sábado, 20 de junho de 2009

Crise mundial: mais de um bilhão de famintos


Pela primeira vez na história da humanidade

JB ONLINE

DA REDAÇÃO - A barreira de 1 bilhão de pessoas que passam fome será superada neste ano em consequência da crise financeira internacional, anunciou sexta-feira a agência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO).


“Pela primeira vez na história da humanidade, mais de 1 bilhão de pessoas, concretamente 1,02 bilhão, sofrerão de subnutrição em todo o mundo”, adverte a FAO em um relatório sobre a segurança alimentar mundial.


“O número supera em quase 100 milhões o do ano passado e equivale a uma sexta parte aproximadamente da população mundial”, destaca a agência.

No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome não tem dados próprios e atualizados em escala nacional. Toda a política da pasta tem sido estabelecida a partir das pesquisas do IBGE, a última delas sobre segurança alimentar publicada em maio de 2006. O estudo foi realizado para complementar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), realizada em 2004, e nele constatou-se que em 34,8% das residências (nos quais viviam 72 milhões de pessoas) foi detectada situação de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave). Nesse universo, em 18,8% dos domicílios, nos quais viviam 39,5 milhões de pessoas, existia insegurança alimentar moderada ou grave – definidas como “limitação de acesso quantitativo aos alimentos, com ou sem o convívio com situação de fome”.

Os dados mais atualizados que podem ser relacionados com a fome foram elaborados pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, dirigido pelo economista e professor Marcelo Neri, e referem-se à pobreza no Brasil.

Neri explicou ao Jornal do Brasil que, entre dezembro de 2008 e abril de 2009, houve aumento no percentual de brasileiros pobres, assim considerados os que ganham menos de R$ 134 por mês. E que interrompeu-se uma sequência de quedas que vinha de abril de 2004, quando viviam na situação de pobreza 30% dos brasileiros residentes em regiões metropolitanas. Em dezembro de 2008, o percentual de pobres caíra a 17,68%. Em abril de 2008 o percentual de pobres passou para 18,92% desse universo, segundo explicou Nery.

Outro dado que pode ser associado à situação de fome e miséria no Brasil é a Pesquisa Nacional sobre Saúde da Criança e da Mulher, publicada em 2006 e elaborada por especialistas das universidades de São Paulo (USP) e de Campinas (Unicamp), em colaboração com o Ibope: a pesquisa revelou anemia em 20,9% das crianças e em 29,4% das mulheres. A deficiência de vitamina A ocorreu em 17,4% das crianças e 12,3% das mulheres

Para Sônia Lucena, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) – órgão ligado à Presidência da República – a contribuição do Brasil para esse aumento é irrelevante. Sônia diz que a desnutrição está caindo em todas as regiões do país, principalmente na Região Nordeste.

– O Brasil não está contribuindo para esse número de 200 milhões de crianças desnutridas no mundo – afirma a conselheira, com base em pesquisas do Ministério da Saúde e do Consea.

A redução da desnutrição no Brasil, segundo Sônia, deve-se ao maior acesso dos brasileiros à informação e à água, à criação de empregos e a programas sociais do governo federal, como Bolsa Famíla e Fome Zero.

– Cerca de 80% do Bolsa Família são utilizados para comprar comida – garante.

Países em desenvolvimento

Segundo as estimativas da FAO, baseadas em um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, “a maioria das pessoas subnutridas vive em países em desenvolvimento”. Cerca de 53 milhões de pessoas vão sofrer com a fome neste ano na América Latina e Caribe. O número chega a 642 milhões na Ásia-Pacífico, 265 milhões na África Subsaariana, 42 milhões no Oriente Médio e África do Norte e 15 milhões nos países em desenvolvimento.

O número de subnutridos no mundo passou de 825 milhões no biênio 1995-1997 a 873 milhões de 2004 a 2006. Mas o número caiu de 963 milhões a 915 milhões no ano passado, em função de avanços na distribuição dos alimentos, mas a tendência se reverteu com o agravamento da crise econômica.

Para a FAO, o objetivo fixado em 1996 na Cúpula Mundial sobre a Alimentação, de reduzir à metade o número de pessoas com fome, não será alcançado. A meta foi ratificada, no entanto, com o compromisso de ser atingida em 2015, em uma reunião da ONU em Roma, em junho de 2008. Mas a redução da renda pela crise e os preços dos alimentos foram devastadores para as populações mais vulneráveis.

“O aumento da insegurança alimentar que aconteceu em 2009 mostra a urgência de encarar as causas profundas da fome com rapidez e eficácia. A atual desaceleração da economia mundial é uma das principais causas do aumento da fome no mundo”, conclui o estudo.

22:08 - 19/06/2009

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