De nada
adianta arranjar bocas de aluguer para deturpar os factos, fazer comunicados ou
discursos distorcidos para desviar as atenções das questões suscitadas – Samakuva
Discurso do
Presidente Isaías Samakuva no encerramento das jornadas Parlamentares da Unita
que o portal Angola24horas divulga na integral.
Agradeço,
antes de mais nada, o convite que o Grupo Parlamentar do nosso partido, na
pessoa do seu Presidente, me formulou para presidir à cerimónia do encerramento
das suas Jornadas Parlamentares. Devo dizer que aceitei com agrado o convite
para encerrar estas Jornadas Parlamentares não só porque coincidiram com a
nossa digressão por estas terras do Kuando Kubango, como também porque elas
foram realizadas aqui no Menongue, no quadro das comemorações do 47º
aniversário da fundação do nosso Partido.
Pelo que
acompanhei, as jornadas foram bastante ricas. Durante três dias, os Deputados
reflectiram tanto sobre questões técnicas, como sobre questões políticas. Sobre
o desempenho da nossa Bancada Parlamentar no passado e sobre os desafios que a
mesma tem para a III Legislatura.
A julgar
pela qualidade dos documentos produzidos e pelo nível dos debates havidos,
podemos concluir que as Jornadas foram um bom exercício.
Foram
apresentadas políticas de gestão agrária que, se forem seguidas, poderão
contribuir para a redução drástica da fome em Angola.
Foi
constatado que as atribuições e a natureza dos órgãos do Poder local já estão
definidos pela Constituição. O que precisamos de fazer agora é definir
concretamente quais os serviços que ficam com o Estado e quais os que devem
passar para as Autarquias.
Precisamos
de definir que património do Estado será transferido para as autarquias e como
será transferido, município por município.
Foi
reconfortante ouvir a sociedade civil falar da “liberdade de imprensa mutilada”
e notamos a riqueza da sua participação nas discussões sobre o futuro da
comunicação social em Angola.
O debate
sobre o Orçamento Geral do Estado, trouxe a lume a necessidade de se
aperfeiçoarem os mecanismos e os procedimentos de elaboração do OGE e do
controlo da fiscalização da conta do Estado.
Caros
companheiros:
Ao encerrar
estas Jornadas de reflexão dos representantes do povo, cumpre-me também tecer
algumas considerações sobre algumas preocupações dos cidadãos relativas à
situação política e económica do país.
A situação
de Angola hoje, em 2013, é em certa medida similar à situação de Angola
quarenta anos atrás, em 1973.
Naquela
altura, havia crescimento económico, mas não havia democracia política nem
económica. As exportações de café cresciam, Angola havia realizado a sua
primeira exportação de petróleo em 1968, cerca de 50,000 barris/dia, e, cinco
anos depois, em 1973, esta produção atingiu os 150,000 barris/dia.
Naquela
altura, o crescimento económico colocava a economia angolana nas primeira
páginas dos jornais. Todavia, apesar do crescimento económico, o povo
português, que mandava em Angola, estava cansado do poder autoritário do Chefe
do Governo. A liberdade de imprensa estava mutilada. As eleições eram um ritual
manipulado pelo regime de Salazar e Caetano. Todas as eleições eram
fraudulentas e por isso produziam mandatos sem legitimidade, governos sem governabilidade,
e poder sem responsabilidade.
O mesmo se
passa hoje, quarenta anos depois.
Hoje, por
todo o lado onde passamos, o povo angolano também está cansado do poder
autoritário do Chefe do Governo. O modelo actual de crescimento económico sem
desenvolvimento humano, sem igualdade de oportunidades e sem democracia
política e económica, não serve os interesses da vasta maioria dos angolanos.
A liberdade
de imprensa está mutilada. As eleições são um ritual manipulado pelo regime do
Presidente José Eduardo dos Santos. E por isso, produzem, igualmente, mandatos
sem legitimidade, governos sem governabilidade, e poder sem responsabilidade.
Há, porém
uma diferença que importa assinalar:
O poder
político em 1973, não se afirmava um “Poder Democrático”. E o Estado que
controlava as riquezas de Angola, não tinha uma Constituição que o constituía
como Estado de direito democrático.
Em 2013, é
diferente. O poder político, afirma ser um Estado de direito democrático. E a
sua Constituição diz mesmo que Angola é uma República democrática, um Estado de
direito em que ninguém está acima da Lei.
A
Constituição da República de Angola, promulgada pelo Presidente José Eduardo
dos Santos, em 5 de Fevereiro de 2010, não permite a irresponsabilidade do
poder político.
