terça-feira, 16 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (26). Novela


O reino Jingola está incrível. Actualmente governar é cometer infindáveis crimes. E tudo está correcto porque houve a tal eleição democrática que tudo legitima. Pobre e triste reino… se ao menos tivesse um cavaleiro que demandasse o Santo Graal.


- Quem roubou as piranhas?
- O fosso secou e como estavam a morrer… a sofrer… aproveitámos.
- Vão todos para as piranhas.
- Ah! Ah! Ah! Já estamos com elas.
- Estão muito satisfeitos!
- Queremos beber mais água do fosso do Dão tinto.
- Todos a andarem daqui!
- Não! Só estamos a tomar banhos de sol!

A rainha não resiste. Aproxima-se de uma jovem que espreguiça o belo corpo, acariciado e modelado pela luz solar. Dança sensualmente.
- Suas desavergonhadas, estão todas nuas porquê?!
- Não temos nada para vestir, vocês roubaram-nos tudo.
- Prostitutas, deviam ir para a Santa Inquisição, tenham vergonha!
- Prostituta? Eu? Isto que tenho aqui é propriedade privada. Para usar e abusar. Felizmente não é descartável. Isto não é para quem quer, mas para quem merece. Se fosse rainha neste reino também não me faltaria nada.
- Isso não é justificação, ordinárias, suas moles sem cultura. Andam à toa, vistam-se se faz favor.
- Não vês que nos espoliaram a roupa!
- Assim é que estão bem vestidas. Ih! Ih! Ih!
- Ai é? Viver num campo de nudismo é muito saudável, sabias?

A jovem põe as mãos na cabeça. Invoca um feitiço. Ouve-se um grande estrondo vindo do céu. Um poderoso raio de luz agita o seu corpo, que se transforma na poderosa Deusa Africana da Dança. Estremece, agita-se, segue comandada por som invisível. Dança a eterna sensualidade negra, da qual só elas conhecem o segredo. Canta:

Sou Jingola
Meus antepassados
Todos andaram e beberam aqui
(mostra o sexo)
Sinto-me orgulhosa
Por ter nascido assim
(mostra o sexo)
Isto é a minha epidemia
Oh! Minha Jingola
Oyé! Oyé!
Viva o rei dos piranhas
Oyé! Oyé!
Viva a rainha das piranhas
Oyé! Oyé!

Atingidos pelo som e pela dança, a amálgama de corpos desperta. Sentem o ritmo na alma e no corpo. O silêncio chega, torna-se confrangedor. Ouve-se um lamento.
- Põe essa merda outra vez a tocar.
Infelizmente ninguém dá resposta. Como renascidos das trevas, olham para os seus corpos nus. Uma jovem duma igreja rigorosa grita.
- Onde estão as nossas roupas???
Alguém obriga todos a olharem na direcção da sua mão. Num pau espetado no chão, vê-se um soutien, uma tanga e um papel escrito: A QUADRILHA DO ROBIN ALAMEDA SQUAD PASSOU POR AQUI.

Uma maratonista está prestes a dar à luz, a adquirir um bonitinho. Põe as mãos na barriga, improvisa uma dança, implora ao próximo esfomeado que lhe renasce:
- Estás com medo de nascer, né!? Sai bonitinho… que a fábrica da mamã tem leite para alguns meses. Depois não sei. Olha! Aprende a viver com a fome. É esse o teu destino. Vou atirar-te para o caixote do lixo, pode ser que algum novo-rico do palácio petrolífero te recolha.

Imagem: Angola em fotos

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