quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Epopeia das Trevas (31)


- São relíquias autênticas… achados arqueológicos?
- Santas relíquias, objectos dos nossos milagres. O Fundamento inventivo a descoberto.
- Bispo, estão abençoadas?
- Abençoamos tudo. Esse relicário foi abençoado por mim.
Pegou num frasco de azeite e explicou o seu mistério.
- Com o azeite ensinamos: foi ele que ungiu Jesus, veio da Terra Santa. Poupamos despesas juntando-lhe óleo. A água buscamo-la no rio mais próximo.
- Como conseguem atrair crentes que produzem vozearia medonha, como se louvassem as trombetas do Apocalipse?
- Estrondamos a praça porque eles perderam os ouvidos. Estão surdos devido às pândegas das noites perdidas. Os vizinhos, os poucos que têm audição, têm razão que não os deixamos dormir.
- E quando eles protestam?
- Quando nos julgam, anunciamos-lhes a excomunhão. Reforçamos que servem o Demo. É muito importante manter a superstição nesta gentalha. São como carneiros, dominam-se facilmente… como a maria-vai-com-as-outras. Digo-lhes: alegrem-se, sejam barulhentos porque ganharão a liberdade de consciência.
- E quando no culto estão doentes com dores de cabeça, sistema nervoso arrasado, a rebentar de estresse?
- Acreditam piamente nas nossas palavras. São altos cúmulos da crendice, parvoíce… idiotice.
- Negócio de vento em popa, Bispo.
- Prefiro não musicar esse salmo, como amizade segredo-lhe que facturamos só em dízimos, quatro mil vezes cem, fora as doações.
- Acumulação mundial, episcopal.
- Veni, Vidi, Vici.
- O manancial voa para Olísipo.
- Para o Éden! Não confio nos Politburo. Há o perigo das eleições com muita fraudulência escondida. Receio que estejamos a voltar aos velhos tempos dos combates monótonos que os Gregos iniciaram na Baía de Aulis.
- E as curas milagrosas das dores de cabeça, da barriga, dos dentes, infertilidade, arranjar emprego, esposa, esposo…
- Fácil, é preciso ter fé, não há mal que sempre dure.
- A fé… curar dor de dentes é milagre?
- É sim senhor! Acabem com os doces. Passam o tempo a dentar chocolate, ordenamos que parem, a dor passa, confessam que foi um milagre.
- E os estouros da cabeça?
- Bendizemos para não ouvirem música muito alta, excepto na igreja. A conspiração internacional barulhenta, aterradora da música, atrofia o cérebro, ele deixa de funcionar, surge a cura.
- E as dores de barriga?
- É tormentoso convencê-los que parem de comer funje durante uns dias. Conseguido, cura garantida.
- E a badalada infertilidade?
- O machão rejeita convicto que ela é culpada. A querida, atordoada com lamurias acredita que Deus a abandonou. O macho em casa relincha que a põe fora de casa se a barriga não inchar, que facilmente a troca por outra. Dialogamos, enviamos o marido para o nosso posto médico… já está! As enjeitadas fanatizam-se, passam palavra que foi um milagre fora de série.
- E o emprego? Esse é um grande milagre!
- Aliciamos um crente empresário, o emprego é garantido. A crendice firma que Jesus fez um super milagre.
- Caçar esposa, esposo…
- Enfiam-se para aí, fazem dribles, uns passes, resolvem isso entre eles. Elas encontram marido, eles encontram mulher.
- Igreja Veni, muito trepadeira, milagreira.

Imagem: http://alemmarpeixevoador.blogspot.com/

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