segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Luanda. Podemos, então, considerar que o tráfico de drogas está infiltrado nos corredores do Estado?




É verdade, porque até famílias insuspeitas, ao mais alto nível, estão a ser alvo de aproximação dos traficantes, sob a capa de empresários. Em 2010 existiu um elemento identificado como Higino Duarte Delgado, falsificador de documentos. Fazia-se passar por advogado e, várias vezes, foi preso por tráfico de drogas. Houve informações segundo as quais ele estava para se aproximar de uma certa família. Este indivíduo hoje está preso no Brasil por tráfico de drogas, mas dizem que esta lá a estudar, o que não é verdade. Existe um outro altamente perigoso que pretendiam aproximá-lo de uma certa Tia bem posicionada, mas eu intervim dizendo que não poderiam fazer isso porque, a julgar pelo grau de perigosidade do mesmo, não seria bom, pois ele é traficante. Mas me disseram que eu era invejoso. Estes são pessoas que se juntam à essas famílias insuspeitas na perspectiva de fazerem negócios, mas o negócio deles verdadeiro é o tráfico. Muitos, quando são presos, alegam que são sócios de membros das tais famílias insuspeitas. Porém, existe um indivíduo traficante de drogas que actualmente trabalha com um dos membros dessas famílias. Ele ligou para mim, há tempos, com medo que eu o denunciasse porque ele já foi meu preso. Me ameaçou inclusive, mandou-me uma mensagem a dizer para não se meter com ele porque em tempos tirou da prisão dois sobrinhos de uma pessoa muito importante e, agora, tem poder para me matar e não sair nada porque está junto das tais famílias. Neste momento, ele suborna um juiz que tem soltado as pessoas com quem ele trabalha. O problema mais preocupante é de um traficante de droga que hoje está trabalhar no protocolo de uma alta instituição. Este indivíduo até mudou a sua identidade para lá chegar. Só espero que se tomem medidas em relação a este e outros casos. Se não, essas famílias vão arrepender-se por não terem acatado os meus conselhos.
Então é verdade que o tráfico de drogas atingiu níveis que, se pormenores mais obscuros vierem à tona, o país pode mesmo acordar muito mal no dia seguinte?
Quim Ribeiro não mentiu, apesar de ter exagerado. Mas garanto que a situação do tráfico de drogas no país é bastante preocupante e por isso é que existem mortes, raptos e envolvimento de altas figuras, como já disse antes.
Como foi possível ser condenado 14 anos de cadeia mesmo dizendo que não foi encontrado qualquer elemento de prova contra si, quem foi o seu advogado quando julgado?
Senhor jornalista, eu fui defendido pela doutora Luzia Sebastião, depois de não ter chegado a um consenso com o doutor Sérgio Raimundo, com o qual nunca tive problemas como muita gente anda aí a dizer. Quando contratei a doutora Luzia Sebastião, ela conseguiu convencer o Juiz Cícero a pedir a prisão do Bonzela. Curiosamente, uma semana antes do meu julgamento mandaram uma soltura vinda da DNIC em meu nome, mas com a minha idade, data de nascimento e nome da minha mãe trocados. Era falsa, pois a intenção era eu sair e eles considerarem que fugi e depois me matarem. Mas liguei para a minha advogada que me aconselhou a não sair. Já em tribunal, se não estou em erro, a doutora Luzia Sebastião fez-lhe apenas quatro perguntas. Uma das quais era por que me tinha mandado para aquele missão. Ele respondeu que já havia ouvido muitos cochichos de que eu não prestava. A seguir, a doutora disse-lhe que ele estava a querer dizer que arquitectaram tudo. Lá ele defendeu-se dizendo que eu era a única pessoa que lá estava. Depois, ainda lhe perguntaram se conversou ou não com o senhor branco e lá ele confessou que sim. Nos autos, segundo a doutora, ele que mandou o Da Silva por se tratar de um profissional obediente, humilde e por ser mesmo o melhor oficial. E ela perguntou: “o Da Silva é bandido ou é obedientemente demais que você até abusou da sua bondade?”. Lá ele respondeu que não estava em condições de responder a aquela pergunta. Mas o juiz disse-lhe que tinha que responder porque ele destruiu a minha reputação. Recordo-me também que a dado momento ele disse que era frequente o director da DNIC orientar o efectivo para desviar drogas a partir do Aeroporto Internacional, ao que o juiz questionou: “então você está a dizer que a DNIC é um Cartel de Medellín?”. Senhor jornalista, este julgamento foi público e as pessoas envolvidas ainda estão vivas e qualquer dúvida pode ser consultada. O juiz ainda disse que estava a acusar uma pessoa inocente. Mesmo assim, eu e o Bonzela fomos condenados a 14 anos de cadeia.
O meu primo major Quinhas apanhou dois anos e os outros dois meus colegas, isto é, o Serafim Coelho e o Martins Luciano foram absolvidos. Em consequência da minha condenação, o meu pai morreu. O nosso processo subiu para o Tribunal Supremo, onde o João Bonzela Franco foi absolvido e a minha pena reduzida para oito anos. Mas, espantosamente, o tribunal recusava em dar-me o acórdão alegando que eu o pretendia levar para a imprensa e depois mandaram-me para a cadeia do Bentiaba, alegando que eu estava a fazer muita confusão. Tudo isso para escamotearem o conteúdo do acórdão porque temiam que o levasse para a imprensa naquela altura.
*Mariano Brás
Fonte: A Capital
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