Seria retomada em muitas ocasiões da tradição judaica por sua extremada conveniência: que os negros foram feitos para serem escravos.
CARLOS IVORRA
Entretanto, Jeroboam encontrou-se com certos problemas políticos que devia resolver. Durante os reinados de David e Salomão fez-se um considerável esforço para unir todos os israelitas e judeus em torno a um culto comum, com centro em Jerusalém. Sem dúvida, dito culto era agora uma ameaça para a monarquia israelita. Se Israel seguia rendendo culto ao deus de Jerusalém, os seus exércitos podiam negar-se a atacar a Judeia em caso de necessidade por questões religiosas. Jeroboam poderia reconstruir Siló, mas talvez considerava perigoso de todos os modos compartir um deus com a Judeia. Em seu lugar, fomentou dois centros religiosos, um ao Sul, em Betel, a só 16 quilómetros de Jerusalém, e outro ao Norte, em Dan. Em ambos colocou a figura dum touro jovem, cujo culto estava muito arraigado em Efraim, e organizou uma classe sacerdotal que cuidaria dos rituais. Isto originou uma perpétua inimizade entre a realeza e ainda à poderosa classe sacerdotal dedicada ao culto de Iavé ou, melhor dito, de Eloím, que era o nome que os israelitas davam ao deus bíblico.
Desta época datam os documentos mais antigos que se conhecem sobre a religião judeo-israelita. Neles podemos apreciar os esforços realizados durante os reinados de David e Salomão para dotar os judeus e israelitas duma tradição comum. Supostamente, as doze tribos de Israel chegaram juntas a Canaã conduzidas primeiro por Moisés e depois por Josué. Na realidade Josué deve ser um dos juízes ou caudilhos que tinha cada tribo, mas os mandatos simultâneos destes caudilhos são apresentados como sucessivos, de modo que aparentemente as doze tribos estiveram sempre debaixo de um comando comum incluso antes da monarquia. O deus de Moisés, identificado com o de Abraão, desempenha um papel central no destino de Israel: cada vez que os israelitas sofrem um revés, isso se interpreta como a represália divina por uma ofensa atribuída ao povo ou aos seus dirigentes (normalmente a adoração de outros deuses); cada vez que as coisas vão bem isso é signo do favor de Deus para algum varão virtuoso. (Entre os casos mais forjados está o de uma epidemia de peste que houve durante o reinado de David. Segundo a Bíblia, a causa foi que David ofendeu a Deus ordenando fazer um censo a Israel.)
Ademais dos textos históricos e pseudo históricos (com a história de Abraham, Isaac, Jacob-Israel, e seus doze filhos, etc.) também encontramos mitos cananeus de origem suméria adaptados à visão do mundo judeo-israelita. Há uma vaga história da criação do homem, assim como uma versão do dilúvio universal seguida de extensas genealogias dos patriarcas, que se correspondem com nomes de povos e tribos. Por exemplo, Noé, o sobrevivente do dilúvio segundo a versão Israelita do mito, teve três filhos: Sem, Cam e Jafet. Do último descendiam os povos mais distantes, entre eles os egípcios, de Sem descendiam os próprios israelitas e povos afins, como os hebreus, enquanto que Cam era o antecessor dos cananeus e outros povos subjugados (Canaã era um dos filhos de Cam). Na primeira versão, Cam (ou Canaã) castrou o seu pai enquanto este dormia borracho. A versão final da bíblia suavizou o crime de Cam reduzindo-o a "ver desnudo ao seu pai e não cobri-lo". Em qualquer caso, Noé maldisse a Cam (e aos seus descendentes), condenando-o a ser "escravo dos escravos de seus irmãos", o que justificava que os israelitas matassem ou escravizassem os cananeus. Os egípcios haviam importado tempo atrás escravos negros procedentes da África central. Os israelitas explicaram a cor negra da sua pele como signo de que eram descendentes do maldito Cam, e assim introduziram na história uma ideia que, ainda que não conste explicitamente na Bíblia, seria retomada em muitas ocasiões da tradição judaica por sua extremada conveniência: que os negros foram feitos para serem escravos.
