Pescador ainda foi resgatado vivo por um dos seus
companheiros, que lhe enfiou uma boia e não o largou, mas viria a falecer,
sábado, no Hospital de Coimbra. Tinha 48 anos, era solteiro, da Póvoa de
Varzim, já não tinha pais e morava com a irmã. Foi pescador toda a vida.
JOSÉ MIGUEL GASPAR
jn.pt
Há dois meses, quando o barco "Jesus dos
Navegantes" perdeu na Figueira um pescador que caíra à água - Carlos Novo,
"Canário", 28 anos, o seu corpo nunca mais foi encontrado -, Luís
Santos ficou com a sensação estranha e fria de que devia alguma coisa à morte.
E disse-o à irmã: "O Carlos morreu porque eu não fui nesse dia. A morte
levou-o, foi ele em minha vez"...
É a irmã de Luís que reproduz as palavras do irmão
desses dias cismáticos de agosto. "Aconteceu, foi um acaso, o meu irmão
Luís tinha trabalho de armazém e foi outro pescador no barco. Ainda não tinha
chegado a vez dele, mas chegou agora" - diz Fátima Santos em voz sumida. A
mulher, que agoniza e não contém o choro, fala à porta da sua casa, um rés do
chão no centro da Póvoa de Varzim, onde vivia o irmão. "Já não temos pai
nem mãe, ele vivia aqui em família, não tinha filhos, era solteiro, eu e o meu
homem tínhamos um quartinho que era dele".
Luís Santos, 48 anos, que foi pescador toda a vida,
saiu do naufrágio de sexta-feira à tarde em paragem cardiorrespiratória, sem
consciência, mas ainda vivo. Agarrou-o um companheiro, o "Pico", que
o viu desvanecido, enfiou-lhe uma boia e nunca mais o largou.
"Ainda o levaram, coitadinho, para o Hospital da
Figueira e durante a noite foi transferido para Coimbra, mas parece que não
vinha a si. Tivemos muito medo mas havia esperança", diz a mulher a
soluçar. "Hoje, era meio-dia, recebemos a chamada: o Luís tinha morrido".
O corpo do pescador será autopsiado segunda-feira. O
funeral deverá realizar-se na terça-feira, na Póvoa de Varzim.
foto João Manuel Ribeiro/Global Imagens
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Fátima Santos, irmã de Luís Santos
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