quarta-feira, 10 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (24). Novela


Estória é a História dos idiotas

- Marquês das Epidemias!
- Magnificente reino endémico, meu rei. Tudo o que é epidemia existe neste reino. Não somos os culpados porque foram importadas. Exceptuando as epidemias da peste negra do líquido crude, das pedras brilhantes e da fome, nada mais tenho a dizer.

- Tem a palavra o marquês dos Coches e Liteiras!
- Ilustre rei que o reino deu à luz. Os transportes são a nossa espinha partida, apesar dos coches e liteiras estarem inteiros. Estamos a investir nos coches de ferro, mas ninguém quer trabalhar. Estão sempre a lamentar-se que estão com fome. Vai daí, lembrei-me de contratar trabalhadores da Dinastia Chinesa. São presidiários que vem para aqui degredados cumprir pena. São muito dóceis e não incomodam ninguém. Não são como a nossa ralé, que andam sempre tristes. Pelo contrário, os chineses andam sempre sorridentes. Obrigado pela atenção meu rei.

- Marquês das Casas em Ruínas!
- Virtuoso rei. Exceptuando as casas da nobreza, já não existem casas em ruínas. Foram todas partidas. Plano cumprido a cem por cento.

- Digno marquês dos Altos Tribunais!
- A nossa Carta Constitucional é violada permanentemente pelos arautos republicanos e pela peste dos esfomeados. Contudo, estamos à procura dos caminhos da democracia, que são muito difíceis de encontrar.
O rei pega na sua caneta e cola-a no bolso do casaco. Vai falar:
- Nobres, declaro encerradas as Cortes Reais. Não faltem ao meu jubileu dos trinta e tal anos. Tchau.
- Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei! Viva o rei!
- Gostaria de saber quem foi o grande filho da puta que inventou isso das Cortes Reais. Porra, já me estava a dar sono. Se apanhasse esse tipo, as piranhas ficariam muito felizes. – Pensou Epok.

CAPÍTULO VI
A GRANDE FARRA

… e imobilizam a terra que nem cultivam nem deixam cultivar, as empreiteiras que seguem se equilibrando no apoio a políticos corruptos em troca de contratos públicos, as famílias da mídia que seguem fielmente as tradições truculentas do Chatô e loteiam o próprio espaço da informação para perpetuar feudos políticos e económicos, as próprias formas clânicas de fazer política, constituem hoje uma superestrutura medieval, mal disfarçada pelos celulares, computadores e carros de luxo que utilizam.
In Capitalismo, novas dinâmicas, outros conceitos. Ladislau Dowbor http://www.dowbor.org/

Epok acordou ao mesmo tempo que o sol. Sentia-se cheio de energia, bem disposto, com grande vontade de resolver qualquer problema que surgisse. No fundo queria apenas ser útil ao seu rei. Preparou-se e pôs-se a caminho. A certa altura aborreceu-se quando se lembrou que patifarias os republicanos lhe fariam hoje. Ah! Ao diabo com eles. Se o rei deixasse as piranhas teriam comida para cem anos. Encontrou-se com três nobres, cumprimentou-os.
- Meus amigos, há muito que não sentia no reino uma manhã como esta!
- É verdade, verdejante, não tens nada que nos inspire?
- Tenho… vamos para os Tonéis dos Vinhos Tintos Reais. Atestaram-se bem com a incorporação, importação do reino Tuga... das minhas vinhas que comprei nas encostas tugas. Vinho tinto Dão Meia Encosta. Na realidade é uma boa encosta.

Chegaram aos tonéis. Pegaram nos cálices, Epok abre a torneira, encosta o cálice no Encosta. Não encosta nada. Abre-a até ao fim, escorre apenas uma gota, depois outra. Vai para outro tonel, a história repete-se. Lembra-se de dar socos na madeira. Recebe sons ocos. Baixa-se e vê um furo grande. Espreita nos outros e vê a mesma coisa. Acabou-se a bela manhã.

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