terça-feira, 2 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (21). Novela


O Rei senta-se, monta a compostura, mostra semblante sério, muito preocupado. Afinal os destinos do reino e da escumalha populacional vão fenecer nas suas mãos. Tudo e todos dele dependem. De repente fica como ouvidos de lebre, atenta-se, intriga-se, pergunta aeriforme:
- Que gritos são estes?!
- É lá fora. São as arruaceiras que estão a kizombar. Só sabem fazer isso e mexer o rabo. – Esclareceu a rainha.
- Meu rei, vou escorraçá-las. – Lambeu-se Epok.
- Deixem-nas em paz, senão invadem-nos o Castelo.

O rei cilindrou com o olhar a assistência. Depois mirou para uma montanha de folhas de papel. Parece atrapalhar-se, recompõe-se, pega em algumas e esclarece solenemente:
- Devido às suas funções prementes daremos primazia aos exércitos. Tem a palavra o marquês do Exército do Ar.
- Grato meu rei! Com os pés bem assentes no chão, felicito-o pela construção das grandes cavalariças que permitirão a descida dos cavalos voadores. Seremos um punhal cravado na África Austral e quiçá em toda a África Negra. Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva…
- Basta marquês! Tem a palavra o marquês do Exército do Mar.
- Sim meu rei. Com a compra do porta cavalos real, que mais tarde se poderá adaptar a porta-aviões, os mosqueteiros do Mar Real controlarão todo o nosso mar.
- Nada de exageros. Os reinos fronteiriços vão ficar desconfiados.
- Não meu rei. Será camuflado, faremos dele um casino marinha flutuante.

- Tem a palavra o marquês do Exército de Terra.
- Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva o…
- Está com a cabeça no ar. Estou a pensar em nomeá-lo vice-marquês do Ar… tem a palavra o marquês do Desemprego.
- Obrigado meu rei. Conseguimos, cumprimos inteiramente com as nossas tarefas. Não há empregos para ninguém, só para estrangeiros.

- Tem a palavra o marquês dos Vice-reinos.
- Meu rei. Os Vice-reinos dizem que estamos a colonizá-los.

- Tem a palavra o marquês das Terras.
- Meu rei, os planos cumpriram-se. As melhores terras estão com a nossa nobreza e com os nossos amigos estrangeiros. Resta para os nacionais a terra para os aterrar.

- Tem a palavra o marquês dos Peixes.
- Majestade! O nosso mar está infestado de peixe mas a população passa fome. Ainda não conseguimos deportar os pescadores do viscondado da Ilha. Gastámos muito dinheiro na importação de peixe.
- O quê?!
- Na importação de milhares de piranhas.
- Ah! Tem a palavra o marquês das Sobras da Guerra.
- Obrigado. As sobras da guerra são piores do que ela. Temos sobras a mais. Sinceramente não sei o que fazer com elas… com eles.

- Tem a palavra o marquês Sem Ciência.
- Esforço-me por adquirir a tal ciência. Levá-la aos locais mais escondidos do reino. Mas há sempre alguém que mo impede. Tem um gosto mórbido pelo analfabetismo.

- Tem a palavra o marquês das Cantinas.
- Muito grato. As cantinas, mercearias, bares, restaurantes, todo o comércio estão nas mãos dos estrangeiros. Plano cumprido a cem por cento.

- Tem a palavra o marquês dos Pasquins.
- Gratíssimo. A rádio dos republicanos sofre de uma teimosa doença. Além do reino, pretende ser escutada nos vice-reinos. Já os ameaçámos com a prisão. Mesmo assim não desistem. Aconselhamos aumentar a importação de piranhas porque há aqui muita comida. Na imprensa real do reino existe uma forte disciplina. Só noticiam conforme os nossos pedidos. Os privados são genuínos pasquins. Só sabem é dizer mal de nós. Acho que assim ficam entretidos e não nos incomodam. São agentes do republicanismo internacional. De qualquer modo é uma subversão que lhes serve de passatempo. E isso não nos incomoda muito. Viva o rei! Viva o seu reino de mil anos!

Imagem: Angola em fotos

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