quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (22). Novela


Com o elevado analfabetismo, Angola e a África Negra não têm a mínima hipótese de sobrevivência.

- Tem a palavra o marquês da Mala-Posta.
- Rei dos Reis. A nobreza tem as comunicações que merece. Os outros que se lixem. Conforme o pensamento iluminado do nosso divino rei, já importámos grande quantidade de pombos-correios para servir a ralé. Porque a nossa mala-posta, devido ao estado das estradas não consegue comunicar.

- Tem a palavra o marquês da Guerra.
- Meu rei... acabámos com a guerra. Mas enfrentamos outra. Esta é muito diferente, terrível guerra. Lutar contra desempregados e esfomeados. Uma guerra perdida. Faremos o nosso melhor. Dos fracos não reza a história. Porque os fortes os mantêm como soldados desconhecidos.

- Tem a palavra o marquês dos Analfabetos.
- Soberano! Meu rei! Majestade! Rei Sol! Rei do reino e vice-reinos! Sublime Rei! Rei do céu e da terra!.. Os professores republicanos passam o tempo em greves por falta de pagamento. Com professores ou sem eles os analfabetos aumentam. Que nos interessa um instituto superior ou universidade, se não têm uma boa biblioteca?!
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- Tem a palavra o marquês dos Aguadeiros.
- Água é o que não nos falta. Porém todos se queixam que ela não aparece. Gastámos muita fortuna em obras, mas continuamos a cometer um grande erro. Ligamos, desligamos. A pressão que isso causa nos canos e condutas, provoca tão grande pressão que rebenta com tudo. Há inundações todos os dias e em todo o lado. Fazemos concorrência à chuva. A população já se habituou a chamar os bombeiros devido às inundações. É necessária uma revisão dos preços, porque estão a vender uma cisterna de água a cem dólares.

- Tem a palavra a marquesa das Mulheres Abandonadas.
- Rei! Sinto-me feliz! Conseguimos abandonar, desprezar e humilhar todas as mulheres. Conseguimos desfazer os seus lares. Conseguimos que todas se empregassem na prostituição. Ih! Ih! Ih!

- Tem a palavra o marquês FMI.
- Meu Rei. Dignos e nobres accionistas... dignos detentores de todas as riquezas do reino e vice-reinos. Com os empréstimos da dinastia chinesa, e a importação do seu povo, vamos conseguir finalmente um dos nossos maiores objectivos. Colocar os jingola que restam no desemprego. Conseguimos afastar todos os malditos contabilistas que tantos males nos fazem. Assim, as portas da corrupção estão finalmente escancaradas. Salve-se quem puder. Acrescento que os empréstimos da dinastia chinesa deveriam serem utilizados para importar comida para a população, e esta pagar a crédito. Porque sem comida ninguém consegue trabalhar. Um dos inúmeros generais dos nossos exércitos ronda os chineses para construir prédios. Já foi visto com quatro inacabados na inspecção que fizemos, mas tem mais espalhados por todo o reino.
Estou sempre muito ocupado com o reino do FMI. Desculpem por não me poder alongar. FMI é dinheiro. As esplêndidas fortunas – como os ventos impetuosos – provocam grandes naufrágios. Assim falou Plutarco.

- Tem a palavra o marquês das Minas Gerais.
- Meu rei! Nobres! As Minas Gerais generalizaram-se nos generais… são particulares. Os diamantes são de quem os apanhar. Um vice-rei da banda planaltica, aqui presente, disse que só agora tomou conhecimento do saque que os estrangeiros fazem no seu vice-reino. Mas não é verdade. A rádio dos republicanos já tinha denunciado isso há que tempos. Agora temos mais de vinte mil estrangeiros. Todos os garimpeiros da África.

Imagem: Angola em fotos

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