O Portal Angola24horas apresenta na integral o
discurso do Presidente da Unita,Isaias Samakuva na Abertura da III Reunião da
Comissão Política.
Prezados companheiros da Direcção do Partido,
Minhas senhoras e meus senhores:
Realizamos esta reunião nas vésperas do 38º aniversário da nossa
independência. Por isso, vou enquadrar nesta minha introdução uma reflexão
sobre os 38 anos de independência.
Três movimentos lutaram de armas na mão pela independência de Angola.
Destes, apenas um retém na sua denominação a palavra “independência”. Os outros
dois utilizaram a palavra “libertação” para designar o seu objectivo: Movimento
Popular para a Libertação de Angola e Frente Nacional para a Libertação de
Angola.
Ao adoptar a denominação UNIÃO NACIONAL para a INDEPENDÊNCIA TOTAL DE
ANGOLA, a UNITA trouxe a atenção da comunidade política dois valores
fundamentais para a construção da Nação angolana: a independência e a unidade
nacional.
Desde a sua fundação, em 1966, a UNITA identificou que o MPLA era contra a
independência de Angola e contra a unidade dos angolanos. Hoje, até as crianças
já perceberam que o MPLA coloca o estrangeiro em primeiro lugar e o angolano em
último lugar. Já perceberam que o MPLA discrimina o ‘langa’, humilha os
‘sulanos’, divide o dinheiro entre os seus e não permite que pessoas de outros
Partidos prosperem economicamente e conquistem legitimamente o poder político.
Quer dizer, o MPLA é contra a igualdade dos angolanos. É contra a unidade
nacional.
Durante muitos anos, o MPLA deturpou a história e quis fazer crer aos
angolanos que ele era o único defensor destes dois valores: a independência
nacional e a unidade nacional.
Infelizmente, o conflito militar não permitiu que o povo avaliasse, antes
de 2002, quem é o real defensor desses valores. Hoje, 38 anos depois da
proclamação da independência, em 1975, qual é a situação real de Angola e dos
angolanos em 2013 em comparação com o ano de 1973 ou 1974, antes da independência?
Do ponto de vista político, Angola hoje está numa situação asfixiante tal
como em 1973: Havia em 1973, um Estado novo fundado numa ditadura velha. Hoje
também há um novo Salazar, um novo absolutismo, uma nova ditadura! Também não
havia democracia em 1973, como não há hoje democracia.
Na ditadura de Salazar, as pessoas eram discriminadas com base na cor da
pele. Na ditadura de Eduardo dos Santos, as pessoas são discriminadas com base
na cor política. “Quem é do MPLA, tem direito a assistência médica no Hospital
público. Quem for da UNITA e for ao Hospital, vai morrer”; diz sem pestanejar,
segundo os anciãos de uma comuna no Moxico, o Administrador comunal, Senhor
Manuel Tchimboma, que é o representante do Presidente José Eduardo dos Santos
na Comuna.
Além disso,
o povo diz que as pessoas estão a ser mortas nos Hospitais. As parturientes
estão a ser vítimas de cesarianas forçadas para reduzir o número de filhos que
as angolanas podem ter com o objectivo de se alterar a médio prazo a geografia
humana de Angola.
O regime também está a promover a exclusão entre os enfermeiros. Aqueles
cujas qualificações foram obtidas junto das estruturas administradas pelo MPLA,
obtêm as carteiras profissionais e são integrados nos serviços de saúde. Os
outros, cujas qualificações foram obtidas junto das estruturas administradas
pela UNITA, e que, nos termos dos Acordos de Paz, deviam igualmente obter as
suas carteiras profissionais e serem integrados no Serviço Nacional de Saúde,
estão a ser excluídos e atirados ao desemprego. Pior do que isso, estão a ser
presos e humilhados, enquanto o País importa profissionais estrangeiros para os
substituir.
Na ditadura colonial, havia um Partido-Estado, chamado União Nacional, o
Partido de Salazar, que defraudava as eleições e ganhava sempre com
percentagens pré-determinadas. Também hoje, há um Partido-Estado, chamado MPLA,
o Partido de José Eduardo dos Santos, que defrauda sempre as eleições e ganha
com percentagens pré-determinadas.
