terça-feira, 30 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (31). Novela


- Vivermos sempre encerrados num castelo é viver mãe? Sempre com medo que alguém à mínima distracção nos abata? De que nos servirá o líquido negro se dentro de pouco tempo o vulcão popular o destruirá?! Note que já existem vários opositores e todos os dias aumentam. Ninguém se lembrou disso não é?! Pensavam que era tudo fácil. Escolheram o caminho errado, agora nunca mais teremos paz. Na verdade já estamos no purgatório. E isto é apenas o início. Não estamos a lutar contra animais. Estamos a lutar contra seres humanos.
- A minha filha pretende mudar o mundo? Eles já estão habituados a isso. Já nasceram escravos. Não se podem dar condições a escravos, senão revoltam-se contra o seu senhor. Não quero que isto aconteça no nosso reino.
- Não é nada disso mãe! Ontem havia ricos e pobres. Hoje há opulentos e esfomeados. Teimam que amanhã só existirão opulentos. Não entendem que isso não é possível? Não foi assim que originaram Bin Laden e a Al-Qaeda?! Os esfomeados antes de serem exterminados, imolar-se-ão num inferno jamais visto na História. Lutaram contra o colonialismo a favor do comunismo. Impuseram-nos o esclavagismo. Onde está o progresso que tanto apregoavam? Não se esqueçam que, quem com ferros mata, com ferros morre.
- Filha… naturalmente que existem classes sociais com as suas diferenças fundamentais.
- Não há diferença nenhuma. No primitivismo roubavam, no mercantilismo, comunismo, capitalismo e outros ismos roubavam. No neoliberalismo rouba-se mais que em todos os sistemas anteriores. Mas que merda de mundo é este?! Todos pensam só em roubarem? E depois? Quando não houver mais nada para roubarem? Não era melhor voltarmos ao primitivismo? Pelo menos sempre havia alguma coisa para comer. Agora, nos espaços que deveriam ser utilizados para plantar, constroem hotéis, torres, condomínios… arranha-céus. O tempo do inferno terminou. Agora estamos no purgatório!
- Minha princesa governar não é fácil.
- Pois não, governar não é dirigir guerrilheiros na mata. E contra milhões de esfomeados ninguém combate. Os jovens querem estudar, trabalhar, não conseguem. Passam fome. Têm que se revoltarem. A Humanidade ainda não saiu da selvajaria, porque continuamos a trabalhar para patrões.
- Querida filha! Não sei onde falhei na tua educação. És tão diferente da tua irmã.
- A minha irmã?! Ela tem tudo! Banca, lixo, cimentos, diamantes, telecomunicações, líquido negro etc, etc! Não sei onde ela consegue arranjar tanto dinheiro. Ela tem tudo mãe, eu não tenho nada!
- Também terás. Ainda és muito jovem. Esforça-te um pouco mais… aproveita as sobras da comunicação social estatal.
- Está bem mãe... quero fazer-te um pedido.
- O que é?
- Vou pôr vasos de flores em alguns locais.
- Só isso?! Acho muito bem minha querida ecologista.
- Gosto muito de ti mãe.

Assim que a jovem princesa saiu, a rainha sentiu as asas da sua voz e deu-lhe liberdade.

- Estou bem fodida com esta princesa. Esta menina é um novo vírus epidémico para o meu reino. Terei que apartá-la definitivamente antes que ela me tire a coroa. Enviá-la-ei para as calendas do reino Tuga. Quem sabe, lá amarre um branco que a engravide e por lá fique. Que Deus me dê a força do outro… do seu Reino.

Imagem. Angola em fotos

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