um lugar de produção de conhecimento para a libertação do homem,
mas um instrumento político de opressão.
Quando no lugar de intelectuais e ou
profissionais andamos a colocar serventes do partido, é nisto que dá. Nem da
importância de uma faculdade de Medicina têm, a mais elementar noção. Haja
vergonha! (Matias Guente)
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