quarta-feira, 1 de julho de 2009

Breve História do Terrorismo Bancário (26)


O “cada um por si”, que é a base ideológica do sistema capitalista e do sistema de classes sociais que ele engendra, fragmentou a sociedade e lançou pessoa contra pessoa, empresa contra empresa, etnia contra etnia, nação contra nação.

MARCOS ARRUDA

“O índice FIB é uma abordagem holística às necessidades humanas, porque sem atender às necessidades tanto materiais como espirituais das pessoas e da sociedade, não é possível tornar realidade uma ‘sociedade boa e decente’.” (Thinley, 2007: 3-12) Seu núcleo é, pois, o postulado de que o bem estar físico e vital (social e econômico), mental e espiritual devem ser desenvolvidos simultaneamente no mundo contemporâneo. O objetivo do FIB é criar a conceituação e a motivação para um caminho alternativo de desenvolvimento, que nutra o processo de contrução de um ser humano e sociedade plenamente desenvolvidos. Este caminho alternativo toma o FIB como referência para o planejamento e a realização do desenvolvimento econômico e tecnológico, portanto orientando-o para seu fim maior que é o desenvolvimento humano e social. O desafio do FIB é operacional mas, primeiro que tudo, conceitual, paradigmático, civilizacional. E está em surpreendente sincronia com a crise de paradigma civilizatório que a Humanidade vive neste início de século e de milênio.

O índice do Butão leva em conta indicadores que cobrem nove campos da vida familiar e social da população:
1. Padrão de vida – tem a ver com todas as necessidades materiais e a economia real
2. Boa governança – partilha do poder de decisões e de gestão da economia e do desenvolvimento; a relação Estado, economia social, economia privada
3. Educação
4. Saúde
5. Resiliência Ecológica – capacidade de um ecossistema de recuperar seu estado inicial depois que ações humanas o alteraram
6. Diversidade Cultural
7. Vitalidade Comunitária
8. Utilização equilibrada do tempo
9. Bem estar psicológico e espiritual.

Um dos princípios que guia a aplicação dos nove campos às políticas públicas é que qualquer sobrevalorização de um fator gera desequilíbrio e prejuízo para os outros. Ou seja, o desenvolvimento socioeconômico tem que ser harmônico, omnilateral e omnidimensional. Outro princípio é que a realização equânime de cada um dos nove campos não ocorre espontaneamente. É necessário um planejamento do desenvolvimento econômico e tecnológico, orientando a atividade econômica para a realização das condições que geram bem estar humano e felicidade. Finalmente, há que reconhecer que a economia centrada no lucro e na acumulação individual de riqueza material por meio da mais cruel competição e do corporativismo egocêntrico não propicia as condições para o desenvolvimento integral das pessoas e coletividades humanas, como prova o estado atual das sociedades que a praticam mundo afora. Ela precisa ceder lugar a uma economia centrada no indivíduo social, no ser humano - que é ao mesmo tempo pessoa e coletividade, feminino e masculino, cotidiano e histórico. A práxis socioeconômica compatível com o FIB está baseada em valores como cooperação, reciprocidade, responsabilidade, pluralidade e solidariedade.

Evidências eloquentes do fracasso do paradigma atual de desenvolvimento e progresso, do ponto de vista da felicidade humana, foram apresentadas por S. Andrews para os EUA: duas vezes mais carros nos últimos 40 anos; 21 vezes mais plásticos; 25 vezes mais viagens de avião; três vezes mais produtos e seu consumo entre 1950 e 2005. Nos EUA, ¼ da população sofre de depressão; há duas vezes mais divórcios naquele período; três vezes mais suicídios de adolescentes; quatro vezes mais crimes envolvendo violência, cinco vezes mais presidiários. Constata-se que um dos aspectos mais graves da crise social e humana dos EUA é a perda do sentido de comunidade. O “cada um por si”, que é a base ideológica do sistema capitalista e do sistema de classes sociais que ele engendra, fragmentou a sociedade e lançou pessoa contra pessoa, empresa contra empresa, etnia contra etnia, nação contra nação.

In Marcos Arruda. Economista e educador do PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (Rio de Janeiro), da Rede Jubileu Sul Brasil, co-animador de ALOE – Aliança por uma Economia Responsável, Plural e Solidária, e sócio do Instituto Transnacional (Amsterdam). Ladislau Dowbor

Imagem: http://ingridcerveira.blogspot.com/

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