segunda-feira, 18 de março de 2013

“Patifaria discursiva” esconde lucros e contrapartidas dos mega-projectos?...


Canal de Opinião. Por: Noé Nhantumbo


 “Apóstolos da desgraça” e fofoqueiros progridem a olhos vistos…

Beira (Canalmoz) - “Quando a esmola é em demasia até o pobre desconfia”. Uma onda ou corrente em voga em Moçambique contraria tudo aquilo que a maioria dos países do mundo está fazendo ao nível da emissão de autorização de exploração e exportação de seus recursos naturais, nomeadamente os minerais.
Em momentos de crise financeira é óbvio que se procure sacar vantagens nos negócios e acordos que se assinam e se estabelecem.
Quem se recusa a aprender com os que fazem melhor e com os que possuem experiencia comprovada na negociação de dossiers similares acaba por entregar ao desbarato o que muito valor tem.
No lugar de entreter os moçambicanos com discursos promovendo que se espere mais alguns anos e que os recursos minerais descobertos terão viabilidade quando estiverem estabelecidas as bases para a sua exploração e exportação.
Enquanto uns esperam outros constituem empresas e joint-ventures com parceiros internacionais. Enquanto uns esperam outros já estão vendendo a sua participação nas tais reservas minerais descobertas. Enquanto uns tem de esperar outros gozando de todo o tipo de regalias e acesso ilimitado a licenciamento e obtenção de DUAT acumulam terras e terrenos que colocam no mercado conformem julgam conveniente.
Compatriotas, tenhamos um pouco de honestidade para chamar a este tipo de discursos de “patifaria grotesca”.
Andam enganando seus concidadãos mas um dia acordarão para uma realidade que vai contrariar e inviabilizar essa ambição desmedida que se traduz na acumulação de tudo o que tenha algum valor comercial e financeiro no país. A clique ou elite moçambicana que actualmente passeia a sua classe ostentando aquilo que obviamente não é fruto de seu trabalho e suor está perdendo uma oportunidade histórica de fazer diferente do que fizeram elites de outros países como os que foram vítimas da Primavera Árabe.  
Se agora até se seguem linhas étnicas para se constituírem empresas de algum porte que farão os outros quando as riquezas que estão mapeadas já tiverem todas sido tomadas ou atribuídas? 
A partilha selectiva do país e de seus recursos, entre pessoas da mesma estirpe política deve ser vista com bastante cautela, pois constitui uma base para a emergência ou surgimento de conflitos sangrentos. Os que se sentem excluídos do processo de distribuição em curso ou já consumado irão decerto reagir de um modo ou de outro. Seria ingenuidade não considerar essa possibilidade. Aquela informação veiculada de que generais na reserva oriundos de Cabo Delgado criaram uma empresa ligada ao gás não é fortuita. A empresa Portos do Norte Lda. não terá surgido por acaso. Estará em concretização ou implementação uma estratégia de acomodação ou condicionamento por via de acesso a recursos naturais na esteira do sucedido com a mina de rubis de Montepuez? Quando se cria um consórcio para a construção de estradas e potes na zona carbonífera de Tete qual é a lógica que se segue?
Uns dirão que se está criando e fortalecendo o empresariado nacional e até tudo muito bem. Mas que é feito dos empresários ou aspirantes a empresários que não comungam na missa da Frelimo? Parece evidente que muitas das empresas que surgem como cogumelos são fruto de tráfico de influências. É o “inside trading” funcionando em grande escala e bem lubrificado. Primeiro alocam-se fundos governamentais, públicos, para a pesquisa e prospecção, depois viaja-se a custa de fundos públicos a busca de financiamentos e parcerias. Tudo conseguido, estabelece-se uma joint-venture em que a parte moçambicana é um parente próximo ou alguém recomendado pelos órgãos do partido. Não é assim como se confecciona a “sopa à moçambicana”? Os capitalistas e empresários de sucesso moçambicanos de que panela saem? Do trabalho ou da manipulação e informações privilegiadas? Mesmo que se queira, a realidade não deixa mentir.      
