“Somos um povo especial!” (carta de uma
angolana africana)
“Angola, meus Amigos, é de todos os Angolanos (negros, mestiços e brancos). Ninguém é dono de país nenhum e muito menos da sua felicidade, por isso não entregue a sua alegria, a sua paz, a sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente de ninguém! Somos livres e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. A razão de ser da sua vida, é você mesmo. A limpeza do lixo que ficou para trás, para todos os efeitos, não temos mais marcas físicas mas outro lixo muito mais extenso e perigoso ficará para trás, o nosso lixo! O lixo dos sentimentos negativos, ressentimentos e mágoas que respondemos ao ataque com ataque, seja ele com a palavra oral ou escrita e, assim, contribuímos para aumentar o problema em vez de atenuá-lo ou mesmo solucioná-lo. Assim, contribuímos efetivamente para realizar o que tememos. Em suma, nas palavras do ditado popular, o feitiço volta-se contra o feiticeiro. Somos o “povo especial” escolhido do Sr. Engenheiro José Eduardo dos Santos. E como povo especial escolhido por ele, não temos água nem luz na cidade. Temos asfalto cada dia mais esburacado. Os que, de entre nós, vivem na periferia, não têm nada. Nem asfalto! Só miséria, lixo, mosquitos, águas estagnadas. Parasitas. Hospitais?!! Nem pensar. O povo especial não precisa. Não adoece. Morre apenas sem saber porquê. E quando se inaugura um hospital bonito e ficamos com a esperança de que as coisas vão melhorar, mudar minimamente, descobre-se que as máquinas são chinesas, com manuais chineses, sem tradução, e que ninguém sabe operá-las… Estas são opções especiais, para um povo especial. Educação?!! O povo especial não precisa. Cospe-se na rua (e agora com os chineses, temos que ter cuidado para não caminharmos sobre escombros escarrados de fresco…); vandalizam-se costumes, ignoram-se tradições. Escolas para quê? E para ensinar o quê? O Sr. Engenheiro é um herói, porque fugiu ali algures da marginal, acompanhado de outros tantos magníficos?! Que a Deolinda Rodrigues morreu num dia fictício que ninguém sabe qual, mas nada os impediu de transformar um dia qualquer em feriado nacional!? O embuste da história recente de Angola, é tão completo e manipulado que até mesmo eles parecem acreditar nas mentiras que inventaram. Se incomodamos o Sr. Engenheiro de qualquer forma, sai a guarda pretoriana dele e nós ficamos quietos a vê-los barrar ruas, anarquicamente, sem nos deixar alternativas para chegarmos a casa ou aos empregos. O povo especial nem precisa ir trabalhar, se resolvem fechar as ruas. Se sairmos para almoçarmos e eles bloqueiam as ruas sem qualquer explicação, só temos uma hipótese: como povo especial, que somos, não precisamos de comer, dá-se meia volta de barriga vazia e…volta-se para o emprego. E isto quando não ficamos horas e horas parados, à espera que o Sr. Engenheiro e sua comitiva recolham aos seus luxuosos lares e nos deixem, finalmente, circular. Entramos em casa às escuras e saímos às escuras. Tomamos banho de caneca. Sim!, bem à moda do velho e antigo regime do MPLA-PT do século passado. Luanda, que ainda resiste a tantos maus-tratos e insiste em conservar os vestígios da sua antiga beleza, agora é violentada pelos chineses. Sodomizada, sistematicamente, dia e noite. Está exaurida; de rastos, de cócoras diante dos novos “amigos” do Sr. Engenheiro. Eles dão-se, inclusive, ao luxo de erguerem dois a três restaurantes chineses numa mesma rua. A ilha do Cabo, tem mais restaurantes chineses que qualquer outra rua de qualquer outra cidade ocidental ou africana: CINCO!! A China Town instalada em Luanda! As inscrições