PUBLICO
Na capital
Maputo, longe do centro do conflito, os emigrantes estão na expectativa. Mas
ninguém está a ir embora.
Em Maputo, onde se concentra a maioria da
comunidade portuguesa que vive em Moçambique, as disputas entre Renamo e
Frelimo são uma coisa longínqua — cerca de 700 quilómetros a norte.
“Até agora está tudo
calmo. As pessoas estão com as suas vidas normais, a ir para os empregos”, diz
Maria de Jesus Pais, 58 anos, uma lisboeta que vive na capital moçambicana
desde há quatro anos.
Todos os portugueses com que o PÚBLICO
contactou por telefone confirmaram que o clima em Maputo está tranquilo, sem
sinais visíveis da tensão política que irrompeu na província de Sofala.
“As pessoas estão todas apreensivas”, diz
Dina Trigo Mira, directora da Escola Portuguesa de Moçambique, onde cerca de
metade dos 1733 alunos são portugueses. “Mas a escola funcionou como tem
funcionado sempre. Tive a casa cheia de miúdos. Nem vejo pessoas a ir embora.”
“As pessoas têm algum receio de que a guerra
venha a acontecer novamente, mas na realidade ninguém acredita que isso vá para
a frente”, nota Elsa Santos, proprietária de uma imobiliária e de dois business
centers em Maputo, onde vive há 15 anos.
A atitude parece ser mais expectante do que
alarmista, talvez porque historicamente Maputo tenha sido um refúgio da guerra
civil que se travou no interior do país.
“Vivo cá há tantos anos… Já estive na outra
guerra dos 16 anos. Essas coisas acontecem muito pelo mato, sabe? Não nas
cidades. As coisas nas cidades são tranquilas”, diz um português radicado em
Moçambique desde 1957 que não quer ser identificado, por receio de represálias
(“É um bocado arriscado eu estar a falar de coisas políticas por telefone.
Aqui, a semana passada, houve um português que foi expulso porque falou de
coisas que não devia falar”).
Vaga de raptos na capital
“Vamos ver como é que a situação vai evoluir. É uma incógnita”, diz Dina Trigo Mira. Renamo e Frelimo “tanto podem entrar em acordos como não. Isto tanto pode dar para um lado como para o outro. África é assim.” Como quem diz: a incerteza faz parte das regras de viver ali.
“Vamos ver como é que a situação vai evoluir. É uma incógnita”, diz Dina Trigo Mira. Renamo e Frelimo “tanto podem entrar em acordos como não. Isto tanto pode dar para um lado como para o outro. África é assim.” Como quem diz: a incerteza faz parte das regras de viver ali.
Segundo Elsa Santos, a tensão política a
norte é menos preocupante do que a insegurança causada pela recente vaga de
raptos em Maputo envolvendo cidadãos estrangeiros. “Isso é que está a deixar as
pessoas transtornadas e medrosas e a tomar decisões de ir embora”, diz.
E se isso “não tem nada a ver com as disputas
entre a Renamo e a Frelimo”, Elsa Santos acredita que uma e outra coisa estão
ligadas ao crescimento económico do país e à descoberta promissora de recursos
energéticos — carvão, gás, petróleo — que despoletaram uma corrida dos
interesses financeiros e de investimento estrangeiro. A presença de uma elite
económica parece ter dado origem a grupos criminosos que usam o rapto para
extorquir dinheiro.
“Onde eles desconfiam que há dinheiro, tentam
sacá-lo”, diz Elsa Santos. “As pessoas estão a começar a ter medo. Eu própria
já fui ameaçada por telefone: ‘ Você consta de uma lista e tem de dar alguma
coisa para nós a tirarmos da lista’. Estávamos em África mas vivíamos num
paraíso em termos de segurança e, neste momento, já não é assim.”
“Onde há petróleo, há guerra”
Maria de Jesus Pais, gerente de um restaurante em Maputo, crê que, pelo menos em parte, a riqueza energética de Moçambique também está por trás das recentes disputas entre Renamo e Frelimo. “Penso que a Renamo também tem alguns interesses, por isso é que se refugiou lá em cima — porque agora está a haver o petróleo, está a haver o carvão lá para cima, é tudo lá em cima no norte e eles também querem… Onde há petróleo, há guerra. Se só está um a pôr ao bolso, os outros também querem pôr. Penso que é mais por aí, não é lutarem pelo povo.”
Maria de Jesus Pais, gerente de um restaurante em Maputo, crê que, pelo menos em parte, a riqueza energética de Moçambique também está por trás das recentes disputas entre Renamo e Frelimo. “Penso que a Renamo também tem alguns interesses, por isso é que se refugiou lá em cima — porque agora está a haver o petróleo, está a haver o carvão lá para cima, é tudo lá em cima no norte e eles também querem… Onde há petróleo, há guerra. Se só está um a pôr ao bolso, os outros também querem pôr. Penso que é mais por aí, não é lutarem pelo povo.”
Maria de Jesus Pais não está a pensar deixar
Moçambique. Mas diz que “África é um barril de pólvora”. “Não sei como é que as
pessoas chegam aqui e investem todo o seu dinheiro. Por aquilo que já aconteceu
no passado e por aquilo que vejo aqui — uma política que, se não é de ditadura,
é quase —, penso que em qualquer altura isto pode rebentar. Quando as pessoas
dizem que compram casas, compram isto e aquilo… eu não faria isso porque não
acho que [o país] esteja completamente estável. Não me sinto segura nesse
aspecto, porque sei que a qualquer momento pode rebentar qualquer coisa para
aí. Qualquer coisinha é uma faísca.”
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