Entretanto, Canaã permanecia alheia a estes factos. Em 887 uma conspiração derrubou o último rei da linhagem de Hiram de Tiro.
CARLOS IVORRA
O cabecilha foi o sumo-sacerdote Etbaal, que ocupou o trono. Ao mesmo tempo o rei sírio Benhadad I atacou Israel, chegando até ao mar da Galileia e anexando as suas costas orientais. A cidade de Dan foi destruída, ao que parece para sempre, pois já não se voltou a mencioná-la na Bíblia. O rei Basa de Israel teve que fazer as pazes com a Judeia para poder ocupar-se da Síria. Assim fracassou o seu intento de consolidar a sua dinastia com uma conquista militar, como fez David anos atrás. Quando morreu, em 886, estalou uma guerra civil e o seu filho Ela foi deposto e executado. Antes de terminar o ano fez-se com o trono um hábil general chamado Omri, que logrou rechaçar os sírios e reforçar o domínio sobre Moab. Omri compreendeu bem quais eram os pontos débeis do reino de Israel. Um era a falta duma capital bem localizada, capaz de resistir aos assédios com dignidade. A Judeia temia Jerusalém, mas Tirsa era completamente inadequada. Jeroboam elegeu-a principalmente para abandonar Siquem, para evitar suspeitas sobre uma hegemonia efraimita que poderia ser mal vista por uma parte considerável dos israelitas. Um pouco ao Oeste de Tirsa havia uma colina muito bem situada a metade do caminho entre o Jordão e o Mediterrâneo. Pertencia à família de Shemer, mas o rei comprou-a e fortificou-a. Com o tempo se converteria na cidade mais grande de Israel. Chamou-a Shomron, nome derivado do seu antigo dono, mas os gregos chamaram-na mais tarde Samaria. Omri converteu-a na capital de Israel, e continuou-o sendo até à desaparição do reino.
Mas Omri sábia que uma capital forte não era tudo. A monarquia israelita não gozava de todo o respaldo popular que seria desejável. Mais ainda, o povo não tinha um seguimento de unidade nacional similar ao que existia na Judeia. Em grande parte, a vantagem da Judeia residia numa religião forte, o culto a Iavé, que ao mesmo tempo que identificava todo o povo numa causa comum, legitimava a casa de David como governante por desígnio divino. O culto a Iavé era minoritário em Israel, e tampouco parecia boa ideia fomentá-lo, pois isso poderia deixar Israel indefeso frente à Judeia. Também estava o risco de que uma boa parte do povo não o aceitaria por desprezo aos judeus. Omri aliou-se com o rei tírio Etbaal. Ambos eram usurpadores, assim que deveria ser fácil para ambos apoiarem-se mutuamente para consolidarem os seus tronos. Etbaal foi sumo-sacerdote, e a sua estratégia foi a de difundir o culto aos seus deuses, principalmente à deusa Astarte. Omri considerou que o dito culto poderia ser também adequado para o seu povo, e decidiu apoiá-lo. Para selar o seu acordo, Ajab, o filho de Omri, casou-se com Jezabel, a filha de Etbaal.
Em 883 morreu Osorkon I, o rei do Egipto. Se este logrou manter a duras penas a autoridade que lhe havia legado o seu pai, depois da sua morte a desorganização aumentou e o exército se fazia cada vez mais incontrolável. No mesmo ano morreu Tukulti-Ninurta II, depois de um breve reinado de cinco anos. Foi sucedido pelo seu filho Assurnasirpal II, quem destruiu os principados aramaicos (excepto a Síria), restabeleceu a prosperidade da Assíria e reconstruiu a antiga cidade de Calach, convertendo-a novamente na capital do reino. Ali construiu um grande palácio de uns 24.000 metros quadrados de superfície, decorado com baixos-relevos de grande realismo, muitos dos quais representam o rei em cenas de caça. Asurnasirpal II é recordado como o mais cruel dos reis assírios. Impôs uma política de terror que fez desistir os povos submetidos ao mais mínimo intento de rebelião, mas que deixou uma onda indelével de ódio na Assíria e em todo o oriente próximo. Nas suas crónicas menciona-se pela primeira vez os Caldeus, outro grupo de tribos semíticas procedentes da Arábia e que fustigavam as fronteiras da Mesopotâmia.