que colocam nos tapumes das obras em construção, admirem-se, estão escritas na língua deles. Eles são os “novos senhores”. Os amigos do Sr. Engenheiro! A par do Sr. Falcone…a este, foi-lhe oferecido um cargo e passaporte diplomático. Aos outros, que andam aos “bandos”, é-lhes oferecida carne fresca das nossas meninas. Impunemente. Alegremente. Com o olhar benevolente dos cs de fato e gravata. Lá fora, no mundo civilizado, sem povos especiais, caçam os pedófilos. Aqui, em Angola, criam e estimulam pedófilos. Acham graça. Qualidade de vida é coisa que o povo especial nem sabe o que é! Nem qualidade, nem quantidade de vida, uma vez que morremos cedo assim que fazemos 40 anos. Se vivermos mais um pouco, ficamos a dever anos à cova, pois não nos é permitida essa rebeldia. E quem dura mais tempo, é castigado: ou tem parentes que cuidem ou vai para a rua pedir esmola! Importam-se carros e mais carros. De luxo! Esta é a imagem de marca deles: carros de luxo em estradas descartáveis, esburacadas. AH!!...E telemóveis!! Qualquer Prado ou Hummer tem que levar ao volante um elemento com telemóvel. Lá fora, no mundo civilizado, sem povos especiais, é proibido o uso do telemóvel enquanto se conduz. Aqui, é sinal de “status”, de vaidade balofa!! Pobre povo especial! Sem transportes, sem escolas, sem hospitais. À mercê dos “Candongueiros”, dos “dirigentes” e dos remédios que não existem. Sem perspectivas de futuro. Os nossos “Amanhãs”, já amanhecem a gemer: de fome, de miséria, de subnutrição, de ignorância, de analfabetismo, de corrupção, de incompetência, de doenças antes erradicadas, de ira contida, de revolta recalcada. O GRITO está latente. Deixem-nos sair: BASTA!!!!
Solange – Angolana – Residente em Angola.
Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra”!
“Angola, meus Amigos, é de todos os Angolanos (negros, mestiços e brancos). Ninguém é dono de país nenhum e muito menos da sua felicidade, por isso não entregue a sua alegria, a sua paz, a sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente de ninguém! Somos livres e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja. A razão de ser da sua vida, é você mesmo. A limpeza do lixo que ficou para trás, para todos os efeitos, não temos mais marcas físicas mas outro lixo muito mais extenso e perigoso ficará para trás, o nosso lixo! O lixo dos sentimentos negativos, ressentimentos e mágoas que respondemos ao ataque com ataque, seja ele com a palavra oral ou escrita e, assim, contribuímos para aumentar o problema em vez de atenuá-lo ou mesmo solucioná-lo. Assim, contribuímos efetivamente para realizar o que tememos. Em suma, nas palavras do ditado popular, o feitiço volta-se contra o feiticeiro. Somos o “povo especial” escolhido do Sr. Engenheiro José Eduardo dos Santos. E como povo especial escolhido por ele, não temos água nem luz na cidade. Temos asfalto cada dia mais esburacado. Os que, de entre nós, vivem na periferia, não têm nada. Nem asfalto! Só miséria, lixo, mosquitos, águas estagnadas. Parasitas. Hospitais?!! Nem pensar. O povo especial não precisa. Não adoece. Morre apenas sem saber porquê. E quando se inaugura um hospital bonito e ficamos com a esperança de que as coisas vão melhorar, mudar minimamente, descobre-se que as máquinas são chinesas, com manuais chineses, sem tradução, e que ninguém sabe operá-las… Estas são opções especiais, para um povo especial. Educação?!! O povo especial não precisa. Cospe-se na rua (e agora com os chineses, temos que ter cuidado para não caminharmos sobre escombros escarrados de fresco…); vandalizam-se costumes, ignoram-se tradições. Escolas para quê? E para ensinar