Palavra na Hor@gá Gustavo Costa
NOVO JORNAL
Desde o
princípio, sempre se deu conta da presença de santos rumores. Eram difundidos em
ondas hertzianas de muito má qualidade. Que escondiam códigos excêntricos,
embrulhados em panfletos financeiros que, distribuídos a torto e a direito, mal
sabiam que concorriam para a deterioração da nossa paisagem social. Desta vez,
não se está diante de simples rumores. Que, sendo inocentes até prova em
contrário, poderão não ser tão santos quanto parece. Como não o foram quando, na
logística castrense, explodiu o primeiro escândalo da “mercearia sem merceeiro”.
Rudimentar e sem orações de dividir. Desta vez, não haverá escoriações tão
profundas aos órgãos internos do MPLA, para este voltar a sentir-se obrigado,
em defesa da sua honra moral, a imunizar-se, temporariamente, com uma fita isoladora
para sarar as feridas... Desta vez, não haverá rumores configurando um enxame
de kinguilas a glorificar um vago-mestre. Não, desta vez, não haverá nada
disso. Desta vez, dir-nos-ão que a leitura foi posta em dia e encomendado, com
alta distinção, um “upgrade” em finanças público-privadas num dos novos
Politécnicos do Palanca City... Desta vez, sempre perseguidos pelos malditos rumores,
não voltaremos a ver ressuscitado, fez agora um ano, um novo pesadelo como o
arresto de um avião da TAAG algures em Portugal. Desta vez, ninguém se lembrará
que, entre “o deve e o haver”, há sempre alguém disposto a lambuzar-se para se
divertir com as contas de subtrair. E de conspurcar o nosso pequeno mundo com
um fedorento cocktail que, misturando Christian Dior com bagre fumado, tenta
mostrar à juventude, de que tanto se fala, que se pode tomar por cinzento, uma
combinação mal acabada de preto e branco. Desta vez, perante esta genialidade aromática,
há que resistir também à patética tentação de estarmos sempre a ser alvos de
uma conspiração internacional, como se o mundo não tivesse mais nada para
fazer, senão preocupar-se com os nossos desvarios. Não sei, aliás, a esse
despropósito, por que razão, aos olhos do mundo, desta vez, nos voltamos a sentir
assim tão importantes para sermos perseguidos por toda a gente. Agora, até
pelos brasileiros que, por sinal, até mantém as mais cordatas relações de amizade
e de cooperação com Angola. Por isso, confesso que, desta vez, tenho cada vez
mais dificuldades em compreender essa congénita obsessão...
Não sendo essa
pretensa “perseguição mundial” movida por causa da “maldição do petróleo”, não
acredito também que, desta vez, possa ser por causa do nosso invejável índice
de desenvolvimento educacional cuja arrepiante pobreza, não nos permite sequer
ter uma instituição do ensino superior entre as 100 universidades africanas. Então
porque será? Típico dos endinheirados de taberna, que apenas acreditam no poder
que julgam possuir, quando, à sua passagem, sentem os vizinhos e os seus
caciques dobrarem a coluna, desta vez, só pode ser por julgarmos que Luanda é o
centro do mundo e o Palanca, a capital... Desta vez, não se está diante de simples
rumores. Desta vez, em presença de um caso que envolve cidadãos angolanos, há
que aguardar que as autoridades policiais do nosso país sejam notificadas. Não
vale a pena, por isso, entrar em paranóia e ver inimigos onde eles não existem.
É preciso saber deixar a política para os políticos. E à justiça, o que é da
justiça, sendo certo, desde logo que, nesta matéria, quem se emporcalha publicamente
com actos ignóbeis, tem de assumir os encargos das suas traumáticas imoralidades.
Quem o faz, não pode depois escudar-se na famigerada mania da perseguição, nem
espernear sob o pretexto de que se pretende atingir “outras figuras do Estado”.
Porque estas, quando assediadas, são atingidas directamente, sem recurso a
intermediários cujo peso na geopolítica vale zero!
