sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Cavaleiro do Rei (37). Novela


«CONCLUSÃO

Luanda – Sul é um programa de desenvolvimento urbanístico que visa descongestionar o caso Urano da Província. Programa de novos bairros residências.

Luanda está hoje prensada por uma grande rede de musseques de balão: não houve, nestes anos todos. A passibilidade de acompanhar de uma forma a construção de moradias. O resultado é este: musseques de betão! Quando, noutras partes do mundo são Bairros de lata – chaparias, entabuados e outros matérias, facilmente remov´veis. Mas, se dizermos as contas, concluiremos que a construção clandestina, em betão, fica tão onerosa como se a obra surgisse em terrenos urbanizados a rigor. Com o programa Luanda – Sul vamos, pois, começar a fazer as casas de uma forma ordenada. Vamos meter na ordem a construção, isto é fundamental numa metrópole com 3 milhões de almas.

Ih! Ih! Ih! Que grandes mussequeiras. Ah! Não tenho nada que ver com isto. São assuntos do rei. Ele prefere estes futuros quadros à sua volta. Afinal para bem reinar, é necessário que ninguém tenha acesso à informação. Isso é perigoso. Abrem os olhos depois é o fim. Alvitrou Epok.

CAPÍTULO X
A FUNCIONÁRIA REAL

Tudo é uma simples exibição e uma abominável hipocrisia, de todos os partidos, em todas as épocas, com todos os governos; quando estão fora, lutam por entrar; quando dentro, lutam por não ser postos fora...
Daniel Defoe

Epok está sentado na cadeira do gabinete real. Uma funcionária do protocolo, muito bela, muito alta, muito magra, muito escura, com cabeleira postiça muito pintada com uma cor que ela inventou, óculos muito escuros, com as faces muito pintadas, os olhos, os lábios e as unhas dos pés, também tudo sobrecarregado, muito pintado, aproxima-se e proclama independente.
- Senhor cavaleiro regente Epok, o chefe das Cozinhas Reais apresenta-se. Devo embaraça-lo ou entrá-lo?
- Desculpe-me real senhorita, move-me uma pergunta.

Ela sentiu algo de inesperado. Talvez fosse pela farta cabeleira que na ausência do rei aproveitou para caprichar. O rei era muito crítico nesse aspecto. Gostava de ver as suas funcionárias com o que tinham, com o que nasceram, e nada de imitar costumes importados de outros reinos, especialmente o Ocidental. Pôs as mãos por baixo dos seus cabelos, levantou-os e afirmou:
- Pois não, podeis mover-me com real à vontade.
- Presumo que acabais de sair da real exposição de pintura.
- Ai é!? Seu presumido, acaso não gostais das minhas nobres pinturas?
- O reino já está muito escuro, demasiado encoberto, para quê escurecê-lo mais? Aclare-se devidamente, especialmente nas suas ideias. Na verdade evite confundir-se com as noites sem luar. Faça das noites dias claros, seja mais clara no seu comportamento.
- Estúpido imitador racista! Enquanto o rei estiver fora, vou-te fazer a vida muito negra. Ah!.. Filho da puta racista… vais ver... vou-te queixar no rei!
- Pronto! Não se pode falar nada, levam tudo para o racismo. Assim não vamos a lado nenhum. Não sou obrigado a gostar de tudo o que é escuro. Não sou o rei. Ele que vos ature, porra! Suas feiticeiras de merda! Diga no chefe cozinheiro real para aguardar. Ponha-se lá fora, que depois gritarei por si.

Apesar do ambiente climatizado Epok sentiu suores frios. Passou a mão na testa. Forçou o seu corpo para o fundo da cadeira, uma consola em madeira dourada Luís XIV. Depois considerou: porra! Esta merda do racismo, parece que não, mas existe com muita força, escondido, disfarçado, como as noites muito escuras, em que não se consegue ver quem é quem.

Imagem: Angola em fotos

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