terça-feira, 7 de julho de 2009

A Epopeia das Trevas (22)


- Hum! Esses gajos estão a petrolear de mais.
- É mesmo, vamos pois então chamar os Greguejados, para lhes queimarem com o Fogo deles.
- Os Greguejados sem aquele parecido com o Aquiles, não furam nada.
- Esse é um grande sacana.
- Porquê mano?!
- Caçou a virgem Briseida, está com ela há mais de mil noites. Dizem que está indeciso, deseja que ela permaneça virgem.
- Ah, afinal ele é desses?!
- Mas que herói, que guerreiro é esse, que não consegue tirar a virgindade a uma mulher?
- Os nossos penetram, arrebentam bem, são muito vaginais. Muito soldados de rebentos.
As fardas da lei arribaram, impuseram vários balázios para o ar. O ajuntamento quitou, relaxou, debandou.


Era um bairro que vivia na calmaria nostálgica. De manhãzinha, as mamãs armavam-se com vassouras e cuspiam o lixo anterior. O ramerrame zodiacal marchava matinal. Já havia montes de lixo despertados, que desterravam nos descampados. Não havia recolha, pariu montanha. Com ingénua sacanice as crianças perseveravam, logravam as saias das mães. Elas rebaixavam-se até aos chinelos, lembravam-se da facilidade vassoural e bruxuleavam vassouradas nos infantis costados. A criançada resfolegava.
- Mamã, porra, tenho fome!
- Deixa-me acabar o lixo. Vou encestar rebuçados, vender alguns, depois compro-te pão.
- Mamã, se não me deres comida, espojo-me na lixeira.
- Tenta só, vá, vais ver a surra. Vou-te amassar os ossos.

Alheio às diatribes o sol admoestava o solo, crestava os rostos. Uma esquadrilha ovi – objecto voador identificado – de moscas-varejeiras verdejantes fazem reconhecimento, defendem os seus interesses. Objectivos abundam, tantos que voam indecisas, não sabendo onde pastar. Em exposição nos pousos fervilhavam rebuçados, bolachas, cigarros, pastilhas elásticas, refrigerantes, cerveja fumegante, a estalar. Enfim, um rosário mercantil. As mamãs requeriam ao direito divino uma bonança na borrasca para facilitar as vendas. Senão, ocorreria tempestade em casa. O basto infantário caseiro, a desoras desentende porque não lhe dão comida.

Algumas mamãs macilentas do espólio gerado ancoravam silenciosamente os tenros corpos em qualquer instituição de caridade. O dinheiro tão parco não alcançava as despesas escolares. Os livros careiros boicotavam o olhar das letras. Os reinóis poliram insustentável acordo literário com os neo-alfandegários. O tributo advindo, primaz, alvissarava cofres ocultos, incultos. Com preços desvelados, desnivelados, poucos se arriscavam na aventura da leitura. Alegando que os exportadores, do piorio fenício, eram grandes sacanas. Que viajavam de muito longe, sujeitos a constantes ataques de piratas. E que as suas mercadorias leitorais não tinham garantias dos seguradores, de leitores. E mais: que não tinham culpa nos derrogatórios notariais que o reino Jingola se situasse nos confins roteirais. Os preços subiam num escarpar precipício. Galavam com náutica:
- É borda-falsa, barlavento, sempre ao lado da brisa acolhedora.
Os Jingola pegavam, aceitavam piramidais comissões. Associavam-se às empresas fenícias.
As crianças enganavam a escola. Alistavam-se nos exércitos Órfãos. Não faltava mão-de-obra para a soldadesca dos espoliados das terras e das habitações que aumentavam os exércitos dos antes lutadores, defensores do reino da FAMÍLIA e agora abandonados, degredados, expatriados.

Imagem: Angola em fotos

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