Entretanto, em 919 morreu o rei do Egipto Sheshonk I e foi sucedido por Osorkon I, que herdou um Egipto relativamente próspero, se bem o novo rei não soube ou não conseguiu fazer mais que manter-se a duras penas.
O rei Roboam da Judeia morreu em 913 e foi sucedido pelo seu filho Abiyyam, que morreu aos dois anos e foi sucedido por sua vez pelo seu filho Asa, em 911. Os judeus recordavam o reinado de David como a sua época mais gloriosa, e nunca questionaram o direito ao trono dos seus descendentes. Não ocorria o mesmo em Israel, cuja maior debilidade foi em todo o momento a falta duma tradição tanto política como religiosa. Nesta época os arameus estavam solidamente instalados na Síria. O reino de Damasco, sob o rei Benhadad I, estendeu-se nos últimos anos até converter-se numa nação tão grande como Israel. Sem dúvida, também a vizinha Assíria ressurgia. No mesmo ano que Asa subiu ao trono da Judeia, o rei Adad-Narari II ocupava o trono da Assíria e começou a reorganizá-la. Pronto começou a mostrar o seu poder sobre os principados aramaicos.
Jeroboam morreu em 910 e foi sucedido por seu filho Nadab, mas não logrou manter-se no trono mais de um ano. Um general chamado Basa deu um golpe de estado em 909 e ocupou o trono. Para consolidar o seu questionável direito ao trono estimulou a guerra contra a Judeia. O rei Asa enviou presentes ao rei sírio rogando-lhe que atacasse Israel. Benhadad I acedeu comprazido ante esta possibilidade de expansão, e assim se formou uma aliança graças à qual a débil Judeia pôde resistir a Israel.
(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.
Imagem: Salomão e a rainha do Saba
http://www.esoterikha.com/grandes-misterios/templo-de-salomao/rei-salomao-rainha-saba.php
CARLOS IVORRA
Entretanto, Jeroboam encontrou-se com certos problemas políticos que devia resolver. Durante os reinados de David e Salomão fez-se um considerável esforço para unir todos os israelitas e judeus em torno a um culto comum, com centro em Jerusalém. Sem dúvida, dito culto era agora uma ameaça para a monarquia israelita. Se Israel seguia rendendo culto ao deus de Jerusalém, os seus exércitos podiam negar-se a atacar a Judeia em caso de necessidade por questões religiosas. Jeroboam poderia reconstruir Siló, mas talvez considerava perigoso de todos os modos compartir um deus com a Judeia. Em seu lugar, fomentou dois centros religiosos, um ao Sul, em Betel, a só 16 quilómetros de Jerusalém, e outro ao Norte, em Dan. Em ambos colocou a figura dum touro jovem, cujo culto estava muito arraigado em Efraim, e organizou uma classe sacerdotal que cuidaria dos rituais. Isto originou uma perpétua inimizade entre a realeza e ainda à poderosa classe sacerdotal dedicada ao culto de Iavé ou, melhor dito, de Eloím, que era o nome que os israelitas davam ao deus bíblico.
Desta época datam os documentos mais antigos que se conhecem sobre a religião judeo-israelita. Neles podemos apreciar os esforços realizados durante os reinados de David e Salomão para dotar os judeus e israelitas duma tradição comum. Supostamente, as doze tribos de Israel chegaram juntas a Canaã conduzidas primeiro por Moisés e depois por Josué. Na realidade Josué deve ser um dos juízes ou caudilhos que tinha cada tribo, mas os mandatos simultâneos destes caudilhos são apresentados como sucessivos, de modo que aparentemente as doze tribos estiveram sempre debaixo de um comando comum incluso antes da monarquia. O deus de Moisés, identificado com o de Abraão, desempenha um papel central no destino de Israel: cada vez que os israelitas sofrem um revés, isso se interpreta como a represália divina por uma ofensa atribuída ao povo ou aos seus dirigentes (normalmente a adoração de outros deuses); cada vez que as coisas vão bem isso é signo do favor de Deus para algum varão virtuoso. (Entre os casos mais forjados está o de uma epidemia de peste que houve durante o reinado de David. Segundo a Bíblia, a causa foi que David ofendeu a Deus ordenando fazer um censo a Israel.)