Diz expressamente,
no seu artigo 127º, que o Presidente da República pode e deve ser
responsabilizado criminalmente pelos actos praticados no exercício das suas
funções e que impliquem suborno, traição à Pátria e outros crimes definidos
pela Constituição como imprescritíveis e insusceptíveis de amnistia.
A
Constituição, promulgada pelo Presidente José Eduardo dos Santos, prescreve que
o Presidente da República, seja ele quem for, tem de responder por estes crimes
no decurso do seu mandato.
A
Constituição da República estabelece também que os Deputados têm o dever de
tomar a iniciativa em processar criminalmente o Presidente da República se
houver indícios de crimes.
Ora, a UNITA
apresentou ao Senhor Procurador Geral da República, nos termos da Constituição
e da Lei Penal, o primeiro de uma série de participações de actos voluntários
declarados puníveis pela lei penal, praticados pelo Presidente José Eduardo dos
Santos.
Cabe agora a
Sua Excelência o Senhor Presidente agir como cidadão da República de Angola. O
cidadão da República submete-se à lei, não se coloca acima da Lei.
O Senhor
Presidente José Eduardo dos Santos deve vir a público responder às gravíssimas
acusações de indícios de crime de que é vítima.
Se não o
fizer, por força do cargo que ocupa, os angolanos vão tirar as suas próprias
conclusões.
De nada
adianta arranjar bocas de aluguer para deturpar os factos, fazer comunicados ou
discursos distorcidos para desviar as atenções das questões suscitadas.
Mesmo que
estas bocas de aluguer sejam de estruturas partidárias, professores de direito,
bispos, pastores, sobas, comerciantes ou mesmo de artistas de cinema. Os
angolanos já viram este filme muitas vezes. A própria hierarquia da Igreja
Católica, por exemplo, já reconheceu publicamente que a Igreja também está
infectada pelo vírus da corrupção.
Ouvir
bispos, pastores e outros que deveriam ser um exemplo de moral pública, vir a
público condenar a UNITA pelo facto da UNITA cumprir a Lei e denunciar crimes
nos termos da Lei, ao invês de se inteirarem dos factos, é um sinal claro e
triste da degradação de valores da nossa sociedade.
O que os
angolanos esperam que o seu Presidente faça é que diga claramente se os crimes
de que é Indiciado foram ou não praticados.
Se
substituíu, ou não, a vontade soberana do povo angolano, expressa nas
assembleias de voto, pela sua própria vontade.
Se
encarregou, ou não, o General Kopelipa, de estabelecer uma estrutura
pára-militar clandestina para se sobrepôr à CNE e organizar, de facto a eleição
de 31 de Agosto de 2012.
Se mandou ou
não fabricar resultados eleitorais atravês de actas forjadas, com resultados
forjados.
Se as 18
actas de apuramento provincial foram ou não produzidas com base nas actas das
operações eleitorais.
Se os
resultados eleitorais anunciados pela CNE, foram ou não pré ordenados por si.
E se mandou
ou não obstruir o direito de voto de milhões de cidadãos, atravês da
manipulação dos registos oficiais da República, por técnicos chineses e outros.
É isto que
os angolanos esperam que o seu Presidente faça com a dignidade de um cidadão!
A UNITA
reitera a sua posição de que vai continuar a cumprir rigorosamente a
Constituição e a lei da República de Angola.
E nesse
sentido, vai apresentar também queixa crime junto do Tribunal Supremo contra
todos os demais autores e co-autores dos mesmos crimes a respeito dos quais o
Presidente José Eduardo dos Santos foi Indiciado.
Estas
acções, caros companheiros, exigem que os dirigentes e membros do nosso partido
se mantenham unidos no pensamento e na acção!
O povo só
tem a UNITA para o salvar.
Para
estarmos à altura do jogo político em curso, precisamos entender que as
eleições são um ciclo permanente. Que o povo só tem a UNITA para o salvar. Esta
salvação não resultará do trabalho de um homem, mas do trabalho de toda a equipa.
Por isso é tão importante a nossa unidade, solidariedade e disciplina.
A causa da
UNITA é a causa do povo!
Estou certo
que os senhores deputados irão discutir amplamente os fundamentos desse
processo de responsabilização do Presidente da Repúblicas com os vosso colegas
do Parlamento, para o cumprimento escrupuloso das vossas responsabilidades
constitucionais.
Muito obrigado
ANGOLA24HORAS.COM
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