A
longa “Novela” da Linha de Sena já começou e os indianos devem estar rindo…
- Procuram-se os culpados mas estes escondem-se que
nem o “diabo da cruz”…
Beira
(Canalmoz) - Numa autêntica conspiração visando satisfazer interesses de
determinadas corporações internacionais bem como alguns nacionais, expulsou-se
um consórcio indiano alegadamente porque não conseguia entregar as obras de
reabilitação da Linha de Sena.
O
Banco Mundial em cumplicidade com diversas entidades locais e internacionais
consentiu que créditos moçambicanos fossem utilizados para pagar despesas a
empresas que não cumpriram com seus contratos.
Uma
obra de grande envergadura normalmente tem uma equipa fiscalizando o seu
andamento. Quando o antigo presidente do Banco Mundial visitou com pompa e
circunstância as obras, acompanhado de toda a direcção dos CFM e o consórcio
construtor, nada foi revelado em desabono da qualidade das obras.
Aos moçambicanos
foi sempre dito que tudo estava andando “às mil maravilhas”. Afinal a
fiscalização mentiu e não fez seu trabalho. Foi paga quando deveria ser
penalizada.
Com
a paralisação dos comboios que transportam o “esperançado ”carvão de Tete para
o porto da Beira, muitos buracos e rombos revelam-se à luz do dia. Já não
possível esconder que alguma coisa grave está acontecendo no domínio
ferro-portuário moçambicano.
Nos
portos revelam-se problemas de preçários, tarifas, segurança, especialização,
lentidão, que afugentam importadores e exportadores do hinterland. Alguns
aventam abandonar portos moçambicanos e passarem a utilizar Durban ou Dar es
Salaam ou mesmo portos da Namíbia. O cenário, embora não seja negro, levanta
preocupações justificadas.
Os
gabinetes de estudo do Ministério de Transportes e Comunicações não estão
conseguindo tomar conta do recado em toda a linha. Alguns analistas dizem
abertamente que se trata de falta de capacidade técnica de quem está a frente
deste importante pelouro. Com assuntos que se reflectem na economia geral do
país não se pode dar oportunidade a gestores ingénuos e tecnicamente
incompetentes. A necessidade de estudar profundamente dossiers e precaver com
seriedade cenários, não está sendo tratada com a devida atenção.
Onde
há muita fruta suculenta aparecem moscas e todo o tipo de pragas para se
lambuzarem.
Aquilo
que se previa um boom na economia nacional, a exploração e exportação de
carvão, está aos poucos se revelando um fiasco, devido a incapacidade de
infraestruturas para o seu escoamento. Parece que alguém “correu atrás da
galinha com sal na mão”. Contratos foram com pouca transparência negociados e
arranjos concluídos, em benefício de agendas em que Moçambique declaradamente
pouco está ganhando.
Ser
potência energética é o que Moçambique é mas “abutres” e especuladores
nacionais e internacionais estão “afiando os dentes” para o banquete que se
estrutura a “olhos vistos”.
Numa
acção de todo planificada e estudada ao pormenor, o governo de Moçambique,
através de nomeações estratégicas de quadros de sua plena confiança, entendeu
que tinha acertado numa fórmula que garantiria benefícios para os
intervenientes no negócio ou negociatas do carvão.
A
tendência de aumento da posição estatal nos recursos minerais em evidência na
América Latina está esquecida e enterrada em Moçambique. Aqui segue-se à risca
a receita do Banco Mundial e de seu irmão gémeo Fundo Monetário Internacional.
É
difícil acreditar que um governo que se queixa continuamente de falta de
fundos, não capitalize sua posição nos consórcios que se formam para explorar
recursos naturais localizados em seu país.
A
Rússia tem suas reservas financeiras em alto nível porque o governo russo
negoceia diligentemente seus recursos de gás natural e petróleo. Abriram as
portas para o capital internacional, empresas como a BP estão lá estabelecidas
mas a fatia que cabe ao estado russo é bem significativa. Em Moçambique fala-se
de percentagens baixíssimas de comparticipação nos investimentos pelo governo
em nome de exiguidade de recursos financeiros. Para que serve afinal o chamado
endividamento estratégico? Se Angola constrói cidades servindo-se do petróleo
como garantia, Moçambique não poderia, por exemplo, oferecer o gás do Pande e
Temane como garantia para créditos no mercado financeiro internacional?
Montar
uma fábrica de antirretrovirais em Moçambique não teria que depender da boa
vontade do congresso e governo brasileiros. Nem seria necessário ceder tanto às
exigências do Vale do Rio Doce no negócio da linha férrea de Sena.
Se
os indianos falharam na concepção de seu trabalho de reabilitação da Linha de
Sena, os CFM entanto que parceiros no empreendimento, tem a sua quota parte e
nisso é preciso incluir o seu Conselho de Administração, desde os tempos do Sr.
Rui Fonseca.
Quando
as coisas começam a correr mal é comum verificar-se que todos procuram
proteger-se de possíveis consequências e isso assiste-se agora nos CFM.
Quando
foi tomada a decisão de atribuir a um consórcio indiano a reabilitação da Linha
de Sena, os CFM com recursos próprios já se encontravam a trabalhar com esse
mesmo objectivo. Havia e ainda se pode dizer que existe capacidade nacional
para executar trabalho de reabilitação de linhas férreas. Havendo necessidade
poderiam ser contratados especialistas e consultores no mercado internacional.
Na vizinha África do Sul existem empresas de consultoria que podem responder
com sucesso às solicitações de assistência técnica que se considerem
necessária. Afinal, os projectos de infraestruturas no quadro da SADC justificam-se
e toda a cooperação regional deve ser incentivada mas isso não aconteceu com o
dossier Linha de Sena. A opção, muito mais cara para o país, foi cumprir com o
que o BM recomendou na altura. Restruturou-se os CFM e racionalizou-se
mão-de-obra através de créditos de natureza complexa e duvidosa, concedidos
pelo mesmo banco. Hoje um número considerável de trabalhadores encontra-se na
situação de reformados e desvinculados tudo em nome de uma reestruturação que
atirou para o desemprego milhares de moçambicanos sem ganhos visíveis.
Os
peritos governamentais moçambicanos terão ido pelo caminho mais fácil e com
isso toda uma experiência acumulada foi irremediavelmente perdida.
Hoje
procuram-se os culpados a todo o vapor mas estes escondem-se e fogem que “nem o
diabo da cruz”.
Hoje
os “competentes” de ontem escondem-se e nem querem que seus nomes venham à
baila, comprovada que está, toda a maquinação lesiva aos interesses nacionais
que esteve na base de avaliações e celebração de acordos.
Reconhecer
que há falta de know-how não é vergonhoso. Persistir e ignorar isso é que é
vergonhoso e em certo sentido um atitude muito pouco adulta, digna e lógica por
parte de quem se diz governo. Os acordos foram uma burla que até agora
sem esclarecimento público. O tempo rapidamente se encarregou de colocar a
verdade no devido lugar.
Enganaram-se
os gestores considerados nalguns círculos nacionais como os mais competentes.
Rescindir com os indianos quanto custou afinal? Se somos nós que pagamos a
dívida é justo que sejamos informados.
Vejamos
o caso da HCB, um consórcio internacional com sede no Canadá está a frente da
operação daquela importante barragem hidroeléctrica. Isso tem um custo mas
oferece garantia aos investidores e ao estado moçambicano de que não se irá colocar
aquele empreendimento nas mãos de técnicos inexperientes.
A
não ser retalhar e dividir entre si parte do património dos CFM, os gestores
moçambicanos naquela empresa pública, não se tem dedicado com afinco e
competência às tarefas que era tradicional e comum ver sendo executadas.
Estações ferroviárias abandonadas e cheias de capim, bairros habitacionais da
empresa degradados, complexos gimnodesportivos em ruína, locomotivas, vagões e
carruagens em estado obsoleto, centros de manutenção e oficinas em estado
deplorável são um cenário comum, triste e desolador. Nunca um sector que já foi
o orgulho de toda uma classe de trabalhadores moçambicanos, se encontrou numa
situação como esta.
Convenhamos
porque não está longe da verdade que as sucessivas elites dirigentes dos CFM,
se tem comportado como parasitas, sanguessugas colocando suas mordomias e
conforto acima de tudo e todos. Estabeleceu-se um ambiente de “ladroagem” e
saque dos recursos dos CFM de tal modo profundo e grave que os dirigentes
lançaram mão a todo o tipo de esquemas para defraudar o património dos CFM.
Uma
atitude passiva, de espectadora por parte do órgão de tutela, Ministério de
Transportes e Comunicações, concorreu para cimentar uma forma de estar lesiva
para os interesses públicos. Uma empresa pública nacional pertence aos
contribuintes e não é propriedade privada de seus gestores como parece ser
denominador comum nos CFM.
Quem
chega a liderança da empresa pode por e dispor de recursos que são públicos sem
que haja consequências.
O descalabro
que paralisou a Linha de Sena é um dos produtos da grave falta de fiscalização
de obras encomendadas e pagas pelo erário público.
Ou
reverte-se o quadro e tipo de gestão vigente nos CFM ou os prejuízos
continuarão a ser acumulados para a economia nacional. Onde se esperava que
recursos adicionais fossem postos a disposição do governo por via de receitas
arrecadadas pela utilização da Linha de Sena pela VALE, Rio Tinto e outras
empresas mineiras, exportando carvão pelo Porto da Beira, verifica-se que os
prejuízos crescem com as intervenções que terão que ser feitas para repor a
circulação dos comboios naquela linha.
Onde
se trabalha cometem-se erros que importa não ignorar.
Este
momento deve servir para que os ministros dos pelouros responsáveis, a administração
dos CFM reflitam com objectividade sobre que caminhos trilhar para sair-se
desta vergonhosa e lesiva situação.
Há
toda uma cultura de rapinagem e gatunice que deve ser abandonada e penalizada
por quem de direito. Não se pode permitir que uma empresa pública seja
arruinada em benefício de seus gestores de topo.
Exigem-se
comissões de inquérito sérias e sindicâncias ao desempenho de quem foi
encarregue de gerir recursos públicos e não está o fazendo a contento.
Há
complicações e complexidade no tipo de tratamento a dar a diversos assuntos nos
CFM. Muitos factos escamoteados e dossiers destruídos devem merecer a atenção
do governo se houver a vontade de reverter a situação e rentabilizar a
exploração ferro-portuária em Moçambique e isso acontecerá num quadro mais
geral de engajamento construtivo que o governo deve desencadear.
A
tarefa é gigantesca e vai requer que haja disposição e vigor em romper todo um
esquema de relações de proteccionismo que foram sendo estabelecidas ao longo
dos tempos. Sem que o reino da impunidade seja “degolado” nos CFM continuaremos
a ter mediocridade, corrupção e nepotismo governando.
O
Parlamento moçambicano não pode ficar a leste do que está acontecendo e ao
abrigo de suas prerrogativas, deveria nomear uma comissão de inquérito
especializada para averiguar todo o dossier CFM…
Será
que o executivo moçambicano permitirá que isso aconteça?
Compete aos moçambicanos exigirem através dos
instrumentos legais que seus interesses sejam acautelados e que “novelas
indigestas” como a da Linha de Sena sejam retiradas do cardápio… (Noé
Nhantumbo)
Imagem: www.aplop.org
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