Na ditadura colonial, havia uma economia vibrante que promovia um
crescimento económico que não beneficiava os angolanos. As grandes exportações
de café, algodão e sisal sustentavam uma balança comercial positiva, mas à
custa de salários de miséria, trabalho forçado, racismo e outras injustiças laborais.
Hoje também, Angola tem novos latifundiários que usurparam as terras dos
autóctones e constituíram autênticos feudos em espaços de milhares de hectares
onde erigiram e equiparam grandes fazendas utilizando fundos desviados do
erário público. Nesses locais, os senhores feudais pagam aos angolanos salários
de miséria, que variam entre Kz. 4.000.00 e Kz. 8.000.00. Isto acontece em todo
o lado mas com epecial destaque nas provínciais do Kwanza Sul, Kuando Kubango,
Huila, Kwanza Norte, Bengo e Benguela.
Tal como em 1973, a maioria das empresas, angolanas ou estrangeiras, não
respeitam os trabalhadores angolanos. Mas não os respeitam, em parte, porque
sabem que o nosso Governo não nos respeita! Há crescimento económico, sim
senhor, mas à custa de quê?
À custa do trabalho forçado de chineses, vietnamitas e outros! À custa de
trabalhadores mal pagos. À custa de pilhagens e de compadrios, mas também,
verdade seja dita, à custa do trabalho honesto de muitos, incluindo milhares de
cidadãos portugueses!
O que nos preocupa é que os angolanos ainda não controlam a economia de
Angola. Não controlam as tecnologias nem os sitemas de produção, não controlam
os processos de transformação, não controlam as redes de abastecimento nem tão
pouco a gestão dos principais investimentos que produzem a riqueza nacional.
Ou seja, 38 anos depois de declarada a independência, os angolanos ainda
não são realmente independentes! Libertaram-se de um sistema político, a
ditadura, mas cairam num mesmo sistema político, a ditadura!
A ditadura de Eduardo dos Santos apenas tem cores diferentes: vermelho,
amarelo e preto.
Tal como em 1975, a estrutura económica de Angola está desiquilibrada. É
sustentada pelo exterior e está voltada para o exterior enquanto protege os
interesses da ditadura! Não serve os interesses da vasta maioria dos angolanos!
Quer dizer, 38 anos depois de declarada a independência, os angolanos estão
mais pobres do que em 1975. Mais pobres moralmente, mais pobres culturalmente e
mais pobres materialmente!
Quanto ao processo político de reconciliação nacional e de construção da
Nação que vimos adiando desde 1975, a situação degradou-se. Estamos piores em
2013 do que estávamos em 1991, quando assinamos os Acordos de Paz.
Esta não é Pátria sonhada por Viriato da Cruz, Hojy Ya Henda, Liceu Vieira
Dias, Johnny Pinocky Eduardo, José Ndele, Kafundanga, Deolinda Rodrigues e
outros heróis da independência de Angola.
Do ponto de vista das violações dos direitos humanos, Angola hoje está
prior do que antes da independência. O regime emprega métodos mais sinistros do
que a PIDE. Há assassinatos políticos, presos políticos, desaparecimento de
dissidentes, censura na comunicação social, torturas, excessos injustificados
de prisão preventiva e outras violações dos direitos humanos.
Acima de tudo isso, o regime do Presidente José Eduardo dos Santos
transformou o Estado numa entidade marginal, corruptora da sociedade, que viola
a sua própria Constituição e destrói a fibra moral e social da Nação.
Qual será o futuro deste nosso país se aqueles que se apresentam como
líderes da juventude, dirigentes políticos, afinal são chefes de quadrilhas,
criminosos internacionais e promotores da imoralidade pública?
Que Nação querenos construir quando dirigentes politicos são indiciados por
crimes, procurados pela Polícia internacional e o seu Partido nem sequer se
pronuncia?!
Para onde vai esta nossa Angola, se o seu Presidente fica indeferente ao
sofrimento do povo, insensível a prisão injustificada e prolongada de um menor
que o criticou e assume, pelo silêncio, ser o Chefe do Chefe de uma quadrilha?
Onde estão os nacionalistas do ‘glorioso MPLA’? Para onde vai esta nossa
Angola, camaradas?
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