(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.
Imagem: WIKIPEDIA
CARLOS IVORRA
O cabecilha foi o sumo-sacerdote Etbaal, que ocupou o trono. Ao mesmo tempo o rei sírio Benhadad I atacou Israel, chegando até ao mar da Galileia e anexando as suas costas orientais. A cidade de Dan foi destruída, ao que parece para sempre, pois já não se voltou a mencioná-la na Bíblia. O rei Basa de Israel teve que fazer as pazes com a Judeia para poder ocupar-se da Síria. Assim fracassou o seu intento de consolidar a sua dinastia com uma conquista militar, como fez David anos atrás. Quando morreu, em 886, estalou uma guerra civil e o seu filho Ela foi deposto e executado. Antes de terminar o ano fez-se com o trono um hábil general chamado Omri, que logrou rechaçar os sírios e reforçar o domínio sobre Moab. Omri compreendeu bem quais eram os pontos débeis do reino de Israel. Um era a falta duma capital bem localizada, capaz de resistir aos assédios com dignidade. A Judeia temia Jerusalém, mas Tirsa era completamente inadequada. Jeroboam elegeu-a principalmente para abandonar Siquem, para evitar suspeitas sobre uma hegemonia efraimita que poderia ser mal vista por uma parte considerável dos israelitas. Um pouco ao Oeste de Tirsa havia uma colina muito bem situada a metade do caminho entre o Jordão e o Mediterrâneo. Pertencia à família de Shemer, mas o rei comprou-a e fortificou-a. Com o tempo se converteria na cidade mais grande de Israel. Chamou-a Shomron, nome derivado do seu antigo dono, mas os gregos chamaram-na mais tarde Samaria. Omri converteu-a na capital de Israel, e continuou-o sendo até à desaparição do reino.
Mas Omri sábia que uma capital forte não era tudo. A monarquia israelita não gozava de todo o respaldo popular que seria desejável. Mais ainda, o povo não tinha um seguimento de unidade nacional similar ao que existia na Judeia. Em grande parte, a vantagem da Judeia residia numa religião forte, o culto a Iavé, que ao mesmo tempo que identificava todo o povo numa causa comum, legitimava a casa de David como governante por desígnio divino. O culto a Iavé era minoritário em Israel, e tampouco parecia boa ideia fomentá-lo, pois isso poderia deixar Israel indefeso frente à Judeia. Também estava o risco de que uma boa parte do povo não o aceitaria por desprezo aos judeus. Omri aliou-se com o rei tírio Etbaal. Ambos eram usurpadores, assim que deveria ser fácil para ambos apoiarem-se mutuamente para consolidarem os seus tronos. Etbaal foi sumo-sacerdote, e a sua estratégia foi a de difundir o culto aos seus deuses, principalmente à deusa Astarte. Omri considerou que o dito culto poderia ser também adequado para o seu povo, e decidiu apoiá-lo. Para selar o seu acordo, Ajab, o filho de Omri, casou-se com Jezabel, a filha de Etbaal.
Em 883 morreu Osorkon I, o rei do Egipto. Se este logrou manter a duras penas a autoridade que lhe havia legado o seu pai, depois da sua morte a desorganização aumentou e o exército se fazia cada vez mais incontrolável. No mesmo ano morreu Tukulti-Ninurta II, depois de um breve reinado de cinco anos. Foi sucedido pelo seu filho Assurnasirpal II, quem destruiu os principados aramaicos (excepto a Síria), restabeleceu a prosperidade da Assíria e reconstruiu a antiga cidade de Calach, convertendo-a novamente na capital do reino. Ali construiu um grande palácio de uns 24.000 metros quadrados de superfície, decorado com baixos-relevos de grande realismo, muitos dos quais representam o rei em cenas de caça. Asurnasirpal II é recordado como o mais cruel dos reis assírios. Impôs uma política de terror que fez desistir os povos submetidos ao mais mínimo intento de rebelião, mas que deixou uma onda indelével de ódio na Assíria e em todo o oriente próximo. Nas suas crónicas menciona-se pela primeira vez os Caldeus, outro grupo de tribos semíticas procedentes da Arábia e que fustigavam as fronteiras da Mesopotâmia.
(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.
Imagem: WIKIPEDIA
Sem comentários:
Enviar um comentário