sexta-feira, 12 de junho de 2009

O Cavaleiro do Rei (25. Novela


Querem-nos matar a todos?! Então que matem, vá! Desafio de uma luandense perante o surto epidémico de estrangeiros que invade Angola.


- GUARDAS!!! Piranhas!!!
Não se houve voz. Epok desce na direcção da casa da guarda. Escuta roncos. Os guardas dormem abraçados às suas namoradas. Dá pontapés num. Este levanta-se a fazer acrobacias para se manter de pé. Os outros imitam-no. Pelo cheiro vê-se que estão embriagados.
- Mas… que grandes filhos da puta!
As jovens aproveitam a deixa, pegam na roupa, fogem e vestem-se aos tropeções. Epok pergunta:
- Quem roubou o vinho do rei?
- Foram… as manguei… mangas.
- Os mangas?
- Eram muitos… muitas mangas.
Epok viu que não dava manter diálogo com ébrios. Os vapores no cérebro fazem com que os neurónios pareçam um baralho de cartas desordenado. Milhares de litros de vinho não podiam voar. Lembrou-se de ir lá fora. Foi para a ponte levadiça. Viu a rainha que passeava e como quem não quer a coisa, aproximou-se assim que a modos de acidente.
- Minha bela rainha, que também bela manhã!
- Hum… Epok, não sente o cheiro horrível de peixe e de vinho?
- Sinto rainha minha.
- Sabe a sua origem?
- Estou a investigar.
- Acompanho-o.

Na ponte levadiça, o bom vírus vinícola Dão Meia Encosta imobilizou saudavelmente os guardas que pareciam ter um sono etéreo e eterno. Epok teve que manobrar sozinho. Atravessou a ponte na companhia da rainha, que estava mais bela que a miséria dos seus súbditos, sempre sem manhã e sem amanhã. O verde relvado rejuvenescido pelos raios solares estendia-se pela frente, ao encontro dos vários girassóis espalhados que olhavam para o sol. O cheiro a peixe e a vinho tornou-se intenso, insuportável. A rainha socorreu-se do seu lenço perfumado pelos astronómicos preços dos melhores perfumes franceses e encostou-o nas narinas. Iniciavam a descida de uma encosta, quando viram o que parecia ser uma gigantesca floresta de cadáveres humanos. Havia-os espalhados, naufragados por todo o lado. Não se sabia onde começavam e acabavam. Mulheres e homens nus abraçados. Restos de peixe cobriam o solo que mal se via. Recipientes cheios de vinho, e outros vazios acompanhavam os restos das piranhas. Algumas crianças corriam em desordem, sem destino. Bebés choravam na tentativa de chupar o leite das mamas das mamãs. Os infelizes eram desprezados, afastados à força. Uma mamã esforçou-se e conseguiu frasear de um fôlego:
- Não chateia pá! Hoje é feriado, a mamã não está de serviço. Procura outra por aí.
Epok comenta para a rainha.
- Parece um ritual pagão.
- Nobre Epok. Quantas mais demoníacas eliminamos, mais elas se multiplicam.

Epok dá um bico num corpo masculino. Este descola-se da senhora que instintivamente procura o seu sexo com a mão. Ela desconsola-se.
- Não saias agora… estava tão doce.
Epok enerva-se, pergunta ao macho:
- Malditos pagãos! Não tinham outro sítio para ir?!
- Disseram-nos que aqui é um bom local para praticar nudismo.

Imagem: http://torredahistoriaiberica.blogspot.com/2007/11/mulheres-de-angola-na-pintura-de-neves.html

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