segunda-feira, 13 de julho de 2009

O Cavaleiro do Rei (33). Novela


Estava Epok a gozar estes pensamentos, quando é interrompido por um mensageiro do Rei.
- Chefe, o rei clama pela sua presença.
- Diz-lhe que daqui a uma hora lá estarei… pelo menos daqui a quatro. O rei vai ter muito que esperar.
Epok imaginou que se considerava o súbdito mais importante... o vice-rei dos vice-reis. Sabia que o rei dependia muito de si. Era o único do reino que tinha intimidade com ele. Muito mais com a rainha. Agora sentia-se proscrito. O rei proibira-o de qualquer intimidade com a bela rainha. Epok não podia, nem devia, esconder a sua insatisfação. Sentia-se demasiado leal, seria por isso?
- Chefe, chegou outro mensageiro do rei.
- Diz-lhe que demorarei mais uma hora.
Ele não compra rádios para comunicarmos. Receia que alguém escute as conversas. Arquitecta constantemente estratagemas de segurança. Envia a guarda para uma rua, aparece noutra. Simula que vai sair, não sai. Diz que já saiu, mas está lá dentro. Põe toda a guarda nas ruas, a escumalha aguarda-o, não aparece. Vai tranquilamente para o seu jacto particular. Desaparece, depois informa que já chegou ao destino tal. Este reino está encoberto. Trabalhar assim é uma merda.

Epok comparece na presença do rei. Este anuncia-lhe:
- Cavaleiro Epok, tive uma excelente ideia. Vou mandar construir uma grande catedral de estilo gótico. Chamar-se-á catedral do santo rei. Será bem dimensionada, agigantada para acolher todas as religiões, incluindo a nossa tradicional feitiçaria. Os locais de culto serão protegidos com grossas paredes de concreto, para evitar os ataques à bomba, e os confrontos sangrentos que por certo virão. Trata de encomendar as estátuas que serão feitas de oiro. Os fiéis pagarão para acesso uma taxa monetária. Já vistes a mina de oiro que isso nos vai dar?
- É de facto mais uma excelente ideia, majestade. Só me preocupa onde vamos arranjar uma imagem, para representar a nossa feitiçaria.
- Qualquer coisa serve. Uma cobra, um jacaré, um osso. Os parvalhões não vão notar nada.
- Meu rei, temos no reino uma empresa que cobra por estátua, mais ou menos cem mil dolo. Para não ficarem desempregados, vou pedir-lhes para as construírem.
- Não, nada disso. Manda construir naqueles nossos amigos do estrangeiro. Cada uma custará um milhão de dólares. E fazem-nos esse preço, porque somos amigos.
- Muito bem magnânimo.
- Piranhar e elementar meu caro Epok… tenho aqui uns decretos reais, para publicitares. Vou com a rainha gozar umas merecidas férias no reino do Brasil. Infelizmente no meu reino não há condições para tal. Creio que nunca haverá. Entretanto fique de olho na princesa e nos republicanos.
- Assim será meu iluminado.

CAPÍTULO VIII
OS DECRETOS

É nacional, irracional, é neocolonizado, eu gosto!

Epok viu os decretos que seriam publicados.

DECRETO REAL
EXONERAÇÕES

No uso das minhas Reais faculdades, por minha conveniência, e ao abrigo das únicas competências que me atribuo, exonero os seguintes Marqueses:
Marquês do Desemprego, Marquês dos Vice-reinos, Marquês das Terras e Marquês dos Peixes.

Cumpra-se e dê-se à voz dos arautos reais, do reino e vice-reinos.
Feito para sempre neste reino.
O Rei.

DECRETO REAL
NOMEAÇÕES E EXONERAÇÕES

No uso das minhas Reais faculdades, por minha conveniência, e ao abrigo das únicas competências que me atribuo, exonero e nomeio:
Marquês das Sobras da Guerra, para Marquês do Desemprego. Este ocupa-se das Sobras da Guerra. Marquês Sem Ciência, para Marquês dos Vice-reinos. Este ocupa-se dos Sem Ciência. Marquês das Cantinas, para Marquês das Terras. Este ocupa-se das Cantinas. Marquês dos Pasquins, para Marquês dos Peixes. Este ocupa-se dos Pasquins.

Imagem: MORRO DA MAIANGA. Deportações à Estaline para os campos da morte lenta de Luanda.

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