quinta-feira, 11 de junho de 2009

A Epopeia das Trevas (14)


Não é necessário ir a um circo para nos rirmos com os palhaços. Basta olharmos por exemplo para a TV e ouvir o embaixador de Portugal falar das relações de amizade entre os dois povos.


É a melhor saída para salvar o que resta, o que ainda vive. Acabar com a palavra empresário para começar. São estes os demónios que sobreviveram na batalha dos céus contra Gabriel, e caíram na Terra dissimulados. Os sofrimentos da humanidade, a fome, estão nas suas mãos. Devemos acabar com eles. Serviram-se do Cristianismo, apoderaram-se do Santo Graal e dos seus segredos, para nos dominarem. Estes são os iniciados da maldade humana, por isso se explica que ao longo dos tempos fossem criadas várias sociedades secretas para evitar a extinção da raça humana. A luta da humanidade, as revoluções, as guerras… desenvolve este antagonismo milenar: sociedades secretas criadas para resistir ao aniquilamento do poder ditatorial, à proibição do desenvolvimento das ideias. Foi assim contra Voltaire…

Andamos, movemo-nos como seres invisíveis. Ninguém dá conta, sente a nossa presença. Se fortuitamente alguém tropeça na nossa sombra, volta-se, espreita, aguarda indeciso. Descobre que foi algo… como um nevoeiro repentino que surgiu do nada. Pensa que foi talvez alguma ramagem de árvore incomodada pelos transeuntes anónimos que deseja relembrar os tempos há muito passados, esquecidos, quando as folhas verdes que caíam, eram veneradas, amadas, deusas geradas pela Terra-Mãe. A multidão de pessoas a caminharem habitualmente sem destino é muito impessoal. Os filhos cruzam-se com os pais, não se reconhecem. Melhor, fazem gestos de jardim zoológico. Porque entre seres humanos nas ruas e animais em cativeiro não há nenhuma diferença. Apenas uma: a prisão das espécies em cativeiro é pequena, as grades da prisão da espécie humana são imensas.
Alardeamos com prazer que acabámos com a escravatura. Quando na nossa mórbida ingenuidade proverbial não queremos aceitar a verdade suprema: Somos escravos eternos das necessidades fisiológicas e biológicas do nosso corpo. A nossa mente é pobre, humilde servidora, perante a mais elementar necessidade da fisiologia humana. Esta é a mais atroz servidão humana.

Atraído pelas teclas patéticas de um piano, som imortal, o homem da rua não consegue distinguir de onde vêm, mas mesmo assim pára hipnotizado. Sublimes marteladas nas teclas despertam a sua consciência. Sente na alma uma luz inexplicável. O seu cérebro tenta transmitir as sensações agradáveis da melodia que paira. Consegue arrastar, parar no seu caminho mais um escravo eterno. Teimamos, não aceitamos, que o perfume musical nos escraviza. Tal como o amor. Só que por mais que tentemos, não conseguimos explicar a doçura musical dos sons que compõem, que nos levam ao mais elementar caminho da existência humana. O amor do inicio dos tempos da nossa mocidade.

O nosso pensamento é imaterial, surge do espaço vazio. Entretanto consegue materializar objectos, utensílios, o que inventamos e utilizamos. Na dúvida se Deus existe, creio que o nosso pensamento é uma resposta. Se criamos matéria a partir do nosso pensar, eis a explicação para a existência do divino. Deus não é matéria, a nossa mente também não. Portanto o nosso pensamento é Deus. Sim, sem nos darmos conta, estamos a cumprir o mais elementar da nossa existência: a nossa alma etérea cumpre a função do Criador, participa da grandeza e pequenez do Universo. A nossa inspiração é o cumprimento de ordens Superiores dimanadas da central de controlo, situada algures no Universo.

Esses lagos profundos onde repousa a consciência, a essência da vida humana. Uns são de águas transparentes, outros de águas pantanosas. Alguns, poucos, são de águas calmas. Outros, a maioria, são de águas agitadas, violentas. Os violentos pedem aos ventos que façam tempestades, e aniquilem os espíritos das águas da calma sabedoria. O conhecimento agita o violento. Como o frio glacial que nos obriga a procurar um refúgio acolhedor. Os lagos humanos da violência e da intolerância perturbam-nos o sossego. Até nas noites a justeza do sono é-nos negada, interrompida, porque um lago secreto transbordou. A onda da nova guilhotina galga para o nosso leito, e corta a cabeça, mais uma, de qualquer recente consciência. Como um navio atracado no cais da amargura esperada, e depois assolado, levantado e transportado no ar, pelas trombas furiosas, repentinas de um furacão elefantino.

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