quinta-feira, 18 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (27). Novela


No reino Jingola os mercenários e os mercadores imobiliários desenvolvem-se. A revolta da população também.



Obrigaram-se a limpar os restos da orgia, melhor dito, da maratona. Limparam as espinhas do peixe que pareciam terem saído duma imensa fábrica de transformação de gataria e canídeos, dessas made in China. Claro que foram as mulheres que trataram disso, arrastando as filhas para as ajudarem. Os homens bem escondidos, disfarçados atrás das árvores continuavam na bebida. Mas tinham um sinal secreto. Quando o accionavam era sinal para os filhos trazerem a bebida. Se algo corresse mal, era feito outro sinal, e vinha água para regar. Uma pobre planta inventada, acabada de plantar nesse momento.

Com os divinos rastos, (não são restos não) do Dão Meia Encosta a fugir do cérebro, um Jingola recorda-se que deixou a esposa no pardieiro a aquecer o que se ajeitava no leito. Uns papelões dos electrodomésticos das lojas dos asiáticos. Jingola ainda será uma província asiática. Enfrenta-se com a estátua da rainha, e confunde-a com a sua esposa.
- Querida, finalmente atingi os píncaros dos poetas. Querida sou eu, mais um poeta. Já cheguei, abra a porta… sou eu. Ai! Ai!.. as minhas mãos. Você mudou as tábuas da porta porquê!? A minha querida esposa é a única que entende a minha poesia.

Minha querida esposa
quando nos libertamos de uma
esposa
Aparece outra pior, porque
esqueci-me de lhe mudar as pilhas
do reino do Dubai.
Tudo que carregamos não é nosso
é dos estrangeiros

Entretanto, a esposa já há muito que o procurava. Encontrou-o ainda no diálogo com a rainha, no martírio da estátua. Tira um chinelo e dá-lhe um monte de chineladas.
- Vá, vamos para casa seu putanheiro de merda!
Chegam a casa. O marido senta-se à porta. Não quer entrar com medo de mais chineladas, tenta o artifício da retórica.
- Contrariamente ao que pensamos a vida é muito fácil. Basta libertarmo-nos dos ditadores. Eles escolhem o que comem. Nós comemos tudo o que nos dão, que nos aparece pela frente.
- Que puta é essa que te ensinou isso? Vá diz-me, para lhe arrancar a rata à dentada. Essas putas de merda gostam muito de roubar os maridos das outras.
De repente serena, sente ultra compaixão pelo pobre marido.
- Vá, vai dormir... não te bato mais. Amanhã tens que ir trabalhar, SENÃO PONHO-TE FORA DE CASA!!!

Epok, narra ao rei os últimos acontecimentos. Pede-lhe que se faça justiça.
- Meu rei. As nossas diferenças do género no feminino estão impassíveis, impossíveis, insuportáveis… depravadas. Estão a transformar tudo o que temos de belo, num reino pagão. Tenho que importar mais piranhas. Desta vez juro que acabo com elas. Nem a rainha respeitam, não respeitam ninguém. Quanto mais lhes chamamos a atenção, fazem pior. São mais horríveis que as piranhas.
- Epok, têm que ver duas coisas: a primeira é que temos que evitar a todo o custo qualquer conflito com elas. As mulheres Jingolas são muito pacíficas, mas quando se revoltam são terríveis. Temos que aprender a conviver com elas. Afinal, são as que temos, e nos outros reinos dizem que são as mais bonitas do Mundo. Existe já um número considerável delas que escolhem o suicídio… isso é muito preocupante, porque já não suportam viver no nosso reino. Em segundo lugar, se cairmos em cima delas, a rádio dos republicanos a cada minuto vai estrondar que estamos a exterminar as negras. Que fomos nós que acabámos com elas. O paladino Divad sempre com as Mãos Livres, qual Jesus Cristo, vai pregar a parábola do bom semeador. Bom, construindo um muro bem alto à volta do Castelo, resolve-se o problema.
- O meu rei é um iluminado! O único, o arquitecto da sabedoria.
- Piranhar meu caro Epok, é por isso que sou o rei. Que mais temos?

Imagem: Angola em fotos

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