por Maka
Angola
O
jornalista e defensor dos direitos humanos Rafael Marques de Morais respondeu
hoje, na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP) em Luanda, por
11 queixas-crime relacionadas com o seu livro Diamantes de Sangue: Corrupção
e Tortura em Angola.
Luís
Nascimento, advogado de defesa, considerou o interrogatório, conduzido pelo
magistrado-instrutor Iloutério Lourenço, como “urbano e civilizado”. A
directora nacional do DNIAP, Júlia Gonçalves, acompanhou a audiência, que durou
cerca de quatro horas.
“Estamos
preparados para defendermo-nos”, assegurou o advogado.
Sete
generais, liderados pelo ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do
Presidente da República, Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, apresentaram, a
14 de Março passado, queixas por difamação por terem sido citados no livro como
responsáveis morais dos crimes contra a humanidade que têm ocorrido na região
diamantífera das Lundas. Os outros generais queixosos são Adriano Makevela
Mackenzie, António Emílio Faceira, Armando da Cruz Neto (deputado do MPLA),
Carlos Alberto Hendrick Vaal da Silva (Inspector-Geral do Estado Maior-General
das FAA), João Baptista de Matos e Luís Pereira Faceira.
A empresa
privada de segurança Teleservice, propriedade dos referidos generais, também
apresentou uma queixa colectiva, para além do seu sócio civil José Carlos
Figueiredo de Sousa.
Por sua
vez, a Sociedade Mineira do Cuango (SMC), que detém uma concessão de diamantes
na Bacia do Cuango, também apresentou um queixa colectiva. A SMC é um consórcio
formado pela Lumanhe, empresa dos mesmos generais, a Endiama e a ITM-Mining.
Esta última apresentou a primeira queixa, sobre a qual o jornalista foi ouvido
a 3 de Abril passado.
A 14 de
Novembro de 2011, o jornalista apresentou, à Procuradoria-Geral da República
(PGR) de Angola, uma queixa-crime contra os
sócios da Teleservice, da Sociedade Mineira do Cuango e gestores da ITM-Mining.
A queixa solicitava uma investigação “por indícios de agência” de crimes contra
a humanidade aos sócios das referidas empresas. O autor invocou o Código Penal,
“que define a autoria moral de um crime por abuso de autoridade ou de poder”.
Como
conclusão do Inquérito Preliminar 04/2012-INQ, a PGR arquivou a queixa. No seu
despacho, a PGR sublinhou que, “do ponto de vista de responsabilidade criminal,
em Angola, nenhuma pessoa colectiva responde criminalmente em observância do
princípio da individualidade da responsabilidade penal (…)”.
Por sua
vez, os generais apresentaram a primeira queixa-crime contra o jornalista em
Portugal. O Ministério Público português arquivou o processo a 11 de Fevereiro
de 2013, tendo concluído que a publicação da obra “se enquadra no legítimo
exercício de um direito fundamental, a liberdade de informação e de expressão,
constitucionalmente protegido, que no caso concreto se sobrepõe a outros
direitos”.
No seu
despacho de arquivamento, o Ministério Público português “concluiu pela
ausência de indícios de prática de crime, atentos os elementos probatórios
recolhidos e o interesse público em causa”. Mais afirmou “não estarem reunidos
indícios sobre a prática do crime que os assistentes [os generais] imputaram,
em sede de denúncia, aos arguidos [Rafael Marques de Morais e sua editora]”.
Como
recurso, em Março passado, os generais intentaram uma acusação particular
contra o defensor dos direitos humanos junto do Tribunal Distrital de Lisboa,
pedindo uma indemnização de 300 mil euros. Com a justiça portuguesa a seu
desfavor, os generais recorreram, então, ao sistema judicial angolano, passado
um ano e seis meses após a publicação do referido livro.
Em Diamantes
de Sangue: Corrupção e Tortura em Angola, resultado de anos de investigação
nas nas Lundas, Rafael Marques de Morais denuncia centenas de casos de tortura
e assassinato e violações sistemáticas de direitos humanos a que estão sujeitas
as populações das Lundas, com o envolvimento activo de membros das Forças
Armadas Angolanas e da Teleservice, uma empresa privada de segurança ao serviço
da SMC.
O DNIAP
não impôs quaisquer medidas de coacção ao jornalista e defensor dos direitos
humanos.
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