Não somos imunes a guerra ou a eclosão de uma guerra pelos recursos em Moçambique. Este é um aspecto que os políticos, dignos desse nome, devem equacionar. A questão de fundo ultrapassa o nível da ambição individual, do egocentrismo deste ou aquele, a ingenuidade política deste ou daquele interlocutor.
Como se tem visto, as vagas migratórias em direcção a diversos lugares do mundo, tende a seguir para os lugares mais apetecíveis e isso descongestiona a pressa interna nos países de origem. 
Quando os moçambicanos verificarem que não podem emigrar e isso se está tornando claro, pois a África do Sul principal destino, se mostra cada vez mais hostil a presença de moçambicanos em solo sul-africano, a pressão desta “panela no fogo” que se chama Moçambique irá estoirar para algum lado.
Numa atitude que só pode ser interpretada como teimosia em aprender com os factos históricos alguns dos quais bem recentes, vemos todo um governo abraçando a via indicada por corporações internacionais, sem qualquer alternativa que coloque os interesses nacionais acima das circunstanciais de lucro amiúde de lucro perseguidas e impostas por tais parceiros.
O tal “win-win” está sendo verdade “win” para eles e “lose” para Moçambique, isto é, para a maioria dos moçambicanos.
Numa fórmula de capitalismo só possível quando se negoceia com medíocres vemos noticiado que as concessionárias do gás de Cabo Delgado vão vender parte de suas participações no mercado internacional. Pelas projecções anunciadas Moçambique poderá encaixar cerca de 500 milhões de dólares americanos contra quase 5 biliões que a Anadarko e a Videocom esperam de dividendos do negócio. Não se pode negar que quem investe tem direito a retirar dividendos mas as margens retiradas devem ter em conta outro tipo de matemática. O país detentor do recurso tem de receber muito mais do que “amendoins”.
Entregues a jogos de cintura pela manutenção do poder, alguns políticos cometem a insensatez de ignorarem sinais reais de convulsão social em andamento. Quem não tem nada a perder não teme que as forças repressivas actuem e lancem gás lacrimogénio, jactos de água ou balas reais.
É de supor que não serão as “guloseimas” estrategicamente distribuídas entre DUAT, posições de PCA em empresas públicas, ministérios e outras benesses que vão trazer aquele equilíbrio étnico-político conducente ao apaziguamento do descontentamento nacional. Política desse tipo e natureza tem limites bem estreitos e é de pouca duração. Adormecidos “generais reservistas” não é o factor que fará a diferença quando for importante.
Porque ao longo dos anos não se atacou frontalmente a questão das assimetrias são estas que vão provavelmente deitar tudo a perder. A cantiga da “Unidade Nacional” está esgotando rapidamente a sua utilidade e os moçambicanos começa a aperceber-se que estão sendo enganados por gente que enriquece todos os dias enquanto eles tem de conformar-se com transportes públicos desumanos, dieta precária, escolas sem carteiras, medicamentos inexistentes, justiça tardia e repressão policial cada vez que reclama por seus direitos.
E aqui não se trata de teoria de conspiração ou de alguma mão externa como alguns defensores do status quo são rápidos em declarar.     
Os “apóstolos do optimismo, da abundância, da Pérola do Índico” não perdem por esperar.
Com a patifaria discursiva em voga em Moçambique este país está paulatinamente ficando hipotecado aos interesses de corporações estrangeira e aos seus aliados nacionais.
Nestes moldes, qualquer discurso contra a pobreza absoluta ou relativa não tem significado é um insulto a maioria dos moçambicanos…
Quem quiser conhecer os verdadeiros “apóstolos da desgraça” ou já agora “fofoqueiros” é vê-los desfilando e proferindo discursos nos pódios da comunicação social… não precisa de olhar para outra direcção… (Noé Nhantumbo)

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