segunda-feira, 15 de junho de 2009

A Epopeia das Trevas (15)


Reino Jingola, um reino onde tudo é ilegal.

E neste manicómio mundial com milhões de desempregados, os bandidos, espertalhões especuladores dizem que a economia mundial está a estabilizar. Prova disto é a subida dos preços do petróleo. E ninguém os prende porque já não existe lei.


Apesar do corpo cansado, usado, velho pelos anos do tempo, a mente está rejuvenescida. O ditador usa o corpo são na mente insana. Como plantas daninhas que vituperam os jardins suspensos desta Babilónia. Por mais que tentemos não conseguimos evitar a perseguição de Robespierre. O reinado do Terror persiste, insiste, não nos abandona. Que tempos estes! Não, a História ensina-nos que sempre foi assim. O ser humano é o símbolo, o culto do Terror.

Quando acabar, a Natureza rejubilará, cantará um hino de louvor. As árvores não ficarão estáticas, mover-se-ão de um para o outro lado, como sempre fizeram. A chuva cairá e as águas seguirão o seu curso normal. Não haverá diques que as perturbem. Aos rios livres de poluição voltarão as fadas, e os espíritos das águas renascerão. A Natureza reencontrará a liberdade, voltará à normalidade. Já foi dado ao ser humano o tempo mais que suficiente para respeitar os seus semelhantes. Não, não me refiro aos homens, porque entre estes não há leis que funcionem, falo duma simples ave que baixa o seu voo, encontra-se com um bípede e é abatida sem explicação. O que está em causa é o seguinte: a Natureza não pode compartilhar a sua sã existência, com seres vis que se deleitam em exterminar tudo o que se move.

Encontrei a manhã a meio no embarcadouro do Kapossoca. O céu obrigou o dia a escurecer. A água desertou do firmamento e o horizonte ficou nevoento. Chuva intensa, centimétrica, parecia milhões de meteoritos que abriam crateras transparentes na superfície neptuniana.
Conseguirei chegar a Tule?
Muitos perigos me esperam, mas terei êxito nesta epopeia. Quando lá chegar admirarei as Colunas de Hércules em Viana. Não sei quem foi o propositado que chamou tal nome a duas imensas montanhas de lixo.
Para além delas é o desconhecido… alguns mercadores Fenícios que de vez em quando aqui chegam, dizem que para lá das Colunas de Hércules existem dezassete reinos, governados por pretores. A informação que dão é muito escassa. Não se sabe o que lá se passa.
Em criança ouvia falar sobre esses reinos desconhecidos, esquecidos, abandonados. Que ninguém se preocupava com eles. Comecei a sonhar que seriam o continente perdido da Atlântida.

Tantos carros para poucas estradas esburacadas, permanentemente engarrafadas. Nunca conseguirei entender porque é que os Jingola não apreciam bicicletas. Combinam com os séculos, com as cargas na cabeça sem rodas, sempre à roda.

O âmago do meu espírito tenta libertar-se da desordem circundante. O lixo encolerizante une-se às árvores derrubadas pela força inumana. Os canteiros de flores perderam-se na imposição dos canteiros de obras concretos, dos novos construtores dilectos. Outros edificadores e muitos comedores de cães, gatos e de tudo o que se mexe. Cosmovisão genética rudimentar, truncada.

Passam os desgovernados anos, não mandatados continuam os tiranos. Digam-lhes que quem aniquilar uma árvore, será condenado a plantá-las até ao fim da sua vida.
Ah!.. Muitos bancos, muitos financeiros, muitos corruptos, muitos especuladores, muitos aventureiros.

Imagem: http://perdidoeachado.blogspot.com/search/label/Luanda

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