Ademais dos textos históricos e pseudo históricos (com a história de Abraham, Isaac, Jacob-Israel, e seus doze filhos, etc.) também encontramos mitos cananeus de origem suméria adaptados à visão do mundo judeo-israelita. Há uma vaga história da criação do homem, assim como uma versão do dilúvio universal seguida de extensas genealogias dos patriarcas, que se correspondem com nomes de povos e tribos. Por exemplo, Noé, o sobrevivente do dilúvio segundo a versão Israelita do mito, teve três filhos: Sem, Cam e Jafet. Do último descendiam os povos mais distantes, entre eles os egípcios, de Sem descendiam os próprios israelitas e povos afins, como os hebreus, enquanto que Cam era o antecessor dos cananeus e outros povos subjugados (Canaã era um dos filhos de Cam). Na primeira versão, Cam (ou Canaã) castrou o seu pai enquanto este dormia borracho. A versão final da bíblia suavizou o crime de Cam reduzindo-o a "ver desnudo ao seu pai e não cobri-lo". Em qualquer caso, Noé maldisse a Cam (e aos seus descendentes), condenando-o a ser "escravo dos escravos de seus irmãos", o que justificava que os israelitas matassem ou escravizassem os cananeus. Os egípcios haviam importado tempo atrás escravos negros procedentes da África central. Os israelitas explicaram a cor negra da sua pele como signo de que eram descendentes do maldito Cam, e assim introduziram na história uma ideia que, ainda que não conste explicitamente na Bíblia, seria retomada em muitas ocasiões da tradição judaica por sua extremada conveniência: que os negros foram feitos para serem escravos.
Entretanto, em 919 morreu o rei do Egipto Sheshonk I e foi sucedido por Osorkon I, que herdou um Egipto relativamente próspero, se bem o novo rei não soube ou não conseguiu fazer mais que manter-se a duras penas.
O rei Roboam da Judeia morreu em 913 e foi sucedido pelo seu filho Abiyyam, que morreu aos dois anos e foi sucedido por sua vez pelo seu filho Asa, em 911. Os judeus recordavam o reinado de David como a sua época mais gloriosa, e nunca questionaram o direito ao trono dos seus descendentes. Não ocorria o mesmo em Israel, cuja maior debilidade foi em todo o momento a falta duma tradição tanto política como religiosa. Nesta época os arameus estavam solidamente instalados na Síria. O reino de Damasco, sob o rei Benhadad I, estendeu-se nos últimos anos até converter-se numa nação tão grande como Israel. Sem dúvida, também a vizinha Assíria ressurgia. No mesmo ano que Asa subiu ao trono da Judeia, o rei Adad-Narari II ocupava o trono da Assíria e começou a reorganizá-la. Pronto começou a mostrar o seu poder sobre os principados aramaicos.
Jeroboam morreu em 910 e foi sucedido por seu filho Nadab, mas não logrou manter-se no trono mais de um ano. Um general chamado Basa deu um golpe de estado em 909 e ocupou o trono. Para consolidar o seu questionável direito ao trono estimulou a guerra contra a Judeia. O rei Asa enviou presentes ao rei sírio rogando-lhe que atacasse Israel. Benhadad I acedeu comprazido ante esta possibilidade de expansão, e assim se formou uma aliança graças à qual a débil Judeia pôde resistir a Israel.
(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.
Imagem: Salomão e a rainha do Saba
http://www.esoterikha.com/grandes-misterios/templo-de-salomao/rei-salomao-rainha-saba.php
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