Na operação contra esquema internacional de prostituição, parente do presidente de Angola teve prisão decretada pela Justiça brasileira
Andreza Matais / BRASÍLIA e Fausto Macedo - O Estado
de S.Paulo
A Polícia Federal acusa um parente do
presidente de Angola de chefiar esquema internacional de tráfico de mulheres do
Brasil para África do Sul, Portugal, Angola e Áustria. O Estado apurou que, na
Operação Garina deflagrada nessa quinta-feira, 24, a PF pediu e a Justiça
concedeu a prisão do general Bento dos Santos Kangamba, caso ele desembarque no
Brasil, e incluiu seu nome e o de um comparsa na lista de procurados da
Interpol.
Chamado de "tio Bento" ou "tio
Chico" pelos integrantes da quadrilha, o general é casado com uma sobrinha
do presidente de Angola, José Eduardo Santos, no cargo desde 1979. O general é
dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), mesmo partido do
presidente, e tem influência no governo por meio de sua mulher, uma filha de
Avelino dos Santos, irmão do presidente.
Presidente do grupo Kabuscorp, um complexo
industrial com sede em Angola, o general também é influente no mundo dos
negócios. Kangamba é o maior patrocinador do Vitória Sport Clube, da primeira
divisão de Portugal, e tem, ainda, um time de futebol no país africano. Duas
atividades usadas na lavagem de dinheiro do crime organizado.
O Estado apurou que o braço
do esquema do general no Brasil é Wellington Eduardo Santos de Sousa, que a PF
identificou nos relatórios de inteligência como Latino, um ex-pagodeiro da
banda Desejos.
Em um ano de investigação, a PF descobriu que
a quadrilha aliciava mulheres em casas noturnas paulistanas no bairro de
Indianópolis, zona sul de São Paulo, mediante promessa de pagamento de US$ 10
mil para se prostituírem pelo período de uma semana para clientes de elevado
poder econômico. Modelos de capas de revistas masculinas e que participavam de
programas de TV receberam até US$ 100 mil para se relacionar sexualmente com o
general.
Há fortes indícios de que parte das vítimas
foi privada temporariamente de sua liberdade no exterior e obrigada a manter
relações sexuais sem preservativos com clientes estrangeiros. Para essas
vítimas, os criminosos ofereciam um falso coquetel de drogas antiaids. Foram
cumpridos ontem 16 mandados judiciais: 5 de prisão e 11 de busca e apreensão
nas cidades de São Paulo, São Bernardo, Cotia e Guarulhos. A PF apreendeu 11
carros de luxo, 23 passaportes, 9 cópias de passaportes, 14 pedidos de visto
para Angola, moeda estrangeira e drogas.
Luxo. Segundo a PF, a organização movimentou US$ 45 milhões
com o tráfico internacional de mulheres desde 2007. O enriquecimento da família
do presidente de Angola tem sido noticiado em todo o mundo. A filha do
presidente, Isabel dos Santos, foi apontada pela revista americana Forbes como
a mulher mais rica e poderosa da África. A revista noticiou que a fortuna tem
origem em corrupção: ela fica com uma parte de empresas que querem
estabelecer-se em Angola e recebe comissão em troca da assinatura do pai numa
lei ou decreto.
Em julho, a imprensa de Portugal noticiou que
Kangamba comprou uma casa de 12 milhões nos arredores de Madri, no mesmo
condomínio em que mora o jogador Cristiano Ronaldo. O nome da operação, Garina,
significa menina na gíria de Angola. A Embaixada de Angola no Brasil foi
procurada, mas não respondeu à ligação. / COLABORARAM FÁBIO FABRINI E BERNARDO
CARAM
Imagem: Bento Kangamba, primeiro a contar da direita. makaangola.org
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