A QUESTÃO DAS PARCERIAS ESTRATÉGICAS
O discurso do Sr. Presidente da República, do dia 15
de Outubro na Assembleia Nacional introduziu definitivamente no debate nacional
o jargão da “Parceira Estratégica”, com o anúncio público da suspensão de uma
projectada parceria estratégica com Portugal.
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Alguns analistas fizeram uma leitura bastante
simplista dessa decisão, passando a ideia de estarmos no limiar de uma ruptura
de relações com Portugal e, consequentemente, da hostilização dos seus cidadãos
aqui residentes e da perseguição dos investimentos económicos portugueses em
Angola. Embora haja agora sinais de alguma “revanche” estou, porém, convencido
que, dentro em breve, esse receio se dissipará e que a discussão ganhará
contornos mais sérios, mais equilibrados, construtivos e realistas.
A confusão que se instalou decorre do facto de nem
todos terem uma noção clara do que é uma Parceria Estratégica. Há quem a
confunda com o mero relacionamento entre os Estados, mas ela, na verdade,
corresponde a um nível de relacionamento superior e mais estruturado.
Face à globalização dos mercados, ao aumento da
agressividade da concorrência empresarial e à aceleração do ritmo das mudanças
tecnológicas, as empresas são, por vezes, impelidas a encontrar métodos
engenhosos e estratégias expeditas para garantirem o êxito dos seus negócios.
Podem fazê-lo, precisamente, pelo estabelecimento de alianças com outras
empresas – a que chamam parceiras. As alianças estratégicas entre as empresas
situam-se no espaço compreendido entre o simples acordo de subcontratação e a
fusão ou a aquisição.
A subcontratação não implica o desaparecimento de
qualquer das partes, e traduz-se numa prestação que uma empresa faz à outra
mediante remuneração. Na fusão e na aquisição, ou as duas partes dão origem a
um novo ente jurídico, ou apenas um dos entes jurídicos sobrevive.
À semelhança do que sucede no mundo empresarial, as
alianças estratégicas entre os Estados são uma forma de minimizar custos e
potencializar ganhos, face à crescente globalização das relações
internacionais. Por essa via, os Estados podem expandir as suas actividades e
tornarem-se mais competitivos. Tais alianças estratégicas devem assentar no
princípio da igualdade e da partilha de competências. Deve, ainda, haver
confiança recíproca, com a definição de objectivos claros e atender às
necessidades e interesses comuns.
Não se pode formalizar uma parceria estratégica para
apenas uma das partes ganhar. Os ganhos devem ser repartidos de um modo
equilibrado, sob pena de, a breve trecho, a parceria ser rompida. As parcerias
estratégicas devem ainda apontar para horizontes temporais relativamente
longos, para que se possam explorar todas as potencialidades das partes.
As parcerias estratégicas tanto podem relativamente
globais, como ser meramente sectoriais. Nas relações entre Estados, pode
optar-se por envolver diversos ramos de actividade, mas nada impede que se
articulem somente algumas áreas como, por exemplo, a área militar, com o
fornecimento de equipamentos, preparação dos efectivos, logística, etc., de que
nos serve de exemplo o nosso relacionamento com a Rússia, que envolveu o
fornecimento de equipamentos e a preparação dos efectivos dos escalões
superiores.
Com o fim da guerra civil, o governo definiu a China
como seu parceiro estratégico no quadro da reconstrução das infra-estruturas.
São visíveis parcerias na ampliação do sistema de produção e distribuição de energia
e até mesmo no domínio das águas, em que entram a Rússia e o Brasil.
Em Junho de 2010, em Luanda, os Chefes de Estado de
Angola e de Portugal acordaram em alargar e aprofundar o relacionamento e a
cooperação entre os dois países, e decidiram fazê-lo de uma forma mais
estruturada, com a definição de prioridades, programação, calendarização e
criação dos instrumentos jurídicos para a sua viabilização. Foi desse encontro
que nasceu a ideia da concretização da “Parceria Estratégica” de que agora
tanto se fala e que, pelas palavras do Presidente da República pronunciadas no
dia 15 de Outubro, pode ficar adiada.
Não creio que
estejamos diante de uma ruptura de relações entre os Estados mas, sim, perante
a hipótese de ver, sim, adiada a formalização de um conjunto de instrumentos de
cooperação que ajudarão a elevar o nível dessas relações para patamares mais
estruturados. A segunda hipótese é, realisticamente, a mais desejável.
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