No coração do 'narcoestado'
EL PAÍS
Grandes narcotraficantes usam a Guiné-Bissau como base para introduzir droga na Europa. Um periodista do EL PAÍS percorreu o país: uma das nações mais pobres do mundo, um território onde os militares, envolvidos em sangrentas pugnas, impedem investigar os carregamentos de droga encontrados, e os 'narcos' latino-americanos cruzam a tenebrosa noite de Bissau em carros de luxo.
POR FRANCESC RELEA 28/06/2009
Os narcotraficantes andam por aí e não é difícil identificá-los. Nesta mesma sala já me contactaram quatro ou cinco vezes para proporem-me negócio. Aqui, onde está sentado você, ofereceram-me 10 milhões de euros". José Zamora Induta, 43 anos, chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, fala com uma naturalidade assombrosa sobre as redes de traficantes de drogas, locais e estrangeiras, neste país da África Ocidental. Zamora, capitão de navio (grau equivalente a coronel), é o novo homem forte depois do duplo assassinato, do 1 de Março, do presidente João Bernardo Nino Vieira e do chefe da cúpula militar, general Baptista Tagmé Na Wae. Hoje, os guineenses acorrem às urnas para elegerem um novo presidente, num clima onde predomina o pessimismo. Tão mal estão as coisas neste país africano, maltratado e esquecido em partes iguais, ao que uma agência da ONU e numerosos meios de informação já descrevem como o primeiro narcoestado de África?
Guiné-Bissau Capital: Bissau. Governo: República. População: 1,503,182 (est. 2008)
Os empregados públicos de Bissau, excepto os militares, não recebem os seus salários desde o mês de Janeiro.
Soldados de uniforme ocuparam-se dum avião procedente da Venezuela que a chefe da polícia acreditava cheio de droga
"Aqui faria falta um ditador, no bom sentido, para moralizar a sociedade", diz o chefe do Exército guineense.
"As Forças Armadas da Guiné-Bissau são um reino de Taifas, sem um comando claro", diz o chefe da missão da EU.
De noite no coração das trevas da capital guineense há vida. As sombras movem-se como em pleno dia. É a adaptação ao meio, como os felinos, de muitos anos de viver na obscuridade. A vida nocturna permite descobrir que a presença de traficantes de distinta indumentária, contrabandistas, negociantes, aventureiros, espias, confidentes, não é una fábula. Alimentados por ruidosos grupos de geradores eléctricos, bares, restaurantes e discotecas têm abundante clientela nos dias em que estão abertos. Há um casino. Um casino em Bissau? Para quê? Para lavar dinheiro sujo, comenta um residente estrangeiro com larga experiência em África. A imagem não pode ser mais deprimente. A sala de máquinas caça-níqueis está deserta. Numa esquina, uma mulher sentada na barra dá cabeçadas. Na sala de jogo, separada por uma cortina roxa, seis tipos jogam ao póquer num ambiente lúgubre.
EL PAÍS
Grandes narcotraficantes usam a Guiné-Bissau como base para introduzir droga na Europa. Um periodista do EL PAÍS percorreu o país: uma das nações mais pobres do mundo, um território onde os militares, envolvidos em sangrentas pugnas, impedem investigar os carregamentos de droga encontrados, e os 'narcos' latino-americanos cruzam a tenebrosa noite de Bissau em carros de luxo.
POR FRANCESC RELEA 28/06/2009
Os narcotraficantes andam por aí e não é difícil identificá-los. Nesta mesma sala já me contactaram quatro ou cinco vezes para proporem-me negócio. Aqui, onde está sentado você, ofereceram-me 10 milhões de euros". José Zamora Induta, 43 anos, chefe das Forças Armadas da Guiné-Bissau, fala com uma naturalidade assombrosa sobre as redes de traficantes de drogas, locais e estrangeiras, neste país da África Ocidental. Zamora, capitão de navio (grau equivalente a coronel), é o novo homem forte depois do duplo assassinato, do 1 de Março, do presidente João Bernardo Nino Vieira e do chefe da cúpula militar, general Baptista Tagmé Na Wae. Hoje, os guineenses acorrem às urnas para elegerem um novo presidente, num clima onde predomina o pessimismo. Tão mal estão as coisas neste país africano, maltratado e esquecido em partes iguais, ao que uma agência da ONU e numerosos meios de informação já descrevem como o primeiro narcoestado de África?
Guiné-Bissau Capital: Bissau. Governo: República. População: 1,503,182 (est. 2008)
Os empregados públicos de Bissau, excepto os militares, não recebem os seus salários desde o mês de Janeiro.
Soldados de uniforme ocuparam-se dum avião procedente da Venezuela que a chefe da polícia acreditava cheio de droga
"Aqui faria falta um ditador, no bom sentido, para moralizar a sociedade", diz o chefe do Exército guineense.
"As Forças Armadas da Guiné-Bissau são um reino de Taifas, sem um comando claro", diz o chefe da missão da EU.
De noite no coração das trevas da capital guineense há vida. As sombras movem-se como em pleno dia. É a adaptação ao meio, como os felinos, de muitos anos de viver na obscuridade. A vida nocturna permite descobrir que a presença de traficantes de distinta indumentária, contrabandistas, negociantes, aventureiros, espias, confidentes, não é una fábula. Alimentados por ruidosos grupos de geradores eléctricos, bares, restaurantes e discotecas têm abundante clientela nos dias em que estão abertos. Há um casino. Um casino em Bissau? Para quê? Para lavar dinheiro sujo, comenta um residente estrangeiro com larga experiência em África. A imagem não pode ser mais deprimente. A sala de máquinas caça-níqueis está deserta. Numa esquina, uma mulher sentada na barra dá cabeçadas. Na sala de jogo, separada por uma cortina roxa, seis tipos jogam ao póquer num ambiente lúgubre.
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