Quem se molha em
fanfarrices imorais, não pode, pois, esperar que a sociedade, que não pode aparar
determinado tipo de golpadas, os acolhe e os proteja. Gozando do princípio da
presunção de inocência, quem é posto em causa nas venenosas paródias agora esventradas
pela Polícia Federal do Brasil, que abraçam crimes por e esclarecer nas
instâncias judiciais, até prova em contrário, não pode, no entanto, ser visto
como um criminoso. Não se deve, portanto, condenar em praça pública quem não
tenha sido julgado pelos tribunais. Nem fazer uma associação maliciosa deste caso,
aos laços familiares que um dos visados mantém com determinadas “figuras do
Estado” sobre actos que, vindo a ser tomados como crimes pela justiça
brasileira, são da única e exclusiva responsabilidade pessoal, de quem os
pratica. Mas, estando, desta vez, o país perante um verdadeiro “case study”, os
visados, para se livrarem das acusações estampadas na imprensa do Brasil, nada
melhor fariam senão enfrentar e desafiar, serenamente, a justiça daquele país. Como
o fez o nosso Procurador-Geral da República, que aguardou pacientemente pelo
desfecho de um processo movido pela justiça portuguesa, que acaba agora de ser
arquivado por reconhecida ausência de fundamentos legais para o julgarem. Neste
escândalo ango-luso-brasileiro, revelando-se eventualmente destituídas de
provas as acusações que recaem sobre os angolanos nele envolvidos, estes nada
melhor fariam também senão intentar uma acção judicial contra os órgãos de comunicação
social brasileiros que as veicularam por crime de difamação e calúnia. Desta
vez, a pátria ficar-lhes-ia muito grata... É avisado, porém, não deixar de reconhecer
que a Polícia Federal do Brasil, que figura entre as mais bem preparadas do
ponto de vista da perícia criminalística e da investigação criminal, depois de
um ano de investigações, não se terá baseado, propriamente, em boatos ou
suposições. E é, desde logo, difícil imaginar que alguém possa entregar um
dossier à Interpol, se não tiver substância.... Ninguém, nem mesmo Angola, pode
ficar indiferente a um pedido da Interpol. Vamos, por isso, desta vez,
aguardar, sem fantasmas, pela sua notificação, ainda que nos custe aceitar que
nos autos daquela polícia, dificilmente alguém sai ileso.... É preciso, por
outro lado, não deixar de olhar para a costela partidária de quem é atribuído
um dos papéis de maior relevância nesta escabrosa “novela” e, para os efeitos
dos seus estilhaços sobre os telhados do MPLA. Porque, o que a importação
dessas nojentas cenas podem, desta vez, oferece de bandeja ao MPLA como
presente envenenado, não são mais do que explosivas narrativas dos pesadelos
que pairam sobre o poder em Angola e que ameaçam embaraçá-lo cada vez mais. É,
pois, preciso mostrar à sociedade, que a tendência para a gratificação e que o
recurso ao corta-mato no caminho do sucesso, tem custos e paga-se caro. Ora,
não se podendo, em muitos casos, defender o indefensável, em política, muitas
vezes, impõe-se o sacrifício de determinadas cabeças em nome da regeneração do
próprio sistema. E, não é, seguramente, por ser detentor de uma maioria
absoluta, que o MPLA deve continuar a almofadar no seu seio gente desprovida de
princípios, que se, não borra a escrita à entrada, invariavelmente, entorna o
caldo à saída... Um partido com a dimensão histórica do MPLA, notabilizada pela
militância nas suas fileiras de personalidades de insigne estatura moral, ética
e cultural como Mário Pinto de Andrade, António Jacinto, Agostinho Neto, Ilídio
Machado, Viriato da Cruz, Paulo Jorge, Lúcio Lara e outros distintos
nacionalistas, tem que se dar ao respeito para... ser respeitado. Por uma
questão de honra política. Por uma questão de decência ética. Por uma questão
de higiene intelectual. E de asseio social. Mas, estando agora em causa a imagem
de Angola - e não apenas de um partido - se já nem isso conseguimos preservar,
então o melhor, desta vez, é fecharmos a loja para obras e tirarmos todos umas “graciosas”...
Imagem: www.franciscanos.org.br
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