o quê? O Sr. Engenheiro é um herói, porque fugiu ali algures da marginal, acompanhado de outros tantos magníficos?! Que a Deolinda Rodrigues morreu num dia fictício que ninguém sabe qual, mas nada os impediu de transformar um dia qualquer em feriado nacional!? O embuste da história recente de Angola, é tão completo e manipulado que até mesmo eles parecem acreditar nas mentiras que inventaram. Se incomodamos o Sr. Engenheiro de qualquer forma, sai a guarda pretoriana dele e nós ficamos quietos a vê-los barrar ruas, anarquicamente, sem nos deixar alternativas para chegarmos a casa ou aos empregos. O povo especial nem precisa ir trabalhar, se resolvem fechar as ruas. Se sairmos para almoçarmos e eles bloqueiam as ruas sem qualquer explicação, só temos uma hipótese: como povo especial, que somos, não precisamos de comer, dá-se meia volta de barriga vazia e…volta-se para o emprego. E isto quando não ficamos horas e horas parados, à espera que o Sr. Engenheiro e sua comitiva recolham aos seus luxuosos lares e nos deixem, finalmente, circular. Entramos em casa às escuras e saímos às escuras. Tomamos banho de caneca. Sim!, bem à moda do velho e antigo regime do MPLA-PT do século passado. Luanda, que ainda resiste a tantos maus-tratos e insiste em conservar os vestígios da sua antiga beleza, agora é violentada pelos chineses. Sodomizada, sistematicamente, dia e noite. Está exaurida; de rastos, de cócoras diante dos novos “amigos” do Sr. Engenheiro. Eles dão-se, inclusive, ao luxo de erguerem dois a três restaurantes chineses numa mesma rua. A ilha do Cabo, tem mais restaurantes chineses que qualquer outra rua de qualquer outra cidade ocidental ou africana: CINCO!! A China Town instalada em Luanda! As inscrições que colocam nos tapumes das obras em construção, admirem-se, estão escritas na língua deles. Eles são os “novos senhores”. Os amigos do Sr. Engenheiro! A par do Sr. Falcone…a este, foi-lhe oferecido um cargo e passaporte diplomático. Aos outros, que andam aos “bandos”, é-lhes oferecida carne fresca das nossas meninas. Impunemente. Alegremente. Com o olhar benevolente dos cs de fato e gravata. Lá fora, no mundo civilizado, sem povos especiais, caçam os pedófilos. Aqui, em Angola, criam e estimulam pedófilos. Acham graça. Qualidade de vida é coisa que o povo especial nem sabe o que é! Nem qualidade, nem quantidade de vida, uma vez que morremos cedo assim que fazemos 40 anos. Se vivermos mais um pouco, ficamos a dever anos à cova, pois não nos é permitida essa rebeldia. E quem dura mais tempo, é castigado: ou tem parentes que cuidem ou vai para a rua pedir esmola! Importam-se carros e mais carros. De luxo! Esta é a imagem de marca deles: carros de luxo em estradas descartáveis, esburacadas. AH!!...E telemóveis!! Qualquer Prado ou Hummer tem que levar ao volante um elemento com telemóvel. Lá fora, no mundo civilizado, sem povos especiais, é proibido o uso do telemóvel enquanto se conduz. Aqui, é sinal de “status”, de vaidade balofa!! Pobre povo especial! Sem transportes, sem escolas, sem hospitais. À mercê dos “Candongueiros”, dos “dirigentes” e dos remédios que não existem. Sem perspectivas de futuro. Os nossos “Amanhãs”, já amanhecem a gemer: de fome, de miséria, de subnutrição, de ignorância, de analfabetismo, de corrupção, de incompetência, de doenças antes erradicadas, de ira contida, de revolta recalcada. O GRITO está latente. Deixem-nos sair: BASTA!!!!
Solange – Angolana – Residente em Angola.
Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: nem ele me persegue, nem eu fujo dele, um dia a gente se encontra”!
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