segunda-feira, 13 de julho de 2009

História Universal (16). A fundação de Roma


Voltando a Canaã, o derrotado rei Amasias da Judeia foi vítima de um golpe de estado como o foi seu pai. Foi assassinado em 769 e sucedido pelo seu filho Ozías.

CARLOS IVORRA

Debaixo do seu reinado a Judeia seguiu subordinada a Israel, mas o rei não fez nada para modificar a situação. Pelo contrário centrou-se em recuperar economicamente o país e teve êxito. Reconstruiu as fortificações de Jerusalém, tomou algumas cidades-estado filisteias e reconstruiu o porto de Elat, nas proximidades do mar Vermelho, que teve certa importância nos tempos de Salomão. Com ele revitalizou notavelmente o comércio na Judeia.

Em 761 o Egipto fragmentou-se uma vez mais. Em Tebas instaurou-se a XXIII dinastia, enquanto no Baixo Egipto continuava reinando (formalmente) a XXII. Na realidade havia um terceiro centro de poder. Desde o desmoronamento do Império Novo, o Egipto perdeu o controlo da Núbia, que passou a ser governada por nativos, com capital em Napata. Sem dúvida, a Núbia assimilou completamente a cultura egípcia. Quando Sheshonk ocupou Tebas, alguns sacerdotes de Amon refugiaram-se em Napata, onde foram bem recebidos e formaram uma espécie de governo no exílio, que nestes momentos era tão forte ou mais que as duas partes no que se havia dividido o Egipto.

Em 760, um pastor da Judeia chamado Amós atreveu-se a penetrar no santuário israelita de Betel e falou em nome de Deus com umas posições modernas:
... Porque tenho sabido vossas muitas maldades e vossos escandalosos delitos; inimigos sois da justiça, cobiçosos de receber doações, opressores dos pobres nos tribunais. [...] Buscai o bem e não o mal, afim de que tenhais vida; e assim estará convosco o Senhor Deus dos exércitos, como dizeis que está. [...] Eu odeio e descarto as vossas festividades, não me é agradável o cheiro dos sacrifícios nas vossas reuniões, e quando vós me apresentais os vossos holocaustos e as vossas doações, não os aceitarei, nem olharei a minha vista até às gordas vítimas que me ofereceis em voto. [Amós V 12-22]
Em suma, Deus acusava os israelitas de respeitarem os rituais ao tempo que levavam uma vida corrupta, e por isso ameaçava-os com mil desgraças se não se arrependiam. O sacerdote de Betel cominou Amós a que voltasse à Judeia e assim o fez, mas foi a primeira voz entre outras muitas que se alçaram a partir de então antepondo a rectidão de costumes à prática dos rituais.

O ano 753 é, segundo a tradição, o ano em que se fundou uma cidade chamada Roma. A tradição é pura lenda: fala de um rei de Alba que usurpou o trono ao seu irmão, matou os filhos deste e obrigou a sua filha a fazer-se virgem vestal (algo parecido ao que hoje em dia é uma monja). Não obstante, a virgem concebeu dois filhos gémeos do deus Marte, Rómulo e Remo, que foram abandonados, criados primeiro por uma loba e logo por uns pastores e, quando foram adultos, restauraram o seu avô no trono e se dispuseram a fundar uma nova cidade. Discutiram sobre o lugar idóneo para isso, Rómulo elegeu o monte Palatino, e marcou com um arado os limites da cidade. Remo cruzou o sulco para indicar que não reconhecia a autoridade do seu irmão sobre o território, e então matou-o. Assim Rómulo fundou Roma e converteu-se no seu primeiro rei. Os colonos eram latinos, mas entre eles haviam escassas mulheres, assim que se combinaram para sequestrarem mulheres sabinas, o que ocasionou uma guerra. Invocando a causa de uma traição, os sabinos lograram entrar em Roma, mas as sabinas, que se tornaram fãs dos seus maridos, intercederam por eles, e assim a Roma primitiva resultou ser uma mistura de latinos e sabinos.

Que sucedeu na realidade? Por suposto é impossível dizer nada a ciência certa. A Roma primitiva estava localizada sobre o monte Palatino, junto ao Tiber, mas com o tempo estendeu-se até outras seis colinas vizinhas, sete no total. Sabe-se que o Palatino estava ocupado por cabanas de pastores desde ao menos no século X e que na festa tradicional da fundação as demais colinas tinham também habitantes. Provavelmente, Alba decidiu fundar una colónia fortificada no Palatino para conter os etruscos (Roma estava situada justo na fronteira com a Etrúria). Por algum motivo, Roma escapou ao controlo de Alba, provavelmente com a ajuda dos sabinos e, por que não, dos próprios etruscos. A actividade dos primeiros romanos foi rural. Os cidadãos estavam divididos em três tribos: tricios, ramnos e lucerios, que talvez se correspondam com três colectivos, um de latinos, outro de sabinos e outro de etruscos, que se uniram para formar Roma. Cada tribo dividia-se em dez cúrias, que por sua vez se formavam por várias famílias. Pouco se pode dizer de Roma nesta época. De facto, seria absurdo ocupar-se de uma cidade tão insignificante se não fosse porque séculos mais tarde iria dominar o mundo.

(Carlos Ivorra, é professor na Universidade de Valência, Espanha. Faculdade de Economia. Departamento de Matemáticas para a Economia e a Empresa.)
Traduzido do espanhol.

Imagem: http://members.fortunecity.com/entremundos1/armed_celts.jpg

Sem comentários: