15 mortos à catanada é o balanço preliminar das eleições no Quénia
Beira
(Canalmoz) - Pode-se dizer muita coisa sobre os diferentes processos políticos
em andamento em África. Não há dúvidas de que o recurso a forças das armas
sejam catanas, armas automáticas, tanques ou caças-bombardeiros tem servido
para a conquista e manutenção do poder em vários países desta vasta África.
Os
autores da violência por vezes parecem ser pessoas instrumentalizadas pelos
líderes políticos. A circulação de armas e a fraqueza estratégica das forças
policiais e militares colocam os cidadãos indefesos numa situação crítica. Os
apelos à paz e estabilidade, à convivência e respeito pelos direitos dos outros
não encontram eco quando os políticos estão fortemente envolvidos numa ofensiva
de conquista do poder por todos os meios.
A
avidez pelo poder, frequentemente utilizado como forma de construção de uma
base financeira e económica sólida em África tem levado a que grande parte da
liderança africana se esqueça de questões básicas. A violência gera mais
violência num ciclo interrupto.
Desde
o Atlântico ao Índico os sinais de desestabilização continuam acontecendo a um
ritmo que deixa um rasto de sangue de inocentes.
Muitos
perguntam quanto tempo será necessário para que as oligarquias africanas
assumam que podem ser uma elite promotora de outro tipo de situação? Quanto é
efectivamente se perde com a violência e a intolerância política nos vários
países mergulhados em conflitos?
Como
se sentem os familiares das vítimas de assassinatos políticos?
O
contexto em que a violência se espalha por África levanta perguntas muito
importantes. Como é que os parceiros internacionais, campeões da democracia
deixam passar a oportunidade se serem proactivos e contribuírem para a
diminuição do risco de eclosão de conflitos sangrentos em África?
Desde
a circulação de armas de pequeno porte a armas de guerra que não são fabricadas
em Áfricas, pode verificar de olho nu que existem forças interessadas em obter
lucros com a violência em África. Quem fabrica exporta armas para África mesmo
contrariando convenções da ONU? Quem á crédito financeiros para a importação de
armamento de guerra convencional mesmo em países que não estão em guerra?
Como
é que os partidos políticos em presença nos países de regime multipartidário
lidam com os fenómenos nacionais conhecidos como potenciais fontes de fricção e
violência?
Aquela
incapacidade de separar os órgãos de defesa e segurança da zona de influência
dos partidos políticos no poder tem sua motivação concreta. Quem controla as
forças militares e de segurança controla o poder no país é tão simples como
isso. A última obediência é devida aos comandos partidários e não aquilo que é
a agenda de segurança nacional legítima e consentânea com os mais altos
interesses da nação.
Quando
os comandos militares estão misturados e obedientes a um poder político que
muitas vezes não é consensual entra-se em derrapagem e tal país acaba por ver
conflitos violentos abertos rebentarem.
Somam-se
os países que tenham forças militarizadas em situação de semi-ilegalidade. Não
são poucos os países que coabitam com milícias armadas fora do controlo do
governo central. Há casos documentados de milícias que foram cruciais para a
conquista do poder por alguns doa actuais líderes africanos.
A
desconfiança é de tal ordem que muitos políticos não se sentem seguros sem uma
força privada de segurança.
Qualquer
exercício de desarmar tais milícias constitui a faísca que muitos esperam para
o desencadeamento das hostilidades.
A
concorrer para este cenário existe um passado fortemente tribal, exacerbado por
propaganda oportunisticamente semeada no seio de comunidades etnicamente
estruturadas.
Com
ou sem cooperação internacional significante, a agenda de construção de regimes
políticos estruturados em linhas de separação dos poderes democráticos tem sido
estrategicamente negligenciada.
As
chancelarias ocidentais, antigas potências colonizadoras, conhecem profundamente
os dossiers africanos. Os políticos africanos em geral, são pouco dados a
estudar a situação político-económica de seus países. Qualquer expediente que
os coloque no poder é quanto basta na sua curta visão do panorama.
Quando
se pede e se exige debate sério e aberto é comum ver os detentores do poder
enveredarem pela via mais exclusa e estreita. Adiam, entretém a opinião pública
mas na realidade não estão dispostos a discutir ou a ceder quando a questão é
nivelar o campo de actuação política em seus países.
Numa
leitura conveniente para salvaguarda de seus interesses económicos e
estratégicos, é comum ver os parceiros ocidentais e orientais fechando os olhos
e ouvidos. Armar e potenciar rebeliões só é opção onde seus analistas e
serviços de inteligência consideram vital. A Síria nesse aspecto é bem mais
importante que África.
Se a
França no Mali é porque em seu redor existem minerais como uranio a proteger. A
luta contra o tristemente famoso “terrorismo internacional” está sendo
inteligentemente utilizado pelas partes. O regime de Bamako solicita apoio
internacional para fazer face a sua incapacidade de defender seu país.
Solicitamente Paris envia suas forças expedicionárias. No Quénia a situação não
vai exigir a invasão pelo Reino Unido. Tudo se vai resolver aumentando a
assistência a um exército que tem sido útil no combate contra o terrorismo na
Somália.
No
Zimbabwe teremos uma reaproximação cuidadosa entre a União Europeia e o regime
de Mugabe, sempre através de uma leitura final de aprovação de Londres. Cada
país europeu tem o seu “quintal” em África. Ou isso já não é visível?
Em
Luanda os portugueses “engolem sapos e lagartos” mas não “largam o osso”.
Quanto
a Moçambique, já se conhecem as reacções diplomáticas portuguesas que quase
sempre optam pelo silêncio cúmplice com os detentores do poder em Maputo.
Enquanto
as mortes não forem de nacionais franceses ou portugueses está claro que não
veremos alteração daquilo que se convencionou chamar de política externa dos
países.
Enquanto
não houver raptos de portugueses em Maputo não veremos cooperação estratégica
entre a Polícia Judiciária portuguesa e a PRM moçambicana.
Jogam-se
cartadas importantes em África. Há muito em jogo e alguns dos protagonistas
estão cometendo erros historicamente verificados.
“Não
é possível cavalgar dois cavalos ao mesmo tempo”.
Construir
uma África mais representativa no mundo, mais interventiva e respeitada passa
por cada país ser mais forte e equilibrado.
Quénia
está em teste e outros países seguirão tal via.
Para
os cidadãos é possível exercerem outro tipo de pressão sobre seus governantes.
Partido de comunidades de base é possível genuinamente democratizar África. Colocar
África e cada um de seus países longe dos conflitos com motivação étnica, de
guerras pelos recursos, do petróleo de sangue e dos diamantes de sangue.
Para com a estratégia camuflada de saque dos
recursos minerais africanos, da desestabilização política com motivação
económica requer posicionamento completamente diferentes dos actuais por parte
dos governos África… (Noé Nhantumbo)
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