Lisboa - O Presidente angolano disse que o “clima político actual” não
favorece uma parceria estratégica com Portugal. No seu discurso sobre o Estado
da Nação, nesta terça-feira, José Eduardo dos Santos referiu-se a
"incompreensões ao nível da cúpula" de Portugal, noticiaram a agência
Lusa e a RTP. Não ficou claro se a primeira cimeira entre Portugal e Angola, já
adiada para 2014, está comprometida.
Fonte:
Publico
"Só
com Portugal, as coisas não estão bem”, afirmou o Presidente de Angola frente à
Assembleia Nacional, onde o seu partido, o MPLA, é maioritário e o reconduziu à
Presidência. “Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político
actual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria
estratégica antes anunciada", especificou.
O anúncio
segue-se a uma série de editoriais em que o Jornal de Angola dizia que o poder
angolano estava a ser alvo de uma campanha em Portugal, depois da abertura de
inquéritos na Procuradoria-Geral da República portuguesa visando figuras próximas
do Presidente angolano.
Portugal
e Angola têm previsto realizar, em Luanda a primeira cimeira bilateral em 2014.
A sua realização foi anunciada em Fevereiro passado pelo então ministro dos
Negócios Estrangeiros português, Paulo Portas.
Numa
reacção às declarações de Eduardo dos Santos, o ministro das Relações
Exteriores Georges Chikoti, ouvido pela agência de notícias angolana Angop,
disse que as relações com Portugal podiam ser melhores, mas têm surgido
dificuldades que impedem o estabelecimento de relações estratégicas. Ao mesmo
tempo, não deu informações que pudessem levar a pensar que a primeira cimeira
bilateral Portugal-Angola, inicialmente anunciada para este ano e depois adiada
para 2014, estivesse definitivamente comprometida. Á Angop, o ministro voltou a
dizer que a cimeira tinha sido adiada para 2014.
O Jornal
de Angola, que nas últimas duas semanas, publicou uma série de editoriais a
condenar a atitude de Portugal relativamente a Angola, escreveu um editorial
este fim-de-semana a elogiar a actuação do secretário de Estado dos Negócios
Estrangeiros e da Cooperação Luís Campos Ferreira durante a visita que realizou
a Luanda na semana passada para preparar a essa cimeira.
"O
político português tratou de situar as relações Angola-Portugal no patamar da
excelência e assim afastar quaisquer veleidades que possam afectar o seu bom
andamento. Avançou mesmo que o objectivo da cimeira luso-angolana é o de
'agilizar, optimizar e criar um sentido estratégico' para a cooperação
bilateral e a sua extensão a novas áreas de interesse mútuo", lia-se no
editorial.
Dias
antes, o jornal, que é um orgão público mas representa o orgão oficial do MPLA
liderado pelo Presidente da República e funciona em ligação directa com a
Presidência da República, tinha repetido críticas à justiça portuguesa e aos
media que responsabilizou por uma campanha contra Angola e os titulares dos
orgãos de soberania.
As críticas vêm de trás e ressurgiram quando o semanário Expresso publicou em Novembro uma de várias notícias sobre a abertura de um inquérito-crime por indícios de fraude fiscal e branqueamento de capitais a pelo menos três altos responsáveis angolanos do círculo mais próximo de José Eduardo dos Santos: Manuel Vicente, vice-presidente de Angola e ex-director-geral da empresa petrolífera nacional Sonangol, o general Hélder Vieira Dias “Kopelipa”, ministro de Estado e chefe da Casa Militar da Presidência da República, e o general Leopoldino Nascimento “Dino”, consultor do ministro de Estado e ex-chefe de Comunicações da Presidência da República.
Meses
depois, sairia uma notícia sobre a abertura de uma investigação ao
Procurador-Geral da República de Angola, João Maria de Sousa, por suspeitas de
fraude e branqueamento de capitais na alegada transferência para uma conta do
Santander Totta em Portugal de 70 mil euros de uma empresa off-shore, que o
próprio desmentiu em comunicado da PGR angolana.
De visita
a Angola, e em declarações à Rádio Nacional de Angola (RNA), Machete sugeriu
que as investigações na PGR podiam resultar de "um mal-entendido".
"Tanto quanto sei, não há nada substancialmente digno de relevo, e que
permita entender que alguma coisa estaria mal, para além do preenchimento dos
formulários e de coisas burocráticas e, naturalmente, informar as autoridades de
Angola pedindo, diplomaticamente, desculpa, por uma coisa que, realmente, não
está na nossa mão evitar", disse o chefe da diplomacia portuguesa, o que
suscitou vários pedidos de demissão.
Na visita
que realizou a Luanda Luís Campos Ferreira minimizou a crispação sentida nos
editoriais e, numa alusão à entrevista do seu ministro, disse que "não era
necessário apaziguar os ânimos", ao contrário do que reconhecera o próprio
ministro para justificar as suas declarações à RNA. Horas antes, numa
entrevista à RTP, o primeiro-ministro falou noutro tom. Pedro Passos Coelho
entendeu as palavras do seu ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros à
Rádio Nacional de Angola como uma tentativa de "apaziguar a relação com um
país muito importante para Portugal".
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