sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Epopeia das Trevas (17)


Luanda – Entretanto o Governo (?) de Angola insiste nas suas duas actividades principais: construir estádios de futebol e destruir milhares de casas dos espoliados dos dividendos petrolíferos, para empregar os falidos das quadrilhas imobiliárias internacionais.
Máfia chinesa em acção. Segundo a Lac-Luanda Antena Comercial, chineses já espancam selvaticamente cidadãos angolanos.
O condomínio Jinga Isabel está fissurado, ainda há pouco tempo inaugurado. Foi construído (?) por uma empresa brasileira. Resta saber o nome da empresa. In TV ZIMBO.
E quando os prédios e torres começarem também a racharem? É que quando chega a época das chuvas, e a tendência é chover mais, cada vez mais, muitos lençóis freáticos ganham corrente, revivem. Literalmente, Luanda assenta-se sobre um rio subterrâneo.


Comprar carro é acrescentar mais um buraco à tormenta do nosso desviver… como navegar sem mar. As estradas não são necessárias mas, pode-se confessar que tudo é um mal necessário. Um horrível esforço de martírio altruísta foi projectado para o nosso modus vivendi. Consistência de perder muitas horas, encontrar a velhice precocemente, perder a saúde. Hábitos de regozijo incutidos sem apelo devassam, grassam na lotaria das ruas que já não o são, nunca o saberão. Os prémios principais são buracos e lodaçais. Ruas escavadas devido à intensa prospecção dos malignos sentimentos petrolíferos.

Oh! Que noites, que festivais, que mães com séquitos de pardais, para onde caminhais? A criança adianta-se, nefasta apressada. Pára, volta-se, incita o andamento. A mãe carrega a idade da ditadura do sofrimento, sem lamento. Na cabeça, uma carga que não alivia a sobrevivência da inconsciência do governo petrolífero. Nas costas, sobrecarrega o peso recente da infelicidade nascida, adormecida. Pela mão, a contrariedade da criança arrasta-se esforçada na contra-mão do retirar o pão da boca. É a mãe, das mães dos agora colonizadores negros da negra miséria. Dos indistintos dias, das inextinguíveis noites orgíacas das políticas palacianas. Ó negra miséria, decerto no incerto caminhais. Nas ruas alagadas de campos petrolíferos, pastos negros, prados negros que não servem para comer, nem para beber.

Muitos poetas, advogados, economistas e poucos engenheiros. Povo analfabeto nunca será independente. Conhecimento é liberdade. A miséria é negra, da cor do petróleo. O poder temporal é momentâneo, o espiritual eterniza-se.


Atirei o meu telemóvel para o lixo. Evito os assaltos, quero caminhar normalmente, não quero ficar sem vida eternamente. Ganhar o presente dos assaltantes e perder o futuro. Apesar de muitos seguranças métricos que guardam o que não lhes pertence, a intranquilidade é palustre. Muitos seguranças, muita insegurança. Tudo tão inconfortante, abundante. O lixo é superabundante, os baldes das águas imundas cozinham-no. Colossais colunas de lixeiras esculpidas como os estábulos de Augeias. Jingola contratou Hércules para a derradeira décima terceira tarefa… acabar com o lixo. Seria pago com vários tosões de oiro. Não conseguiu, desistiu, desamarrou-se furioso porque vinte e oito assinaturas eram comissionadas. Não sei, não sabemos, ninguém me consegue explicar, entender que regime é este que nos governa. Acho que é um regime com cheirinhos de todos os governos igualitários, totalitários existentes no mundo. Universalizado, engalhado.

Passa a escolta vulgar de invulgar administrador. Um sacerdote lapidar, escoltado de fingida bondade, desapercebe-se da trama que os doutores do nosso destino escorregadio lhe invectivam. A escolta do medo, insegura, medrosa, despenca no desprotegido, potencial inimigo disfarçado, que atrapalha, inibe a passagem do mais que parecido cortejo funéreo. O sacerdote é espancado e abençoado pelo poder intemporal. Imolado no cumprimento de ordens superiores, sancionadas por inferiores. No estabelecimento do ritual satânico do Politburo Jingola, barbárie enfeitiçante de imitação da selva civilizada. Os peregrinos deslocaram-se dos seus santuários. O embondeiro secou a mabuba também.

Imagem: Angola em fotos

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