Na sua coluna no Expresso, João Duque deixou bem claro como vê a liberdade e a democracia neste País. A liberdade de expressão e de informação estão à venda. Vale a pena ler este naco de prosa: http://arrastao.org/2402629.html. Mas não quero aqui perder mais tempo com esta personagem. Nem a excelente caricatura da ideologia dominante que ela representa. Agora concentro-me noutro tema: as nossas relações económicas com Angola.
http://expresso.sapo.pt
Como se
sabe, Pedro Passos Coelho foi a Luanda para vender as nossas empresas
públicas. Deslocou-se a um dos mais ricos países africanos, que, sendo um
dos maiores exportadores de petróleo do Mundo, permanece em 148º lugar no
Índice de Desenvolvimento Humano e com dois terços da sua população a viver com
dois dólares por dia. Os crimes de sangue e económicos fazem parte da natureza
da cúpula mafiosa que domina os negócios em Angola (ler "Diamantes de
Sangue", de Rafael Marques). E mesmo quando a generalidade dos países
europeus vive momentos de dificuldade, a entrada de capitais angolanos é vista
com desconfiança, por ser um factor de insegurança. Até no mundo financeiro,
dominado pela falta de escrúpulos, a elite económica de Angola está para lá de
uma fronteira que só os mais "afoitos" se atrevem a transpor.
A entrada do
investimento angolano (ou seja, do investimento da família dos Santos e dos
seus generais e amigos) levanta um problema grave na economia portuguesa. As
grandes empresas angolanas não têm contas públicas e vivem no meio da
obscuridade legal e financeira. Onde o dinheiro do regime angolano entra
acaba sempre por surgir um escândalo legal de grandes proporções. Com estes
investidores, será impossível manter regras minimamente transparentes nas
nossas empresas.
A ideia de
ter as maiores empresas públicas, grande parte delas monopólios naturais,
entregues a grupos mafiosos, que não olham a meios para conseguir os seus fins,
só pode assustar qualquer pessoa séria. Sabemos que há corrupção na economia
portuguesa. Mas a "angolanização" da nossa economia levará a nossa
democracia para um outro patamar de degradação. Se a máfia angolana conseguir
aqui o que não tem conseguido noutros países europeus a pouca credibilidade que
resta às nossas maiores empresas desaparecerá. Há muito que nos devíamos
estar a preocupar, por exemplo, com o peso que já detêm na banca nacional.
A
participação do regime angolano, através de empresas que ninguém sabe a quem
realmente pertencem e que interesses defendem, na comunicação social
portuguesa, deveria causar uma enorme preocupação a jornalistas, empresários do
sector e cidadãos em geral. Trata-se de um investimento que não procura o lucro nem se comove com a
liberdade de imprensa. O regime angolano (económico e político, que é
coincidente) está a comprar poder. E, para a família dos Santos e seus amigos,
a conquista de poder não tem limites éticos. Quando Angola dominar a nossa
imprensa e televisão, não imagino como viverão os jornalistas e comentadores
portugueses que não aceitem a lógica de João Duque e queiram continuar a
trabalhar em liberdade e sem se submeter à autocensura para não desagradar a
amigos de ministros de José Eduardo dos Santos.
Este negócio
é mau para os dois lados. Para Portugal, porque corresponde à "gangsterização" da nossa
economia. E para Angola, porque significa um desvio de fundos de um País que
tem quase tudo por fazer na melhoria das condições de vida dos seus cidadãos.
Eles compram a nossa liberdade à custa da miséria do seu povo. Nós julgamos que
salvamos a nossa economia à custa da nossa liberdade e credibilidade.
Quando
ouvimos os nossos governantes falar, quase todos os dias, da importância de
defender a credibilidade das nossas instituições públicas e privadas, não deixa
de ser interessante vê-los a vender monopólios empresariais, a saldo, ao
submundo económico. Não se julgue que não está a ser notado. Muito mais do
que grande parte das nossas novelas políticas domésticas. O "New York
Times", por exemplo, já escreveu sobre o assunto.
Angola
parece ser uma galinha dos ovos de ouro. Mas, nesta promíscua relação com o
ditador de Luanda, estamos a vender a alma ao Diabo. E quando quisermos
corrigir o erro será tarde demais. Serão os seus amigos a ditar as regras. E as
suas regras são sinistras. Como sabe qualquer pessoa honesta que tenha tentado
fazer negócios em Angola.
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