quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Cavaleiro do Rei (40). Novela


O homem entrou. Epok fingiu que não estava ninguém. Não se pode dar importância a esta gente. Ao mínimo sorriso tornam-se abusadores. Notou a sua imensa barriga, aliás como todos, incluindo elas que pareciam grávidas. As cozinhas reais eram uma bênção do rei. Todas e todos imensamente gordos. Aleluia meu rei. Epok afirmou de modo brutal:
- Diz lá… tenho mais que fazer que aturar-te!
- Chefe… os géneros acabaram-se!
Epok sentiu-se na cadeira de um avião de combate, que depois de perder o controlo ejecta-se.
- O QUÊ???
- É verdade chefe.
- Acompanhei a chegada dos géneros e não vi nada de anormal.
- Chefe… o problema é a produção nacional… tudo aldrabado… tudo pirateado.
- Quero um relatório.
- Chefe trago-o comigo... vinte quilos de tomate, de batata, arroz, açúcar, leite, couves e outras coisas.
- Vinte quilos de tudo estragado. Só vocês é que não se estragam. Bantus, cafres. Nenhum macaco se estragou?
- Infelizmente não servimos isso. Apesar que adoro… posso retirar-me?
- Sim!.. Para acabar com esta merda, o melhor é contratar guardas mercenários e pessoal para as cozinhas, pagando-lhes dez mil dolos por mês. Vocês não servem para nada. Prometo-vos que hei-de descobrir os roubos que estão a fazer! Retira-te!

Depois do cozinheiro sair, Epok aguardou alguns momentos. Virou a sua atenção para a porta. Chamou:
- Ó Pinturas!
- Sim! Cavaleiro sem figura!
- Olha, não me fales mais assim. Senão vais para o olho da rua.
- Tenta só, vá. O rei gosta muito de mim, não sabes?
- Não quero ser incomodado por ninguém. Tenho que estudar os dossiers que o rei me deixou, vai-te.

Antes de fechar a porta por completo, ela deixou escapar de modo que Epok ouvisse.
- Desgraçado, mal-educado, racista!
- Porra… não sei como é que o rei consegue aturá-las. Desejo que ele não se demore.

Haviam vários dossiers com capas de várias cores. Epok pegou no único de cor vermelha. Abriu-o e viu uma folha de papel que o sobressaltou.
ESTÁ PROIBIDO DE TOMAR QUALQUER DECISÃO SOBRE O LÍQUIDO NEGRO. VÁ PARA O ASSUNTO A SEGUR. Pensou: vou ocupar essa que está aí na porta. Quero estar à vontade. Sei muito bem que são hábeis espias, mais perigosas que as do Kadafi. Chamou:
- Ó pinturas!
- Sim, diga grande chefe da cor de permeio.
- Cale a boca sua burra. Vá nas cozinhas e elabore um relatório completo do que se passou nas últimas vinte e quatro horas.
- Incluindo com quem elas dormiram durante a noite?
- Sim, e com quem tu dormiste durante a noite.
- Oiça Epok, ou lá como se chama. Tira o cavalo da chuva que daqui não levas nada. Isto é propriedade real, percebes?

Epok certificou-se se a espia saíra do local. Abriu a porta, ficou satisfeito. Ninguém à vista. Fechou-a e trancou-a por dentro. Insistiu no conforto do seu assento. Respirou fundo. Olhou para o próximo documento muito atentamente. O que lia não era para menos. Será que o rei se tinha distraído? Ou seria uma armadilha? Para depois ter um pretexto e enviá-lo como embaixador cientifico algures numa estação dos gelos da Antártida? Os documentos estão aqui comigo, devo seguir em frente.

Imagem: http://alemmarpeixevoador.blogspot.com/

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